quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

O meu amor é muito dramático.
Leio o que escrevi ontem e penso
como estive embebido por lamento
e orgulho

mas o que estava em jogo? o corpo dela...
não consigo aceitar que ela use o corpo dela.
preciso aceitar que ela não é minha propriedade.
só isso...ela ganha, e eu também ganho...
me torno um homem e uma pessoa melhor.
envolvidos nos caminhares do destino.
e ela uma mulher plena.

mas

uma sensibilidade e intimidade
perder embora os dois irão
porque vai ter que colocar camisinha no mijão.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

É muito bom estar vivo e sentir as pessoas.
Acordar motivado a me agradar e aproveitar o dia
Fazer o melhor para mim, e não desistir.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Na Avenida Paulista dia do comício

Na avenida paulista. Ele já havia subido a Rebouças pedalando e esperava no cruzamento com a frei caneca seu camarada chegar. Era dia de manifestação e o fluxo de pedestres estampava vermelho e preto na calçada e nas bandeiras. Ao seu lado o homem de barba branca curta e camisa social barata falava a uma japonesa com aparência de funcionária pública sobre "como os interesses capitalistas estão nos prejudicando". Ela ouvia com ambas as mãos no bolso". As nuvens densas estacionadas no céu cinza aniquilavam toda a esperança de paulistana de se ver um pôr-do-sol. "Que se dane", ele pensou. "Se o céu estivesse claro e e ensolarado não ia dar para ver nada porque os prédios já cobrem tudo mesmo..." Uma garoa tênue caía do alto como cuspes de algodão.  

-Já que a gente precisa trabalhar para sobreviver...o justo seria um trabalho que dignificasse o homem e construísse um mundo melhor.... - continuou militante sul-americano.

O verde do semáforo abriu e e ela passou em sua frente com uma camiseta preta do Led Zeppelin presa em laço com o umbigo ficasse à mostra. O shorts jeans claro caía bem mas não fazia dela uma gostosa. Por sua frente ela passou séria e decididamente, sem olhar para os lados. Levava o guarda-chuva preto à mão como quem se agarra a uma tábua de salvação. E sumiu por atrás da banca de jornal.

Ele a quis seguir. Contornou o grupo de mulheres negras de camiseta roxa, quase se chocou com uma criança que puxava o dedo do pai e apontava com a outra mão a barraca de sorvetes, pulou com entusiasmo o skate que vinha em sua direção escorrendo pela calçada de concreto lisa. Chegou de mansinho ao lado da rockeirinha, encadeou seus passos no ritmo dos dela e disse sorrindo:

- Oi, tudo bem? Fiquei muito atraído pela sua aparência. Te achei muito bonita. Meu nome é Danilo. Está com pressa? Tome um café comigo, por favor.

E foram. 

Ele lhe ofereceu companhia e uma conversa amigável. Ela concedeu que ele pudesse a ver de perto durante os minutos que conversavam lá dentro. Ela fazia cursinho, queria entrar na faculdade pública, morava no Paraíso da Linha Verde. Tomava café e bebia álcool. Não sabia o que era uma brisa de maconha, e nem tinha muita curiosidade também. Mas também ele conseguiria passar muito bem sem estas substância, se tivesse na barriga aquelas borboletas sempre voando. Disse a ela que estudava e estagiava. O cabelo dele, raspado e curto, indicava que "não tinha tempo para se preocupar com coisas como o "estilo". Estava mais preocupado com a durabilidade e conforto de suas roupas, e não em ostentar logotipos. 

Falou, e falou... falou de como Led Zeppelin em sua opinião tinha uma pegada muito sensual, e que os gemidos de Robert Plant eram e epítome da voz branca masculina no blues. Ah! Como esse bixano poderia ficar a tarde inteira conversando rock and roll quando se sentia à vontade... Mas entre os heróis da guitarra elétrica ele preferia Jeff Beck a Jimmy Page, e ela disse:

- Não conheço Jeff Beck.

- Tenho um CD em casa... poso te emprestar para a gente ouvir juntos. Você vai gostar, ele manipula muito o som com vários pedais de efeito. 

Ela havia entendido a mensagem e gostado da ideia. Gostou da ousadia do rapaz, e embora estivesse lisonjeada e de certa forma encabulada, conteve a inibição e falou em tom de repressão:

- Você é muito afoito... Olha só, já tem 45 minutos que estamos conversando aqui, meus amigos já estão para chegar. Vamos nos encontrar na estação de metro...

Mas ele logo trouxe o assunto de volta para o campo que ela também poderia participar:

- Você é muito bonita mesmo. Quando passou por mim, tão rápida e concentrada, fiquei tão intimidado quanto atraído. Mas eu queria te ver de perto, e conversar com você. Vejo agora como você é também interessante, pois conversamos sobre assuntos em comum. 

E com a mão de unhas aparadas e limpas tocou o queixo dela, e ela olhou para o lado em timidez, mas não afastou o rosto nem um centímetro. Ele comentou algo sobre "pele branca" e "olhos puxados" e arriscou um selinho.

Na mente dele já estava tudo encaminhado: adicionaria ela no WhatsApp, marcaria um encontro para ver alguma exposição gratuita e no final do dia sentariam numa pracinha e se conheceriam mais intimamente até ela pegar o metro de volta para casa. Ele daria um brinco para ela dizendo "achei esse brinco a sua cara".  Na semana seguinte ele receberia pelo celular fotos dela usando o brinco nas aula de Biologia. " Sua nuca parece tão cheirosa e esse brinco azul combina com seu tom de pele", ele diria. Eles sentiriam vontade de se encontrar mas suportariam com ansiedade até o fim de semana. Algumas semanas depois disso ela o convidaria para ir no apartamento onde morava com os pais. Numa quinta-feira de temperatura branda e céu cinzento já ao meio dia ela sairia da aula e não iria no Centro Cultural estudar, ia se encontrar como ele no metro e de mãos dadas andariam a calçada até chegar na portaria do prédio, onde subiriam ansiosos até o sétimo andar. No elevador mesmo eles se beijariam intensamente. 

Quarto íntimo ela quente cortina ao vento paredes claras ursinho de pelúcia perfume ela muito doce e molhada sensível e delicada clímax deitam-se ela agarrada nos braços dele ainda rígido cabeça no travesseiro e teto azul.

- Você tem que ir embora antes das 18h, meus pais vão chegar.
- Sem problemas - disse ele, malandro. Eu sumo sem deixar rastros, como se nada tivesse acontecido.

Ele agora estava aprendendo as capacidades da comunicação, sendo uma pessoa sociável mesmo, dizendo claro o suficiente para as pessoas entenderem a mensagem, mas selecionando as palavras para não parecer insensível. Estava no caminho de se tornar um forte persuasor.

Tudo isso estava pelos pensamentos dele enquanto ela falava contava sobre suas férias em Sorocaba... De um mal súbito ele pensou também em quanto tempo não demoraria para ele se sentir farto dos papos dela. Sim, ainda iria achá-la encantadora, mas ela ia começar a exigir mais do que ele poderia dar. E ela o laçaria e o enforcaria: ia querer mudá-lo. A magia oculta feminina que atrai e e demanda devoção, assim como uma rosa precisa ser regada todo dia para desabrochar. Ele pensou em como a mulher é tão conectada à terra, e recebe seu sangue todo mês. Naquele momento o feminino mostrou-se para ele como um grande segredo arcano incompreensível.

- ... é, então foi isso que aconteceu naquele dia... - concluiu acanhada diante do olhar vago que ele expressava para ela.  - Vou embora, xau, beijos. 

E foi... 

Ele pagou a conta do café e mergulhou na multidão de desconhecidos que agora ouviam parados o companheiro no carro de som dizer que "precisamos politizar o povo...para ele reconhecer que toda a riqueza dessa país é produzida pela classe trabalhadora, e que a classe trabalhadora tem que obter a riqueza que produziu".

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

De porquê este é um "blog-diário pessoal para mim mesmo"... Dor original se expressando pelo canal da hesitação, da expectativa excessiva e pela necessidade de querer agradar...

Vê-se que não vou conseguir dormir?
Ansiedade borbulhando na barriga.
Suicidal Tendencies tocando no fone de ouvido.
Eu parado olhando para a tela do computador.

Inquietações.
Eu tinha que fazer o que fiz, se não você não estaria completo.
E por isso mesmo, como foi feito foi a melhor forma de fazer:
mandei a mensagem só agora de madrugada;
e escrevi respeitosamente, senão ia estar pior: como se um pedaço do dia não tivesse sido concluído. E como se a interação mesma estivesse sendo extinta antes do seu fim.

Fico contente que ela tenha dito eu ser "amável",
mas como sempre tenho receio de com minha presença "estar incomodando" a pessoa.
Sinto que insisto, e forço a barra. Mas foda-se: FODA-SE! FODA-SE! Como diria a Renata: demônios que te mantêm acordado às 4 da madrugada. Não que eu quisesse dormir, pois já o fiz bastante hoje até não o conseguir mais. 

Fico pensando que eu poderia ter manipulado melhor a mensagem para deixar a conversa mais fluida, para não a fazer sentir desconfortável...mas sei lá. Que porra! Você queria falar o que você escreveu? Então sim, está tudo certo. Você realmente não pode chegar e dizer que pensou nela o dia inteiro, que o comentário dela foi encantador e que etc, isso seria descabido?? Seria no mínimo desnecessário, talvez, pois estamos a uma distância tremenda, mas não sei, sinto que também poderia mandar um bloco de texto em confissão. Não seria possível? Certamente, às vezes é preciso arriscar. De fato, na mensagem que mandei hoje não arrisquei. Ontem,sim, arrisquei. Hoje apenas continuei. Talvez seja por isso que eu esteja desconfortável? Mas, porra, arriscar tudo assim, preto no branco, antes mesmo de conhecer direito a garota, e poder perder esse começo tão ingênuo...? Que o ideal seja como foi!! 

Não queira muito chegar a algum lugar mais longe de onde você já está e é onde fica bem, ou seja, a ação já aconteceu no passado. Você pode melhorar, mas não seja ansioso agora. Ela nem respondeu! Que seja, então! Espere!!  

Qual o limite entre "respeitoso","afável" e "simpático" para "pressuroso" e "forçador-de-barra" e etc? Deus me perdoe, também só foi uma mensagem! Credo..! O que poderia ser uma coisa tão agradável: conhecer outra pessoa se torna um fardo que carrego. E o pior: tenho certeza que por conta disso o meu próprio desempenho em praticar a empatia seja diminuído... 

Mas tudo bem, eu tinha algum objetivo? De fato, não poderia ter. Só queria e quero expandir minha comunicação, sentir a pessoa. Senti-a? Sim. Expandiu a comunicação, sim? Então, mas hesitei, criei expectativa, fiquei feliz demais.

Expire tudo para fora.......................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................

sábado, 5 de dezembro de 2015

Você não sabe como é ser jovem, mãe (aos meus amigos Guilherme e Thaís)

A gente não quer ser ruim. A gente não é vagabundo, não é marginal. A gente só não sabe para onde ir. A gente sente falta de força, como se nada valesse a pena de ser feito. O custo das ações excede os benefícios, e a "vida" aparece como uma estúpida soma de possibilidades mesquinhas.

O que eu quero? Me aperfeiçoar. Como? Espiritual e pessoalmente. E eu tento. Mas o resultado sempre nunca é como o esperado. Ele nunca será. O problema sou eu querendo estipular níveis de satisfação e objetivos quando o resultado depende das outras pessoas também.

Falo aqui de conversas. Ontem eu quis socializar, e assim o fiz. Conversei com a "Fraya". Fui desrespeitoso? Fui agradável? Ela gostou de mim? Por que essas dúvidas tomam minha mente?

Por favor, apenas viva. Deixe de lado as expectativas e também as avaliações. Você bem sabe suas intenções, elas são boas e não buscam ferir ninguém. Você deve ser íntegro ao ser tudo o que você é, e autêntico em ser você mesmo 100% do tempo. Assim você será completo e irradiará a vida dos que vivem ao seu redor.

Mas, claro, isso é um aprendizado, e aos poucos eu me aperfeiçoo. É engraçado que eu não tenha conseguido elogiar o casal Guilherme + Thaís (na verdade eu os elogiei, sim, mas não de uma forma ideal - e o problema já está aí: pare, Leonardo, de estipular um padrão ideal de interações que estrangule a realidade): receio que eles vão achar que tenho inveja do relacionamento deles, e se ora cogito que Guilherme pode achar que estou comungando demais com /ele e a namorada dele\, ora acho que a Thaís vai pensar que eu me aproximo demais e roubo o espaço deles...

Por eu saber quão delicada seria uma questão assim, eu fico desesperadamente tentando a todo momento provar que não: que não estou querendo furar o olho de ninguém. Mas por que esse receio de que pensem algo que eu mesmo abomino e não aprovo? Porque esqueci de ser desapegado, ou seja, não respirei e não pensei racionalmente.

Isso é desagradável, e o pior: não é o tipo de pergunta cabível de se fazer. Não faz sentido eu chegar e perguntar:

- Vocês acham que sou "segura-vela"?

A dúvida no entanto ainda persiste. Receio porém que a resposta a esta questão, ela mesma já venenosa, um reflexo da minha personalidade insegura e frágil, será obtida ao "sentir as pessoas", ou seja, seu comportamento para além das palavras, e nas palavras aquilo que é dito nas entrelinhas...

De fato, gosto muito dos dois. Pelo Guilherme eu já sentia proximidade, interesse e compaixão desde antes, sempre gostei de estar ao lado dele; e a Thaís, uma mulher mais velha, sábia e de espírito jovem, divertida e atenciosa. Sim, é bom ficar ao lado dos dois, e nisso procuro, claro, dar o espaço e privacidade que merecem, afinal comparecemos juntos à festa, e acredito ter tido sensibilidade de deixar o casal à vontade e livre.

Tão bom é poder andar acompanhado...

De qualquer forma, agora estou melhor. Conversando comigo mesmo. Dando à luz os sentimentos, que agora já paridos poderão ser nutridos com minhas ideias, e eu vou carregá-los no colo como a mãe que amamenta e conhece o filho, tornando-me íntimo deles. E assim vou poder expressar esses sentimentos de forma bem resolvida e clara às pessoas envolvidas.

Sim, às vezes estamos cativos num tornado de almas, e o que precisamos é conversar conosco mesmos para extrair o que se passa no nosso inconsciente, como arqueólogos que descobrem vestígios de ossos e meticulosamente recuperam e conhecem toda a ossada oculta, seja ela como ela for.

Tempo - o Fim, ou Shiva

agora eu aceito o Tempo como senhor da vida.
pois diante do tempo a coluna grega mais sólida vira poeira,
o corpo fenece e é engolido pela terra,
e as pessoas se vão.

Assim é, que assim seja.

Lamento ao entardecer

como uma pessoas sensível
é difícil para mim não me comover
assim, por tudo e por nada ao mesmo tempo
o momento das lágrimas acontece
e elas simplesmente passam a escorrer...

mas o que pensar? se a dor é igual ao prazer
(e o sábio escolhe o caminho da dor...)
chorar então é que tenho para fazer
e nas lágrimas eu me realizo.
mas não choro de tristeza
(ou pelo menos não quero pensar que estou triste)
choro por comoção...

queria que soubessem que eu choro
pois assim me compreenderiam em minhas lágrimas,
elas não são venenosas nem desvirtuantes
pois trago comigo muita compaixão
e respeito, e vontade de ser bom.
e choro até quando vejo algo belo (não choro de tristeza...) 

e se eu choro é porque me comovi
não choro para sentir pena de mim mesmo
choro para poder continuar
assim como as pessoas que saem de suas casas ao entardecer e se põem a andar pelas calçadas, numa estranha e maravilhosa perambulação de brasileiros que "diante da dor que todos sentimos" não desistem de dar sentido a cada passo.

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Mais uma tarde no Vale.

Indo revelar na Conselheiro Crispiniano, volto pelo Vale e pauso para tirar foto do grafite. 



2 vendedores de água pedindo que eu ajudasse e comprasse uma garrafa de água, e em troca consentiriam que eu capturasse uma foto deles... De repente surge o Português com uma camisa pólo azul da Lacoste, e peço uma foto com ele.




Depois vamos eu e ele tomar uma Antártica Subzero na galeria, praticamente a 2 quarteirões do Vale do Anhangabaú. No caminho me diz que é corretor de seguros, que trabalha com macro-economia, e me mostra uma foto no celular de seu Renault ano 2016 recém adquirido.

Na lanchonete Kuroda deixamos nossas bolsas e vamos andar pelo centro, eu com minha câmera e o Português com sua "imunidade portuguesa".

Avenida São João





No Vale, ele com naturalidade se enturma num grupo de 1 cara e 2 minas que estavam fumando maconha. A simpatia, interesse mútuo e afinidade possibilitaram uma conversa agradável.

-Não se distrai muito, fica atento para ver se a polícia não vem.

 A mina diz que o Romeu-Portuga tem cara de civil disfarçado. O rapaz gosta da Pentax ME que trago nas mãos, pede meu Flickr e trocamos contatos no Whats.

O cara e as minas interessados na minha câmera, na minha conversa. Tirei foto deles 3. O Português vai embora para a galeria (afinal tínhamos dito ao rapaz que íamos voltar logo - rapaz que estava lá sentado e que guardou nossas bolsas debaixo da mesa ao lado do balcão).

O Português voltou, e eu continuei conversando com as garotos até tirar aquela foto que eu queria capturar delas. O menino foi embora (engraçado que pensei que eles eram 3 amigos e conhecidos, mas não passavam de citadinos transeuntes que pararam para fumar 1 beck juntos "no centro, na coletividade todo dia").



Conversei mais 1 pouco, fumei mais do beck, já pensando na abertura e distância focal da foto. Então aconteceu o momento fotográfico e captei uma olhando para a outra, com a de trás sorrindo, sendo que o rosto da primeira estava com efeito bouquet. Um momento fotográfico sensacional.

- Agora ele quer tirar uma foto só da gente, amiga.


Ela chamam um vendedor ambulante de garrafas de água para comprar:

-Tem o que aí, amigo?

Oferece do beck, ele se aproxima, e como a esse momento já havia juntado outro casal ao lado delas, eu sigo para a Galeria.

Voltando, o Português não estava lá, mas o rapaz que guardava nossos pertences estava. Sento com ele, conversamos, ele me serve cerveja e assim vamos numa intensa narrativa dele sobre a japonesa loira dele, que foi embora para o Japão...assunto interessante...chega o Português, mas vendo que não se encaixava no assunto (ele alguma vez se encaixa...??), diz que vai fumar 1 cigarro em frente à igreja dos escravos, etc.

Continuamos eu e o rapaz, ele fala, e fala sobre a japonesa dele, que ele falou uma par de merda para ela, que estavam saturados,etc e o assunto me estimulava duplamente: por se tratar de uma japonesa (fetiche) e porque estou numa situação de relacionamento semelhante.

O Português volta, vê que continuamos no mesmo assunto, sugere a mim que andemos para ir no Bin Laden, e eu vou. O que ele queria na verdade era se ver só comigo. Um movimento para deixar o bar.

O pórtico desse trajeto foi absolutamente improvisado, e nós estimulados por toda a paisagem urbana conversamos sobre condição de intelectual, física quântica, Filosofia das Cores (Rousseau). Me saúda como um intelectual, conversamos sobre etnografia e a importância da fotografia, os trabalhos da faculdade, que eu tenho que estudar mais... Quando adentramos de novo a galeria do rock pela 24 de Maio estávamos falando de Hermes Trismegisto, que o pai era o Sol e que a natureza experimentava nos seres vivos suas modalidades e evoluções...

Voltamos ao Kuroda. Conversamos sobre Rousseau e Fernando pessoa, e então ele diz que quer conhecer a "realidade universitária brasileira" e nos encaminhamos para o metro São Bento para tomarmos caminho para o Butantã. Me fala sobre sua imunidade: alem do sotaque e capital cultural ainda tem a dupla nacionalidade oficial. 

À altura da Praça das Artes entramos no grande salão, e eu tiro pelo menos 9 fotos do vale do Anhangabaú + Banespa com bandeira do estado de são Paulo. Colocou seu fone no meu  ouvido, e ouvi que escutava My Chemical Romance. Ele assobiava intensamente para atrair os pássaros. Depois viramos o resto da cerveja do copo plástico e deixamos a Praça das Artes.




 Algumas fotos de um prédio antigo com uma bandeira do MPL. Tirei 2 do Português e 1 da paisagem mesmo. Não sabia se era um pretexto dele para estimular minha criatividade artística ou se ele queria mesmo aparecer...



Depois, digo a ele como é o percurso até a USP e ele desencana: - não quero pegar metro. Diz que vai ao Bar do Bin. Nos despedimos, eu entro no metro São Bento e escrevo o relato.

Ontologia do (meu) sofrimento

O preço pago por existir

O verdadeiro significado do "pecado original" cometido pelo ser-humano, a causa de sua expulsão do Jardim do éden - este paraíso simbólico de virtude situado na 4ª dimensão, o verdadeiro significado desta alegoria é que o ser-humano, por nascer, deve sofrer. Evidentemente, a existência da alma em substrato corporal orgânico não deve acontecer sem prejuízos. Qual o preço a ser pago pelo gasto de Matéria, Energia e Espírito; pela possibilidade de ser este milagroso organismo que reúne porções sólidas de carne envolvendo ossos rígidos cujos movimentos obedecem ao discernimento do Eu? 

Observo minha pele e vejo matéria que poderia simplesmente existir numa casca de árvore, sinto meus passos como energia de movimento que poderia fazer correr um rio; meu espírito como manifestação de qualquer outro ser cósmico. Mas não. Tudo isso está aqui comigo, e em mim. E esta é a raiz fisiológico-material do sofrimento. Em suma, o próprio dispêndio de Matéria, Energia e Espírito produz o sofrimento, assim como a chama que aquece a água para passar o café também aquece demais a água que se dissipa em vapor. O sofrimento é condição da existência.

O problema do desejo

Fumando um no Vale do Anhangabaú
A primeira modalidade de sofrimento é também conhecida como o insaciável prazer do deleite. É natural que sintamos desejo sexual, pois a Natureza buscando reproduzir-se fundou o Masculino/Feminino, e no âmago deste composto implantou a Atração pela forma. Mas o corpo existe mais para suas faculdades cotidianas (ir ao mercado, à aula...) que para suas funções sexuais. O tolo desconhece esta distinção , e no decorrer das atividades mais a-sexuais que se desenrolam em seu dia a dia o tolo privilegia a forma, dando fluidez ao seu desejo descabido.

Pode-se dizer que todo desejo sexual tem como princípio uma agonia, uma infinita e cumulativa necessidade do corpo unir-se a outro. De fato, a questão da performance fere sobremaneira o ser-humano, que em desejo nutre em memória as mais variadas expectativas à sua próxima relação sexual. O tolo que olha pela janela do ônibus se encanta e se perde na beleza que habita a cidade, pois deseja tê-la para si, e a cada ponto de ônibus deixa com a beleza de outrem uma porção de sua alma.

terça-feira, 17 de novembro de 2015

Pronto...decidi. Não vamos nos ver. O nosso caso "não tem dotô que dê jeito". Conclusão: "nada precisa acontecer".

Faltou luz mas era dia

Me sinto mais leve! Um grande peso me abandona.

Agora, é o seguinte: ainda preciso continuar não me levando a sério.

Aproveite a falta de compromisso e deixe a naturalidade operar em seu cotidiano.
Dê chance ao acaso, mas não pressione as fibras dos acontecimentos, que se desenrolarão fluidamente no tempo... Abra-se aos outros, isso é a única coisa que você precisa fazer.

Você não precisa sair correndo atrás de ninguém, pois
os dias são longos e numerosos.
Não empurre, nem pressione... sinta o momento e aja...

Mas também não deixe de se encantar com os olhos escuros dela, o cabelo castanho-claro de verdade, e o sorriso que desabrocha reluzentemente... Não deixe de pensar em um elogio ideal que não a encabule e ao mesmo tempo demonstre seu encanto com sinceridade. Tell her how do you feel.

Mas ao fazer tudo isso, mantenha a  calma, relaxe, e respire no mesmo ritmo que o  dela. Assim, assim... um papo gostoso que ilumina o dia será mais importante que qualquer solavanco e "declaração" - que palavra horrível. Sim, aquela figurinha estudiosa e simpática, tímida,  interessada em mim e nesse blog supostamente secreto... E o Magnani...? que divulgou... é cômico e tenso ao mesmo tempo... mas isso, no final das contas, é um regozijo. Seja bem-vinda (se o ler.., e não se assuste, por favor!).

Na minha cabeça:

Jefferson Airplane - Essa me inspira, me anima, me alegra. Me motiva. Como um sentimento bom a ser buscado aqui dentro de mim.

 "How do You Feel"

Just look at her hair
And when she speaks, oh what a pleasant surprise.

When I meet a girl like that
I don't know what to say
But to meet a girl like that

Brightens up my day.

Oh, how my heart beats, I don't even think I can talk.

"D.C.B.A.-25" - Essa faz doer, me entristece, mas sua ação é sublimar o que restou de nostalgia do meu relacionamento de quase 3 anos com a Isabela... Adeus, querida. Fui feliz com você, mas por enquanto estamos melhor separados...


Barão Vermelho - "Sem Vergonha" - Fala de favorecer o acaso, de evasão, timidez  e interesse.  No final das contas são boas intenções...! Poxa, também, qual o problema de eu me apaixonar?

Eu armo o picadeiro
Mas no fim, no fim
Você tropeça e cai
E perde a canastra e ri
E diz: "Até mais".

E na minha cabeça parece a mim mesmo que estou avaliando a beleza das garotas e colocando num pedestal aquela que mais faz mais meus amores platônicos se desenvolverem. E não é isso que eu quero. Mas também não é só isso. A Japa foi um acaso, vivemos realidades bem diferentes. Agora, a Maria, já a admiro desde os primórdios do curso. Compartilhamos algum interesse por Antropologia. Fiquei estupefato quando ela perguntou meu nome. Mas, enfim, a afinidade e naturalidade conta muito mais que essa atração platônica. E também, sua falta de contato com mulheres em geral produz um super-encantamento exacerbado da minha parte.

Sim, sou apaixonado pela beleza. Ao ler meus posts deixa evidente como estou correndo atrás daquela fagulha que precede a paixão. Mas, como diria Johnny Winter em "Can't You Feel it?":

If I can't make ya happy
I'll jump into the river and drown.


E se nada der certo, Dostoiévski me compreende: "Todo um momento de felicidade. Sim! Não é isso o suficiente para encher uma vida? "


E diante da tristeza de ter tanta coisa a dizer e não poder dizer,
e precisar falar comigo mesmo,
porque dentro de mim o mundo pulsa e o que se passa comigo é difícil de eu mesmo perceber,
e o ato de me postar frente à frente com outra pessoa para dizer coisa e conversar gostosamente às vezes parecer a mim como equivalente a abrir uma comporta da usina hidrelético do Tucuruí para vazar pela minha boca...
diante de tudo isso,  Fernando Pessoa (geminiano!) me ampara, graças a Deus:
I suffer from life and from other people. I can’t look at reality face to face. Even the sun discourages and depresses me. Only at night and all alone, withdrawn, forgotten and lost, with no connection to anything real or useful — only then do I find myself and feel comforted. 
 When all by myself, I can think of all kinds of clever remarks, quick comebacks to what no one said, and flashes of witty sociability with nobody. But all of this vanishes when I face someone in the flesh: I lose my intelligence.[...] 

domingo, 8 de novembro de 2015

Não fui ao Bar do Bin ontem, porque...

Porque não queria ver a Japa. Talvez estivesse com medo de novamente a ver e desta vez não fazer contato. Desta vez não poderia ser assim.

Mas a vida em seus métodos pede calma, não? Então por que a pressa?
Porque não quero deixar que ela sinta falta de impulso da minha parte.
Porque não quero que ela pense que estou hesitando.
Porque não quero que se apague na memória dela a minha chama.
Porque quero essa paixão louca.

O quê dizer para ela?
Que só de ir no rolê e poder ver seu rosto eu já ganhei a noite.
Que depois daquele nosso primeiro encontro eu passei a pensar nela
e preciso saber se ela pensou em mim;
Quero saber o que ela faz da vida.

Quero saber se fui sem precedentes na vida dela ali naquele bar.

Não fui ao Bar do Bin ontem porque realizei a responsabilidade que coloquei nisso tudo.
Pressão auto-induzida.

Mas, oxe, na última vez eu nem me apavorei, fiz tudo numa tranquilidade:
mantive-me em seu campo de visão,
conversei com outras pessoas,
ouvi a música,
fui elogiado.
Me diverti mesmo.

Então eu tenho que voltar lá naquele bar quando estiver a fim de me divertir, assim trazer esta Japa para mim vai ser questão de congruência e continuidade.

Não fui ao Bar do Bin ontem, porque quero dar um tempo ao tempo, naturalmente. Ser meu. Curtir meu rolê. E meu rolê às vezes é voltar para casa numa tarde triste, chuvosa, muito gris e turva e lôbrega para ler Dostoiévski.

Mas em relação à Isabela, tudo isso só produz mais distanciamento.
Mas não era isso que queríamos? Estou fazendo meu melhor. Lutando contra mim mesmo em pensar que eu não deveria ser assim tão incisivo. Não estamos conversando muito. Estou mesmo querendo me afastar, para ela sentir falta.

Afinal, estamos agora a anos-luz um do outro.

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Mais relatos etnográficos: Circuito "Kuroda - Bar do Bin Laden"


29/9

Desta vez fomos eu e minha namorada na Galeria para tomar umas cervejas e conversar. Realmente nos sentimos à vontade lá, e o preço do Litrão de Sub-Zero é muito atraente. Não ficamos na Lanchonete Kuroda, mas sim numa lanchonete menor e sem banheiro (portanto sempre menos lotada), também no térreo, em frente ao Kuroda.

Tomamos alguns litrões e pedimos uma porção de torresmo. Vamos ao Bar do China para usar o banheiro, e eventualmente tomar 2 doses de tequila no balcão, quando surge uma conversa amena sobre viagem ao México, tequila, etc...

Neste dia e horário a Lanchonete Kuroda estava vazia e em marcha lenta.

9/10

Acompanhado de minha namorada novamente. Primeiro fomos na Benedito Calixto ansiosos pelo resultado da revelação das fotos que tiramos juntos. Depois subimos na Galeria para aplicar, cada um, um piercing: eu na orelha e ela no nariz. Depois, eu ainda em êxtase pela dor, ela em meio a espirros e ranho, decidimos tomar uma cervejinha no mesmo bar em frente à Lanchonete Kuroda. Entre litrões conversamos e espalhamos pelas mesas as fotografias que revelamos. E ficamos assim até o bar começar a esvaziar, por volta das 18h, quando a Galeria começou a fechar, e o dono do bar já estava virando as cadeiras de ponta-cabeça sobre as mesas. 

28/10

13h.

As regras de interação: você compra uma cerveja, consegue uma mesa, ou balcão, e espera algum assunto. Desta vez William "Paiva" fez o contato comigo. Perguntou se eu sabia onde estavam à venda os ingressos para o show da banda de heavy metal alemã Udo. Depois se juntou à gente mais uma pessoa, o "Português". 

Já perto das 18h o Bar do China ameaça fechar as portas, e então seguimos ao Bar do Bin. No caminho (póritco) atravessamos o Vale do Anhangabaú e cruzamos a 9 de Julho pelo viaduto. 

No viaduto fui abordado por uma dupla da Guarda Civil Metropolitana por estar portando maconha "em plenas 19h no viaduto onde toda a população passa e observa". Ou seja, eu excedi um certo limite firmado de visibilidade possível no manuseio de substâncias ilegais, e fui devidamente repreendido.

Como aconteceu a abordagem pela GCM: aconteceu primeiro o confisco da droga, e em seguida fui intimidado pelos guardas. Um deles inclusive ameaçou levar também o meu dinheiro... Felizmente o outro guarda não estava tão exaltado e preferiu me poupar. Aproveitei a o ensejo para perguntar o que eu havia feito de errado. O guarda menos truculento respondeu claramente: - Por estar movimentando droga em frente à população. Entendi o meu erro, pedi desculpas e me despedi dos oficiais com um aperto de mão. 

O Paiva e o Português continuaram o caminho em direção ao Bar do Bin. Não foram abordados pois apenas eu estava exibindo substância ilegal. Depois de ser liberado, eu segui em frente à procura deles mas não os encontrei. Meio abalado e sem norte voltei ao Bar do China, quando recebi uma ligação do Paiva avisando que estavam ele e o Português no Bar do Bin me esperando. 

Volto então ao Bar do Bin e lá sou apresentado pelos meus companheiros ao Alê( quem de outra ocasião fiquei sabendo ser "o passador" - como havia dito Rodrigo "Venom"). Além de Alê também fui apresentado a um rapaz moreno, de sorriso largo que "não usava nenhuma droga exceto cigarro e álcool". De fato, o status de "passador" de Alê se confirma quando o rapaz de sorriso aponta para ele e diz "se tiver a fim de um verde...".

No bar naquele momento só estavam presentes homens, que ocupavam do lado de fora na calçada as mesas, e na primeira seção do bar, do lado do balcão, algumas mesas. Como disse o rapaz de sorriso largo "por enquanto só tem cueca aqui, mas mais tarde se pá cola umas minas." Então por volta das 23h30 ficou tarde e eu fui embora pois se demorasse mais era possível de não conseguir tomar a última lotação da noite para casa.

29/10

No dia seguinte passo na Lanchonete Kuroda por volta das 15h00 para tomar 1 litrão e ir às compras nos andares superiores. No bar, fico à vontade numa mesa afastada. Foi quando o rapaz de sorriso largo, do dia seguinte, falou e olhou para mim "chega mais, Corinthiano", me convidando à mesa em que eles e outros 3 tipos conversavam próximos ao balcão.

Eu me aproximo e a gente troca ideias sobre esposas, relacionamento à distância e a molecada que vai no Bar do Bin com camisetas de bandas mainstream tais como Guns N' Roses, AC/DC e Ramones. Na opinião deste tipos mais velhos, todos na casa dos 30 anos, a molecada exibe esse visual mais como pretexto para paquera que como expressão de conhecimento profundo sobre os gêneros musicais e as bandas. 

Sinto uma aprovação deles em relação ao meu visual e minha atitude, mesmo que eu tenha 22 anos, e o rapaz sorridente, agora apresentado como Leonardo, pede para que eu lhe pague uma cerveja, e que ele pagaria de volta mais tarde no Bar do Bin. Assim eu fiz, mas adicionei que ia ser a saideira pois logo mais ia subir aos andares superiores para comprar camisetas, e participar de uma Seletiva de Tênis de Mesa na faculdade.

02/11 

Because a person who finds himself bored when he is alone, it seems to me, is a person in danger. (Tarkovski)

Estou de namoro em hiato...

Segunda-feira, feriado de finados. Zombie Walk no centro de São Paulo, e chuva. Por volta das 18h da tarde penso em ir na Lanchonete Kuroda, e pegar o circuito ao Bar do Bin, mas a Galeria estava fechada. Então, por brincadeira, sigo um casal com "visu metaleiro" para ver aonde iam chegar. No caminho passam pela praça ao lado do Metro Anhangabaú, e seguem sentido 9 de Julho. Eu prefiro deixar de segui-los, passo a tirar algumas fotografias. Mais tarde os vejo no Bar do Bin.



Aglomeração na praça ao lado do metro Anhangabaú

Caminho em direção à 9 de Julho e ao Bar do Bin. Como é feriado de Dia dos Finados reparo uma aglomeração mais denso nos arredores do bar. As mesas e cadeiras de plástico ficam espelhadas na calçada e no acostamento da avenida.


Sento numa cadeira, e sou acionado por este figura, que pede para que eu tire fotos:



"- Pode tirar ima foto".

Disse que fazia macumba, me perguntou se eu não precisava de alguma e eu disse "uma macumba para mulher". E então ele sumiu, dizendo que ia atrás de 2 velas. Voltou depois de um tempo, pedindo R$ 10,00 para as velas, mas eu não cedi. Depois sentou na cadeia de plástico ao meu lado, perguntou se eu não tinha algum baseado. Eu disse que sim, embora não possuísse seda. Ele então foi buscar 2 guardanapos num restaurante. Voltou, bolou para gente o beck com o "sedanapo" e fumamos na calçada, um pouco afastados da entrada do Bar do Bin porque ele estava absolutamente cauteloso pois o local era movimentado e mais visado.


Sentado a alguns metros da entrada do bar do Bin, "Jacaré" faz batuque com seu balde e diz que diferentemente dos outros eu era humilde (por estar lhe dando atenção).

Entro no bar. Lá uma aglomeração de jovens com camisetas rasgadas e visual cujas influências são do rock e metal. Uma mesa de sinuca, uma fila grande de disputa ao banheiro, e um jukebox caprichado em que o som mais leve a ser tocado é Black Sabbath... Para variar um pouco coloco Barão Vermelho - "Malandragem dá um tempo". O sucesso é notável, e Alê vem a mim me cumprimentar pela escolha.

Lembrar que Alê é o cara que, na primeira vez em que fui ao Bar do Bin, falou "Metallica é o caralho" em referência à minha camiseta de banda mainstream (num dia de semana), e noutro dia (também de semana), duvidou de que eu conhecia de verdade o álbum "Reign in Blood" do Slayer, estampado em minha camiseta.


O interior do bar é decorado com fotografias e notícias sobre o dono do bar, o cearense Francisco Helder Braga Fernandes.

Aglomeração de jovens na calçada, e dentro do bar. Na entrada um fluxo denso que se tornou ainda mais caótico quando a chuva empurrou a maioria das pessoas para o interior do bar. Neste momento por estar penetrar a aglomeração e seguir um fluxo ao fundo do bar, preferi ficar no balcão e tomar uma Lokal. Servi cerveja ao cara do meu lado, que já vi no Kuroda, e comentamos sobre a música. Sentei na única cadeira vaga ao lado deste cara, mas logo me arrependi, pois era a cadeira que Alê sentava. Com o prestígio e inconstância que Alê tem no bar, não ousaria sentar no lugar que ele sempre ocupa...

Depois circulo pelas imediações da calçada e vislumbro a importância territorial desta àrea ao lado do Bar do Bin:

Foto da calçada, à direita do bar. O Bin Laden é quem disponibiliza as cadeiras na calçada, colocando-as e as retirando conforme a necessidade.

Especialmente nesta área, seguramente mais habitada que a calçada ao lado esquerdo do bar, a aglomeração de pessoas é favorecida pelos degraus da escada e da cobertura acima contra a chuva.

Ousei ocupar o canteiro central da 9 de Julho (que não me parece ser um ponto em que as pessoas se fixam, pois tem arbustos e algum barro). Fico lá por alguns minutos fumando um beck e ouvindo músicas para recompor as energias. Na verdade, desde que eu, ainda no entardecer, apreciando as fantasias da Zombie Walkolhei para o lado e vi a alguns metros de mim a Japa, meu objetivo nesse rolê era poder sondar a presença dela e eventualmente realizar uma conversa. Então quando ela deixou o interior do bar com o cara com quem estava conversando, para se abrigar debaixo da cobertura do lado de fora, então eu também saí e passei a orbitar naquele espaço, conversando com um ou outro enquanto esperava que ela ficasse sozinha para retomar nossa conversa de alguns meses atrás... O fato é que no canteiro central era também um bom lugar para a observação, e mais reservado para fumar a maconha. 

No canteiro central avistei um cara simpático que estava atravessando a 9 de Julho em direção ao bar e ofereci para ele um pega. Primeiro ele negou, pois disse que "Vou mesmo cheirar um pó hoje...", mas diante da minha insistência ele cedeu. Depois atravessou logo a rua, pois seus amigos estavam esperando.
Caminhadas, circuladas, um encontro inesperado com amigos, mais um beck ali no viaduto da 9 de Julho (às 23h de feriado chuvoso...). 

Não fumo regularmente, mas para fins de etnografia levei um maço de cigarros para fumar sozinho em momentos de observação, para puxar assunto pedindo isqueiro, ou para poder engatar alguma conversa caso viessem me pedir um cigarro.
Circulando, sem ficar parado num único grupo, e sem apresentar postura fechada (braços cruzados e semblante mal-humorado). Uma conversa com um jovem de cabelos longos, olhos esbugalhados e narinas ranhentas que me pediu um cigarro, fumou com muita gratidão e me contou que os grunges estavam sendo tirados pelos punkeca, uma situação não tão rara de brigas, dado que enquanto eu andava pelas calçada noutro momento eu percebi que um rapaz ameaçava outro com gritos e uma garrafa na mão, embora as pessoas ao redor pouco se abalassem...

Uma conversa bastante interessante aconteceu com Sorocaba, que se apresentou pedindo um cigarro. Começamos a conversar sobre artistas viciados em drogas, e ele me apresentou a discografia do Alice in Chains, que agora ouço enquanto escrevo este relato. Isso é muito bom, ir num lugar e me encontrar com pessoas que compartilham comigo conversas e interesses comuns.

23h30, já bem em cima da hora para voltar para casa, observando que a Japa estava ainda conversando (ou sendo alugada...) com o cara, decido deixar o Bar do Bin e atravessar o Vale do Anhangabaú em direção à estação São Bento para pegar o metro sentido Tucuruvi. E qual não foi minha surpresa ao perceber que a Japa, por quem eu circulei, bebi e fumei, estava no mesmo vagão que eu. É claro que não fui conversar com ela imediatamente... Sentei num banco onde havia 1 lugar disponível, na esperança de que ela fosse sentar também. Mas as coisas não são tão fáceis assim, e na estação da Luz ela desapareceu do meu campo de visão (não sei se mudou de vagão...). Enfim, me conformei, pois "a vida em seus métodos pede calma". Já conformado que ela havia descido na Luz, vejo ela andando na plataforma da estação Parada Inglesa, ou seja, a Japa que faz cursinho Objetivo, que almeja a carreira de Medicina, que ouve death metal, frequentadora do Bar do Bin, garota que já beijei a mão e o braço e desde então protagoniza meus delírios diurnos, a Japa, mora também na Zona Norte.




segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Se achando o pica das galáxias e pensando que tudo que faz é muita onda!


Aí, tô mandando a real,
Deixando de bancar galã
sem ser aquele tipo de cara que quer pegar até a sua irmã...!
mais preocupado agora em fazer um social.
Abandonei o galanteio:
minha brisa agora é
"ele pensa que é bonito ser feio".
Sem muito, eu não vou me levar a sério
porque assim ninguém vai ver graça em brincar de me tirar do sério.
                                                                                       (ou vai, mas aí eu vou levar na boa)


Por que permite eu por outra me apaixonar?
Fico em dúvida, e não quero acreditar
que aí do seu lado o caminho já esteja sendo pavimentado
intencionalmente, para você seguir em frente, sem ter que se preocupar.

Você ainda não sabe, ou não quer realizar
que aqui nosso castelo de areia  já se desfaz
e que suspenso no ar eu me choco contra o chão,
cogitando se o nosso amor expirou ou não.

Você já sente as borboletas no seu estômago, não sente?
voando desde aquela semana (o começo do fim da gente?)
quando devido ao descontentamento
decidiu se desapegar de mim.
e pelo estranho se encantou,
pedindo um tempo, tão sincera assim.

Dói em mim pensar que do lado de cá
as nossas bocas se calam
e de tédio os olhos se cerram,
enquanto aí do lado seu
presença outra ilumina no olhar o que por mim já escureceu.

Talvez eu tenha que reconhecer
que durante todo este tempo estive enganado
em pensar que alguém pode escolher
ficar ou não apaixonado.

Por favor, me responda com sinceridade
Não deixe que seu carinho pelo Esquilo
te impeça de dizer a verdade.
Vou ser forte, e não mais de você abusar
(me batendo até o rosto sangrar)
Comigo não precisa se preocupar,
pois a mentira que se conta para proteger
também faz muito o coração arder.

domingo, 18 de outubro de 2015

homo sapiens quer saber como viver


Homo sapiens
cansado de comer, dormir e foder
aperta o botão, recebe um orgasmo.
pensa sentado no vaso:
é isso que é viver?

o sofrimento é condição da existência
mas daí você olha no espelho e diz:
"existir, se não fui eu quem quis
por que não posso pelo menos ser feliz?"

você não tem culpa, Adão
apenas não se iluda
crendo que as coisas da vida
têm alguma razão.

mas aproveite da sua imaginação
as cores, o céu, o amor de mãe,
maitacas à tarde a gritar.
e o vento que faz a árvore dançar;

da consciência prefira as profundezas,
aprendendo os modos de aproveitar
esta viagem na qual não há contramão
e cuja duração é impossível de rebobinar.

e quando se perguntar "para que serve, afinal?"
nosso cérebro, o mais inteligente do reino animal
não confunda homem mais sabido com "ser mais bem adaptado"
reconsidere seus instintos e enobreça os hábitos no interior de seu quarto privado.

e tome cuidado: já que a natureza em você
juntou Espírito com Matéria para crescer e evoluir a Si mesma,
seja sério,
e descubra no cérebro sua meta superior ideal, oculta no Pólo Central.

e se na busca pela Verdade fraquejar,
e por pensamentos ser sufocado,
lembre-se que há 2 caminhos a trilhar:
o do prazer, pelo qual o tolo é seduzido
e o da dor, pelo qual o sábio tem gosto adquirido.

domingo, 20 de setembro de 2015

Etnografia da minha visita à Galeria do Rock, no bar do China - Sábado - 19/09/2015 - dedicada a Luca


Ontem tive algumas horas de tempo livre no centro de São Paulo. O passeio que fiz com minha mãe e irmã à Pinacoteca terminou mais cedo do que o previsto, e às 14h30 elas desceram as escadas da estação da Luz e foram embora. Eu precisava arranjar alguma coisa para fazer até as 18h, quando deveria estar na Saúde para a reunião na casa do Bassi. Sozinho, no centro de São Paulo, sem muita opção de rolê, comecei a passear.

Na calçada da Rua Cásper Líbero fui afetado pela excitação dos sentidos causada pela mobilidade da cidade. Como um flâneur passei observando a casa do norte, os negros vendedores de relógio, e o sem-número de bares, dos quais a visão da cerveja gelada impregnou-se em mim e silenciosamente guiou meus passos. Irromperam pela calçada dois travestis falando "é aqui", sumindo porta adentro de um comércio e deixando perplexo o homem que mais ao lado descansava sentado na calçada. Falou "esse aí é viado mesmo", e o passante à sua frente concordou, adicionando, enquanto avançava os passos, algumas palavras que causaram o riso de ambos. Continuou a andar, e eu também.

Fui sendo levado pelos meus passos. Atravessei a Cásper Líbero e em frente à Paróquia Nossa Senhora da Santa Ifigênia acontecia um show ao vivo de música sertaneja. Algumas pessoas assistindo sentadas em cadeiras, com mesas devidamente resguardadas por guarda-sol. Ao lado, algumas tendas levantadas na calçada ofereciam alimentos e bebida. Parei um pouco para apreciar aquela ocasião, pensei brevemente em ficar mas não hesitei em recusar a mim mesmo o convite: o Sol estava muito forte, e a música não era particularmente do meu gosto. Continuei então andando.

Pela Antônio de Godói segui em frente. A sombra dos altos prédios desta rua é projetada extensamente em sua larga calçada, configurando um bom lugar para descanso e cochilo daqueles que têm as ruas como lar. A ideia de que eu queria ir à Galeria do Rock nestas horas livres de que dispunha foi sendo delineada em minha consciência. Então me encaminhei à adega a mim apresentada outrora (há 9 meses) por Gabriel e Amon, dois jovens com quem naquele dia colei e pedi alguns tragos do vinho que compartilhavam entre eles na frente da Galeria. O Gabriel eu nunca mais vi, o Amon é frequente ali naquela área, mas nunca de novo me aproximei para conversar com ele. 

Entrei na adega, que felizmente estava ainda de portas abertas, enquanto alguns dos comércios ao lado já fechavam suas portas, e comprei por R$ 3,50 um composto alcoólico Cantinho do Vale, que passa muito bem por vinho. Decidi  que ia entrar numa brisa e provavelmente conseguir algum contato para redigir a etnografia.

Bebericando do meu vinho encaminhei-me para entrada da Galeria, na Avenida São João. Parado lá por alguns segundos reparei o intenso fluxo de compradores. Propriamente na calçada se reuniam pessoas de ambos os sexos, com recorte de idade aparente também amplo, ostentando visuais de diversos estilos de rock, que não arrisco descrever. Da próxima vez contarei com recursos fotográficos dada a importância do estilo neste tipo de sociabilidade que além de urbana envolve também o ostento de camisetas gangues, bandas, tatuagens, bottons, etc que fazem as pessoas reconhecerem umas as outras imediatamente no rolê.

Foi o caso de Rafael, com quem já conversei algumas vezes e que no entanto nunca lembra meu nome. Avistei-o em um grupo de 5 homens, fumando cigarro e tomando cerveja. Diante dele, um homenzarrão de cabelos longos, óculos escuros e braços fortes tatuados expostos pela regata da banda Morbid Angel, esfumaçando um cigarro de forma praticamente cinematográfica. O homem estava acompanhado por uma mulher loura totalmente vestida de preto. Quando Rafael reconheceu a banda estampada na camiseta do homem, passou a cantar alto na calçada os urros guturais do vocalista, depois passando a reproduzir o solo de guitarra com a voz, e fazendo gestos com a mão que mimetizavam o dedilhamento de uma guitarra. Rafael fez comentários efusivos mas aparentemente o grandão não deu muita atenção, falou pouco e definitivamente não sorriu. 

Eu que já estava suando pela testa, e não havia conseguido nenhuma interação ali do lado de fora, pois achei os grupos fechados, decidi sair da calçada e andar alguns metros para entrar no bar do China (Lanchonete Kuroda), localizado no andar térreo da Galeria do rock. Comprei um Litrão de Subzero, que o China vende ao modesto preço de R$ 6,00. Por volta das 15h do Sábado o bar que já é pequeno estava além disso lotado. Então com minhas duas garrafas de álcool na mão costurei caminho por entre pessoas e cadeiras procurando alguma cadeira no interior do salão para que eu pudesse sentar. Ao fundo do bar havia alguns poucos lugares vagos, mas senti que a interação lá seria restrita aos grupos já formados, e a ocasionais conversas entre pessoas de uma mesa e outra.

A organização espacial das cadeiras das mesas, e das pessoas nas cadeiras, é importante e delicada. No estreito salão a mesa central é bastante competida, e como os usuários levantam bastante para ir à calçada fumar cigarro acontece de eles voltarem e seus lugares estarem ocupados por outros. Mesmo sem cadeira eu então me aproximei de uma borda da mesa, depositei minhas duas garrafas, e fiquei de pé por um tempo tomando minha cerveja. Não conhecia os outros dois que estavam do meu lado também de pé e conversavam com Rafael (que havia deixado a calçada e entrado no bar), e para piorar eu nem me apresentei (depois que vim ser apresentado pelo Rafael ao Mega(de Megadeth, banda de metal) vi que não adiantaria eu me introduzir àquele tipo de atitude tão indiferente).

Enfim, como a situação ficou constrangedora para mim, deixei a garrafa na mesa e fui com o copo na mão ao balcão. Felizmente naquela hora alguém se retirou, e eu pude encontrar lugar para me fixar. Quando voltei à mesa para buscar as garrafas e lavá-las ao balcão, os sujeitos que lá ficaram estavam servindo-se da minha cerveja. Provavelmente pensaram que não tinha dono, ou sabiam que tinha dono e não se sentiram impedidos por isso, ou queriam mesmo arrumar confusão.

Em resumo: para evitar discussões, e me sentindo bem vulnerável - para dizer a verdade - esperei que eles depositassem de volta na mesa a minha cerveja, trouxe-a para o meu lado da mesa e me servi. Foi neste momento que outro cara chegou em mim, se apresentou como Luca e me ofereceu uma cadeira. Simpático, desde o primeiro momento deixou evidente que estava interessado em conversar comigo. Me perguntava o que "você acha?" "Ô Leonardo", "Ô Léo, posso te chamar de Léo, porque...". Colou em mim. Ficou sabendo que eu fazia Ciências Sociais, falou de Fernando Henrique Cardoso. Cantou "música dark" que ele compunha. Falou que era simples: só se precisava de inspiração. Cantou RPM, banda em que seu tio tocava antes de se suicidar. E desde então demonstrou extenso conhecimento musical. Apresentou sua gangue "Funeral Punk", da qual era o "último representante da nova geração." Disse que trabalhava como garçom. Estava com um paletó por cima de uma camisa pólo branca, calça e sapato sociais: no dia anterior tinha se apresentado a um exame admissional. Seu rosto branco estava permanentemente suado.

Conversando com o Luca fiquei sentado na mesa central diante dos tipos que se serviram da minha cerveja. Alguma interação lampejou entre mim e Rafael, e ele me apresentou a Mega, grande amigo seu, alegadamente pela primeira vez no bar (o homem que eu havia flagrado com minha cerveja na mão).

Então conversamos, e eu procurei fazer perguntas: se eles gostavam do bar porque ali se reunia quem era do rock. Ao passo que o Mega me interrogou: o que era rock? E aí fui eu explicar minha visão do rock: "sexo, drogas e rock'n'roll". Falei de metal, de "música pesada". Citei bandas: Slayer, Venon e Iron Maiden, as quais todos ali conhecem, mesmo que suas roupas não evidenciem (tanto Rafael, quanto Mega, e o outro rapaz (L) não estavam ostentando visual de estilo rockeiro nesta ocasião). 

Naquele momento eu precisava que me aceitassem como uma pessoa que tem as credenciais mínimas para estar ali naquele bar e conversar de igual para igual. Embora eu estivesse vestido com a roupa do passeio à Pinacoteca (regata cinza, bermuda marrom e bota própria para trilhas), além de cabelo preso com grampos visíveis, sinto que o meu visual não atrapalhou a interação. De certo, em outras ocasiões já aconteceu de me interceptarem para falar bem da banda estampada na minha camiseta, e isso gera empatia e premissa para assunto. O que marcou de verdade a interação foi talvez minha falta de conhecimento das regras envolvidas na interação para aquelas mesas, bem como minha visível curiosidade.

Quanto às regras: percebi o agenciamento de uma atitude agressiva por parte dos presentes. Mesmo Luca, absolutamente simpático quando conversando comigo, em momentos sentiu que precisava se impor e gritou ameaçadoramente a L.

A situação foi a seguinte: Luca estava me mostrando uma foto de sua namorada, com quem estava desentendido, quando L falou alto: "você fica mostrando foto da sua mina pros outros? Pra mim isso é coisa de homem corno". O que para mim seria uma brincadeira seguida de risos constrangidos, para Luca foi uma ofensa insuportável. Apontou o dedo na direção de L e falou "pelo menos eu tenho mina, não fico sem mina que nem você. Dá pra ver que você tá sem mina pela forma como você se porta". O comentário de Mega de tão cru e revelador chega a ser engraçado: "Ó os caras querem brigar, se fosse eu, eu brigava".

De fato, a atitude de L estava me incomodando bastante: cruzava as pernas sobre a mesa, despejava o resto da bebida dos copos no chão, se envolvia com Mega em torturas na região da nuca e o feria no braço com socos que estalavam muito forte, e entre uma brincadeira e outra inclusive deixou escorregar da mão e esfacelar no chão o segundo Litrão que comprei a pedido de Rafael (com quem dividi o pagamento), pois estava à espera de seu amigo Renato e queria colocar uma cerveja gelada para ele tomar quando chegasse. Em primeiro momento as brincadeiras e gritos de L em direção a Mega chegaram a me assustar e causar sensação de insegurança, já que eu não sabia que se tratava de duas pessoas já conhecidas (e não de estranhos), e que aquela agressividade era prevista pelo código de amizade.

Depois de algum tempo Luca comentou sobre L "esse cara é muito chato mas sabe que tem que cuidar de mim. Por mais chato que um cara seja, se ele for da sua gangue, ele é obrigado a cuidar de você". E assim eu vislumbrei a como Luca poderia estar experimentando aquele ambiente como permeado por redes invisíveis de filiação a gangues e reconhecimento mútuo. 

Noutro momento, quando já havíamos trocado de lugar dentro do bar, um homem C (que quando cheguei estava num grupo particularmente animado mas com olhar torpe e distante, e que depois de algum tempo dormiu e acordou sentado sozinho na mesa - literalmente perdeu o bonde) sentou-se conosco após acordar. Foi apresentado por algum daqueles com quem já havíamos trocado alguma conversa. A introdução é feita de forma breve e significa converse com ele: e se dize assim: "fulano é gente boa". Pois bem, conversávamos eu e Luca com esse gente boa, que deixava visivelmente claro que havia excedido na bebida: não parava de cuspir no chão do bar e cambalear. A nossa conversa fluiu para os estilos reggae e dub, e Luca, que não dominava esses gêmeros. preferiu continuar mostrando para mim vídeos no YouTube pelo celular, desta vez da banda post punk brasileira Nenhum de Nós (mesmo que eu estivesse claramente me empenhando em conversar com C sobre Yellowman e King Tubby). Em dado momento C tentou servir-se do restante do meu vinho sem no entanto dividir comigo nem com Luca, que ficou enfurecido, levantou a voz para se impor e dirigiu ofensas e palavras de ordem a C, que pediu desculpas e despejou de volta um pouco do líquido no meu copo. Depois também, C inclusive nos ofereceu cerveja.

Então quanto às regras posso dizer que a imposição da vontade alia-se à justiça (o que é certo, é certo...) para proteger a honra do homem Luca num caso, e para instaurar a reciprocidade, no outro. Assim sinto que ao ver Mega com minha garrafa de cerveja era esperado que eu me impusesse e o fizesse reconhecer que eu também tinha ímpeto, apesar da roupa estilo à passeio.

Quanto à curiosidade, foi o que disse a outra figura com quem conversei bastante (I), um tipo mais velho que os já citados, de cabelos longos, camiseta de uma banda que não pude identificar, muitas tatuagens e argolas pesadas na orelha.  Apesar de sua aparência intimidadora, (diferente de L e Mega, que intimidavam por suas atitudes) I de pronto também começou a conversar comigo, em certos momentos disputando minha atenção com  Luca. Certamente gostou da atenção que lhe dispensei, aguardando calmamente que terminasse suas frases concatenadas de forma sempre lenta e terminadas com um "tá ligado?" que buscava conferir a qualidade da compreensão. Iniciou assunto falando que eu parecia o Nando Reis, e gostou de que eu me esforçava para continuar suas ideias tão desconexas e de ocasião. Chegou a falar de Hitler, conversamos sobre Metallica, pagou uma cerveja para mim e C, e em certo momento falou:  "você gosta de fazer perguntas", rindo e expondo seu dente dourado.

Luca, que na ocasião havia ido até a calçada fumar, voltou quando eu conversava com Rafael e Renato (muito aguardado por Rafael). Renato contava sobre uma festa de amigo seu em que compareceram panicats. E foi quando Luca chegou. Querendo aderir à roda de conversa que se formou enquanto ele estava fora, teve a infelicidade de comentar: "Panicat porque você chega dando ideia na mina e ela entra em pânico?". Eu ri, mas Renato não gostou e pôde então se prevalecer: iniciou o modo agressivo, foi assertivo em dizer que Luca havia caído de pára-quedas na conversa, e que queria desvirtuar o papo. A situação ficou pequena para Luca, que diante do meu silêncio - que confirmou tacitamente seu ostracismo - voltou para a calçada. Não o vi mais naquele dia.

Vejo agora o que eu poderia dizer para apaziguar a situação : "Mas, não, o Luca é meu amigo, o Luca é gente fina. Chega aí, Luca!" Quando Luca saiu o comentário de Rafael a Renato foi claro: "se você quiser, você arregaça ele". Foi Renato, inclusive, que um pouco antes também se dirigiu com atitude intimidadora a um homem que havia tomado seu lugar na cadeira enquanto tinha se retirado brevemente. O homem levantou e devolveu o assento sem maiores discussões.

E ainda sobre o que poderia ter dito mas fui incapaz diante de tamanho estranhamento e choque lembro da interação com Mega e L, quando os inqueri sobre brigas, perguntando jocosamente se eles não iriam querer brigar comigo, ou se eles quebrariam uma garrafa de vidro no pescoço de alguém, ao passo que Mega me perguntou se eu gostava do mal.  Respondi que acreditava na lei do karma. "O que é karma?", perguntou Mega. Respondi que é a ideia de que as ações que a pessoa faz voltam para ela em suas consequências. "Pau no cu do karma", respondeu Mega. Vejo agora que a pergunta sobre o mal era um ensejo muito interessante para falar de Satanismo, um tema tão caro ao metal.

Ainda sobre brigas, levanto a curiosidade sobre efeitos psicóticos da cocaína, usada de forma intensiva e corriqueira nos banheiros do bar. Em outras visitas tive relatos que afirmavam haver traficantes na própria galeria, o que Rafael e Renato disseram haver mudado. Deve ser por isso então a demora que experimentava para receber a droga que havia pedido, queixando-se algumas vezes em voz alta e coçando aa cabeça que: "o menino ainda não voltou com minha farinha".  Perguntei para Rafael e Renato se os frequentadores desse rolê "estavam ali pelo pó", e Rafael, já com narinas ranhentas e brancas, prontamente falou que 90% estavam, e Renato foi mais drástico:  "vish, eu acho que 98%". E o que se desenvolveu a partir desse assunto é que o indivíduo cheira, fica virado e depois "acaba apanhando".  Foi diante desse assunto que  Rafael pediu para que Renato "salvasse uma de 10", tocando sua mão, e indo ao banheiro com o pino recém conseguido.

Ainda quanto à circulação de droga dentro do bar, em dois momentos veio a mim um homem de testa suada pedindo cinquenta centavos "para comprar", e fazendo um gesto com o nariz deu umas fungadas. Em troca dos meus cinquenta centavos me deu uma caneta, que recebi com expressão de incompreensão. Neste momento I pediu para que eu pintasse com os pêlos brancos de sua barba, pedindo para "não zuar", e assim eu colori sua barba, numa situação que produziu proximidade e confiança.

Nesse momento já começavam a ser arrastadas pilhas de engradados de cerveja pelos lados e por detrás das mesas, e ficar confortável estava ainda mais difícil. O funcionário da empresa de logística justificava, para que sua sua insistência em conseguir espaço não fosse mal-entendida: "dá uma licencinha pra gente, pra vocês beberem a gente primeiro tem que entregar,né?". O chão, que já estava molhado desde que eu havia chegado, a essa altura do campeonato estava tomado por uma meleca de água, cerveja, saliva e sujeira trazida pelos calçados numerosos usuários, que entravam e saíam a todo tempo para ir ao banheiro, também tendo que ganhar algum espaço por entre os cotovelos e costas daqueles que se encontravam sentados, numa proximidade causada pela estreiteza que possibilita inclusive breves conversas entre os diferentes atores.

Não saí de dentro do bar naquelas quase 3 horas de observação participante. E como Luca havia sido ostracizado há algum tempo, comecei a conversar com um rapaz pelo qual me interessei quando o ouvi lamentar em voz alta: "Por isso eu não gosto de vir aqui, um lugar de merda!". Depois de alguns dedos de prosa, conversando sobre as tão insinuadas brigas que acontecem ali Rodrigo confessou que era gay, e que de certa forma estava alheio àquelas atitudes pois mantinha "a defensiva", embora em algumas ocasiões tenha sido necessário até a ele se impor:  "no final eles te pegam em um momento que você não quer apanhar e...".

Fiquei surpreso com o fato de uma pessoa dessa orientação sexual ter aceitação em grupos nos quais o ideal macho é tão forte. Quando manifestei minha opinião sobre o assunto, e mencionei a palavra masculinidade, Rodrigo sentiu um lampejo de compreensão, riu bastante e falou contentemente "Nossa! Alguém que me entende!", e realizamos um sincero aperto de mãos. O papo com ele estava interessante. Disse que tinha certeza que eu era ator! Vai entender... Convidou-me para ir lá fora fumar um cigarro,  mas neguei o convite pois tinha que estar na saúde às 18h.

Foto tirada por volta das 17h30. Da esquerda para a direita: conhecido de Rafael que havia acabado de chegar, eu, Rafael e Rodrigo. O bar já estava mais vazio à medida que as pessoas se retiravam para ocupar as calçadas. Foto clicada por uma das seletas garçonetes do bar.

À hora da minha saída, às 17h40, a calçada estava definitivamente preenchida por uma massa muito grande de rockeiros, que não percebiam mas na união de suas diversas rodas de conversa especificas formavam um todo visualmente homogêneo e volumoso. Da próxima vez quero investigar o circuito do rolê, especialmente depois que o bar do China fecha e os pedidos de "descer para o bar do Bin" começam a se multiplicar entre as pessoas. 

Bar do Bin e depois aonde? O rolê também pode acabar (ou começar para valer...) na casa de alguém. L por exemplo me informou que mora a alguns minutos do bar do Bin. Quais outros estabelecimentos comerciais recebem o público que compartilha dos símbolos do rock? Eles são específicos ao rock ou gerais? É de fato uma socialização que orbita em volta de drogas? Quais outras atividades constitui esse tipo de socialização?