segunda-feira, 27 de junho de 2016

[...] É humano querer o que nos é preciso, e é humano desejar o que não nós é preciso, mas é para nós desejável. O que é doença é desejar com igual intensidade o que é preciso e o que é desejável, e sofrer por não ser perfeito como se sofresse por não ter pão. O mal do romantismo é este: é querer a lua como se houvesse maneira de a obter. [...]

sábado, 25 de junho de 2016

Consideração

O fato de Fernando Pessoa, como astrólogo, haver previsto a noite de sua morte e, naquela data, antes de se retirar ao Sono, ter deixado escrito em seu caderno I know not what tomorrow may bring, atesta para exemplo de perfeição da alma em corpo masculino.

Constatação apocalíptica

O Brasil está tomado por dispositivos inteligentes conectados através de telefonia móvel de mensagens e imagens instantâneas. Destacadas daquilo que é concreto as pessoas têm como mais novo órgão do corpo orgânico os gadgets que as afastam de si mesmas apenas para as aproximarem virtualmente de seus semelhantes.

Embora as críticas a esse sistema existam, ninguém passa incólume a esta inversão da realidade, em que a velocidade da troca de informações é nauseantemente tão absurda que numa vã aspiração à onipresença os indivíduos expõem-se e se projetam à visualização. 

"Sentindo-se o pica das galáxias e achando que tudo que faz é muita onda". 

Tenho em mim este desconforto visceral que me faz cuspir no chão. Proclamar-me contra esse sistema que cresce como um Leviatã-de-zeros-e-uns é ser taxado de antiquado. Diante da efemeridade de tudo o que há, o mais novo fenômeno de exortação tecnológica é o sórdido hábito de registrar em fotografias das mais banais todo e qualquer acontecimento ignóbil, e dispô-las em "redes sociais" como a dizer "não obstante a avalanche de tudo o que acontece, cá também estou eu!".

E estes parvos seres humanos ainda se engrandecem de contentamento quando, no interior de tais programas, recebem "likes" e outros indicativos de aprovação virtual. Amigos virtuais, perfis virtuais, personalidades virtuais. Sim, coitados de todos nós! Quão insólito é viver nestes dias! 

Sou apurado eu meu diagnóstico?, cotidianamente abatido ao ponto de supor que se tão intensa inocuidade do indivíduo a que somos submetidos pelos softwares e apps não responde a premeditados interesses malignos, então a própria ideia de progresso é ela mesma apenas um grande labirinto no interior do qual andamos como baratas tontas, chocando a testa na parede, sem saber se galgamos um futuro melhor ou apenas nos imiscuímos desorientados à espera da hora da morte.

Multidões no metro hipnotizadas por brilhantes telas celulares, apenas para desbloquear o smartphone, abrir um app qualquer e descer a tela à espera de alguma novidade que ele sabe que não virá. Bloquear a tela de novo e repetir tudo dali a 2 minutos. 

Sim, aguardo com fervor distópico o dia em que tais plataformas virtuais sejam dissolvidas. Enquanto isso fico com vossos likes.

domingo, 12 de junho de 2016

Um dia minha vó me disse 
que quando nasci disseram
que eu tinha cara de 
"filho de rico",
isto é, 
que eu era bonito.

De que importa a beleza se as pessoas podem ser monstros por dentro?

sábado, 4 de junho de 2016

encontrar alguém
não para fall in love, mas sim
raise in love.

querer e não ter = pobreza
não querer e poder não ter = viver com coisas mínimas.

sexta-feira, 3 de junho de 2016

É verdade que Colombo sofreu sérias objeções das autoridades presentes, mas a questão nunca foi se a Terra era redonda ou não, e sim o tamanho desta.

A narrativa conforme floreada por Irving transformou o debate de Salamanca em um símbolo da luta entre o campeão da liberdade científica e o dogmatismo teólogico, e caiu no gosto popular.

lançar luz sobre as trevas do mero ser