quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Breve comentário sobre o filme Natimorto.

Ontologia do valor humano.

O protagonista, misantropo assexuado
apaixona-se pela talentosa cantora e oferece a ela
em primeiro momento, algum entretenimento e confortável acolhimento 
em segundo momento, uma coleção de bad vibes.
Homem que não se encontra e não se valoriza - nunca está satisfeito: não sabe ficar de boa.
Em suma, homem negativo, tipo de ser humano que participa da vida pelo "não": negando sua condição humana mas também exasperando toda sua energia no falso prazer auto-contentado da renúncia mal consumada.

-Escuta aqui, seu lixo, ninguém é obrigado a sentir pena de você. Você não vale nada, e enquanto você não agregar um pouco de Vida a esta sua existência menos do que medíocre, insignificante, ninguém, especialmente nenhuma mulher, tem que sentir o mínimo de empatia por você. 

Seja que nem o Tim Buckley, filho, quem até para se lamentar o fazia de uma maneira bela - com aquela voz e aquela sensibilidade.

Seja que nem um ciclista que pensa com as coxas e sobe pedalando a Rebouças sem medo nem desistência no meio dos carros.

Seja ridículo, esteja mal - seja frágil e vulnerável, estampe na cara o seu desconforto, mas também esteja bem: conduza seu barco de melancolia por vales sombrios até aportar em águas claras onde os barcos amigos aguardam com estandartes alteados.

Seja, adorne-se, pinte-se, vista-se.

Seja, mas se preserve.

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