quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

O meu amor é muito dramático.
Leio o que escrevi ontem e penso
como estive embebido por lamento
e orgulho

mas o que estava em jogo? o corpo dela...
não consigo aceitar que ela use o corpo dela.
preciso aceitar que ela não é minha propriedade.
só isso...ela ganha, e eu também ganho...
me torno um homem e uma pessoa melhor.
envolvidos nos caminhares do destino.
e ela uma mulher plena.

mas

uma sensibilidade e intimidade
perder embora os dois irão
porque vai ter que colocar camisinha no mijão.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

É muito bom estar vivo e sentir as pessoas.
Acordar motivado a me agradar e aproveitar o dia
Fazer o melhor para mim, e não desistir.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Na Avenida Paulista dia do comício

Na avenida paulista. Ele já havia subido a Rebouças pedalando e esperava no cruzamento com a frei caneca seu camarada chegar. Era dia de manifestação e o fluxo de pedestres estampava vermelho e preto na calçada e nas bandeiras. Ao seu lado o homem de barba branca curta e camisa social barata falava a uma japonesa com aparência de funcionária pública sobre "como os interesses capitalistas estão nos prejudicando". Ela ouvia com ambas as mãos no bolso". As nuvens densas estacionadas no céu cinza aniquilavam toda a esperança de paulistana de se ver um pôr-do-sol. "Que se dane", ele pensou. "Se o céu estivesse claro e e ensolarado não ia dar para ver nada porque os prédios já cobrem tudo mesmo..." Uma garoa tênue caía do alto como cuspes de algodão.  

-Já que a gente precisa trabalhar para sobreviver...o justo seria um trabalho que dignificasse o homem e construísse um mundo melhor.... - continuou militante sul-americano.

O verde do semáforo abriu e e ela passou em sua frente com uma camiseta preta do Led Zeppelin presa em laço com o umbigo ficasse à mostra. O shorts jeans claro caía bem mas não fazia dela uma gostosa. Por sua frente ela passou séria e decididamente, sem olhar para os lados. Levava o guarda-chuva preto à mão como quem se agarra a uma tábua de salvação. E sumiu por atrás da banca de jornal.

Ele a quis seguir. Contornou o grupo de mulheres negras de camiseta roxa, quase se chocou com uma criança que puxava o dedo do pai e apontava com a outra mão a barraca de sorvetes, pulou com entusiasmo o skate que vinha em sua direção escorrendo pela calçada de concreto lisa. Chegou de mansinho ao lado da rockeirinha, encadeou seus passos no ritmo dos dela e disse sorrindo:

- Oi, tudo bem? Fiquei muito atraído pela sua aparência. Te achei muito bonita. Meu nome é Danilo. Está com pressa? Tome um café comigo, por favor.

E foram. 

Ele lhe ofereceu companhia e uma conversa amigável. Ela concedeu que ele pudesse a ver de perto durante os minutos que conversavam lá dentro. Ela fazia cursinho, queria entrar na faculdade pública, morava no Paraíso da Linha Verde. Tomava café e bebia álcool. Não sabia o que era uma brisa de maconha, e nem tinha muita curiosidade também. Mas também ele conseguiria passar muito bem sem estas substância, se tivesse na barriga aquelas borboletas sempre voando. Disse a ela que estudava e estagiava. O cabelo dele, raspado e curto, indicava que "não tinha tempo para se preocupar com coisas como o "estilo". Estava mais preocupado com a durabilidade e conforto de suas roupas, e não em ostentar logotipos. 

Falou, e falou... falou de como Led Zeppelin em sua opinião tinha uma pegada muito sensual, e que os gemidos de Robert Plant eram e epítome da voz branca masculina no blues. Ah! Como esse bixano poderia ficar a tarde inteira conversando rock and roll quando se sentia à vontade... Mas entre os heróis da guitarra elétrica ele preferia Jeff Beck a Jimmy Page, e ela disse:

- Não conheço Jeff Beck.

- Tenho um CD em casa... poso te emprestar para a gente ouvir juntos. Você vai gostar, ele manipula muito o som com vários pedais de efeito. 

Ela havia entendido a mensagem e gostado da ideia. Gostou da ousadia do rapaz, e embora estivesse lisonjeada e de certa forma encabulada, conteve a inibição e falou em tom de repressão:

- Você é muito afoito... Olha só, já tem 45 minutos que estamos conversando aqui, meus amigos já estão para chegar. Vamos nos encontrar na estação de metro...

Mas ele logo trouxe o assunto de volta para o campo que ela também poderia participar:

- Você é muito bonita mesmo. Quando passou por mim, tão rápida e concentrada, fiquei tão intimidado quanto atraído. Mas eu queria te ver de perto, e conversar com você. Vejo agora como você é também interessante, pois conversamos sobre assuntos em comum. 

E com a mão de unhas aparadas e limpas tocou o queixo dela, e ela olhou para o lado em timidez, mas não afastou o rosto nem um centímetro. Ele comentou algo sobre "pele branca" e "olhos puxados" e arriscou um selinho.

Na mente dele já estava tudo encaminhado: adicionaria ela no WhatsApp, marcaria um encontro para ver alguma exposição gratuita e no final do dia sentariam numa pracinha e se conheceriam mais intimamente até ela pegar o metro de volta para casa. Ele daria um brinco para ela dizendo "achei esse brinco a sua cara".  Na semana seguinte ele receberia pelo celular fotos dela usando o brinco nas aula de Biologia. " Sua nuca parece tão cheirosa e esse brinco azul combina com seu tom de pele", ele diria. Eles sentiriam vontade de se encontrar mas suportariam com ansiedade até o fim de semana. Algumas semanas depois disso ela o convidaria para ir no apartamento onde morava com os pais. Numa quinta-feira de temperatura branda e céu cinzento já ao meio dia ela sairia da aula e não iria no Centro Cultural estudar, ia se encontrar como ele no metro e de mãos dadas andariam a calçada até chegar na portaria do prédio, onde subiriam ansiosos até o sétimo andar. No elevador mesmo eles se beijariam intensamente. 

Quarto íntimo ela quente cortina ao vento paredes claras ursinho de pelúcia perfume ela muito doce e molhada sensível e delicada clímax deitam-se ela agarrada nos braços dele ainda rígido cabeça no travesseiro e teto azul.

- Você tem que ir embora antes das 18h, meus pais vão chegar.
- Sem problemas - disse ele, malandro. Eu sumo sem deixar rastros, como se nada tivesse acontecido.

Ele agora estava aprendendo as capacidades da comunicação, sendo uma pessoa sociável mesmo, dizendo claro o suficiente para as pessoas entenderem a mensagem, mas selecionando as palavras para não parecer insensível. Estava no caminho de se tornar um forte persuasor.

Tudo isso estava pelos pensamentos dele enquanto ela falava contava sobre suas férias em Sorocaba... De um mal súbito ele pensou também em quanto tempo não demoraria para ele se sentir farto dos papos dela. Sim, ainda iria achá-la encantadora, mas ela ia começar a exigir mais do que ele poderia dar. E ela o laçaria e o enforcaria: ia querer mudá-lo. A magia oculta feminina que atrai e e demanda devoção, assim como uma rosa precisa ser regada todo dia para desabrochar. Ele pensou em como a mulher é tão conectada à terra, e recebe seu sangue todo mês. Naquele momento o feminino mostrou-se para ele como um grande segredo arcano incompreensível.

- ... é, então foi isso que aconteceu naquele dia... - concluiu acanhada diante do olhar vago que ele expressava para ela.  - Vou embora, xau, beijos. 

E foi... 

Ele pagou a conta do café e mergulhou na multidão de desconhecidos que agora ouviam parados o companheiro no carro de som dizer que "precisamos politizar o povo...para ele reconhecer que toda a riqueza dessa país é produzida pela classe trabalhadora, e que a classe trabalhadora tem que obter a riqueza que produziu".

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

De porquê este é um "blog-diário pessoal para mim mesmo"... Dor original se expressando pelo canal da hesitação, da expectativa excessiva e pela necessidade de querer agradar...

Vê-se que não vou conseguir dormir?
Ansiedade borbulhando na barriga.
Suicidal Tendencies tocando no fone de ouvido.
Eu parado olhando para a tela do computador.

Inquietações.
Eu tinha que fazer o que fiz, se não você não estaria completo.
E por isso mesmo, como foi feito foi a melhor forma de fazer:
mandei a mensagem só agora de madrugada;
e escrevi respeitosamente, senão ia estar pior: como se um pedaço do dia não tivesse sido concluído. E como se a interação mesma estivesse sendo extinta antes do seu fim.

Fico contente que ela tenha dito eu ser "amável",
mas como sempre tenho receio de com minha presença "estar incomodando" a pessoa.
Sinto que insisto, e forço a barra. Mas foda-se: FODA-SE! FODA-SE! Como diria a Renata: demônios que te mantêm acordado às 4 da madrugada. Não que eu quisesse dormir, pois já o fiz bastante hoje até não o conseguir mais. 

Fico pensando que eu poderia ter manipulado melhor a mensagem para deixar a conversa mais fluida, para não a fazer sentir desconfortável...mas sei lá. Que porra! Você queria falar o que você escreveu? Então sim, está tudo certo. Você realmente não pode chegar e dizer que pensou nela o dia inteiro, que o comentário dela foi encantador e que etc, isso seria descabido?? Seria no mínimo desnecessário, talvez, pois estamos a uma distância tremenda, mas não sei, sinto que também poderia mandar um bloco de texto em confissão. Não seria possível? Certamente, às vezes é preciso arriscar. De fato, na mensagem que mandei hoje não arrisquei. Ontem,sim, arrisquei. Hoje apenas continuei. Talvez seja por isso que eu esteja desconfortável? Mas, porra, arriscar tudo assim, preto no branco, antes mesmo de conhecer direito a garota, e poder perder esse começo tão ingênuo...? Que o ideal seja como foi!! 

Não queira muito chegar a algum lugar mais longe de onde você já está e é onde fica bem, ou seja, a ação já aconteceu no passado. Você pode melhorar, mas não seja ansioso agora. Ela nem respondeu! Que seja, então! Espere!!  

Qual o limite entre "respeitoso","afável" e "simpático" para "pressuroso" e "forçador-de-barra" e etc? Deus me perdoe, também só foi uma mensagem! Credo..! O que poderia ser uma coisa tão agradável: conhecer outra pessoa se torna um fardo que carrego. E o pior: tenho certeza que por conta disso o meu próprio desempenho em praticar a empatia seja diminuído... 

Mas tudo bem, eu tinha algum objetivo? De fato, não poderia ter. Só queria e quero expandir minha comunicação, sentir a pessoa. Senti-a? Sim. Expandiu a comunicação, sim? Então, mas hesitei, criei expectativa, fiquei feliz demais.

Expire tudo para fora.......................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................

sábado, 5 de dezembro de 2015

Você não sabe como é ser jovem, mãe (aos meus amigos Guilherme e Thaís)

A gente não quer ser ruim. A gente não é vagabundo, não é marginal. A gente só não sabe para onde ir. A gente sente falta de força, como se nada valesse a pena de ser feito. O custo das ações excede os benefícios, e a "vida" aparece como uma estúpida soma de possibilidades mesquinhas.

O que eu quero? Me aperfeiçoar. Como? Espiritual e pessoalmente. E eu tento. Mas o resultado sempre nunca é como o esperado. Ele nunca será. O problema sou eu querendo estipular níveis de satisfação e objetivos quando o resultado depende das outras pessoas também.

Falo aqui de conversas. Ontem eu quis socializar, e assim o fiz. Conversei com a "Fraya". Fui desrespeitoso? Fui agradável? Ela gostou de mim? Por que essas dúvidas tomam minha mente?

Por favor, apenas viva. Deixe de lado as expectativas e também as avaliações. Você bem sabe suas intenções, elas são boas e não buscam ferir ninguém. Você deve ser íntegro ao ser tudo o que você é, e autêntico em ser você mesmo 100% do tempo. Assim você será completo e irradiará a vida dos que vivem ao seu redor.

Mas, claro, isso é um aprendizado, e aos poucos eu me aperfeiçoo. É engraçado que eu não tenha conseguido elogiar o casal Guilherme + Thaís (na verdade eu os elogiei, sim, mas não de uma forma ideal - e o problema já está aí: pare, Leonardo, de estipular um padrão ideal de interações que estrangule a realidade): receio que eles vão achar que tenho inveja do relacionamento deles, e se ora cogito que Guilherme pode achar que estou comungando demais com /ele e a namorada dele\, ora acho que a Thaís vai pensar que eu me aproximo demais e roubo o espaço deles...

Por eu saber quão delicada seria uma questão assim, eu fico desesperadamente tentando a todo momento provar que não: que não estou querendo furar o olho de ninguém. Mas por que esse receio de que pensem algo que eu mesmo abomino e não aprovo? Porque esqueci de ser desapegado, ou seja, não respirei e não pensei racionalmente.

Isso é desagradável, e o pior: não é o tipo de pergunta cabível de se fazer. Não faz sentido eu chegar e perguntar:

- Vocês acham que sou "segura-vela"?

A dúvida no entanto ainda persiste. Receio porém que a resposta a esta questão, ela mesma já venenosa, um reflexo da minha personalidade insegura e frágil, será obtida ao "sentir as pessoas", ou seja, seu comportamento para além das palavras, e nas palavras aquilo que é dito nas entrelinhas...

De fato, gosto muito dos dois. Pelo Guilherme eu já sentia proximidade, interesse e compaixão desde antes, sempre gostei de estar ao lado dele; e a Thaís, uma mulher mais velha, sábia e de espírito jovem, divertida e atenciosa. Sim, é bom ficar ao lado dos dois, e nisso procuro, claro, dar o espaço e privacidade que merecem, afinal comparecemos juntos à festa, e acredito ter tido sensibilidade de deixar o casal à vontade e livre.

Tão bom é poder andar acompanhado...

De qualquer forma, agora estou melhor. Conversando comigo mesmo. Dando à luz os sentimentos, que agora já paridos poderão ser nutridos com minhas ideias, e eu vou carregá-los no colo como a mãe que amamenta e conhece o filho, tornando-me íntimo deles. E assim vou poder expressar esses sentimentos de forma bem resolvida e clara às pessoas envolvidas.

Sim, às vezes estamos cativos num tornado de almas, e o que precisamos é conversar conosco mesmos para extrair o que se passa no nosso inconsciente, como arqueólogos que descobrem vestígios de ossos e meticulosamente recuperam e conhecem toda a ossada oculta, seja ela como ela for.

Tempo - o Fim, ou Shiva

agora eu aceito o Tempo como senhor da vida.
pois diante do tempo a coluna grega mais sólida vira poeira,
o corpo fenece e é engolido pela terra,
e as pessoas se vão.

Assim é, que assim seja.

Lamento ao entardecer

como uma pessoas sensível
é difícil para mim não me comover
assim, por tudo e por nada ao mesmo tempo
o momento das lágrimas acontece
e elas simplesmente passam a escorrer...

mas o que pensar? se a dor é igual ao prazer
(e o sábio escolhe o caminho da dor...)
chorar então é que tenho para fazer
e nas lágrimas eu me realizo.
mas não choro de tristeza
(ou pelo menos não quero pensar que estou triste)
choro por comoção...

queria que soubessem que eu choro
pois assim me compreenderiam em minhas lágrimas,
elas não são venenosas nem desvirtuantes
pois trago comigo muita compaixão
e respeito, e vontade de ser bom.
e choro até quando vejo algo belo (não choro de tristeza...) 

e se eu choro é porque me comovi
não choro para sentir pena de mim mesmo
choro para poder continuar
assim como as pessoas que saem de suas casas ao entardecer e se põem a andar pelas calçadas, numa estranha e maravilhosa perambulação de brasileiros que "diante da dor que todos sentimos" não desistem de dar sentido a cada passo.