domingo, 26 de março de 2017

Uma brisinha esse texto - revolução ontológica.

Tendo recentemente submetido o meu trabalho um sem-número de publicações que me oferecem o mérito de ver-me publicado, pergunto a mim próprio, cinicamente
"por que sequer quero eu ser publicado?"
Acaso alguém apreciar o texto que escrevi engrandece a obra?
Acaso alguém admirar a minha fotografia faz dela mais significativa?
Não, há ego e vaidade apenas.
Uma publicação é senão um grupamento de pessoas que se consideram sabidas o suficiente para selecionar aquilo que 
irão imprimir em folha de papel  e colocar em circulação o texto que ninguém vai ler, para prestigiar ao autor, que irá então celebrar tomando sua champanha à mesa de jantar com suas pessoas. É gente tentando atribuir sentido à vida, e roubar do contentamento a parte que lhe cabe.
A minha vida não é para ter sentido, e a minha champanha que eu não bebo eu bebo sozinho.
Então por que quero eu ser publicado?

Sim, mesmo para mim que escrevo só por escrever, sorrateiras vêm ter comigo a notoriedade e  a reputação.

Que seja eu publicado, mas não em meus textos bons, e sim nos ruins, como este.

quinta-feira, 9 de março de 2017

Por entre os vitrais da casa do Senhor
a auréola loura é roubada astralmente
se levanta a humana súplica da dor
na mente frágil de fio evanescente.

Logo, o pálido desmaio vem sem sabor
-enferma vertigem, baloiço delirante-
Não posso mais contra este horror,
Aos pés de Deus eu caio, clamante.

Se não posso viver com entusiasmo
É quando o sono não chega até mim
Que não suporto mais viver assim

Desejo do fundo do meu coração
Desaparecer, absorvido no abismo
Mas meu canto é a fé, dizendo-me que "não".
... e o "professor", ontem, na Faculdade de Economia e Administração: sujeito super nervoso, que cospe as palavras enquanto apresenta o diagnóstico social dele e dos homens dele, utilizando conceitos quais "coisificação", "fetichismo" e "alienação", para tentar nos convencer - com discurso de ódio tão insuportável quanto sexista (que faz da sala de aula um ambiente hostil e sem diálogo) - de que atualmente é simplesmente impossível algum de nós ser feliz!

Gente, cê acha?! 

Saí da aula me perguntando: se for para se tornar uma pessoa amargurada, é preciso tanto estudo assim? Ou, melhor dizendo, qual o valor de um conhecimento científico que professa senão a impiedade e desesperança?

#indignado

terça-feira, 7 de março de 2017

Carta de motivação à SP Escola de Teatro

Como antropólogo apaixonado pela literatura e com vocação para a poética, participar de um curso de extensão na SP Escola de Teatro sobre Samuel Beckett é interessante à minha formação devido não somente à potência da performance como artifício de complicação cultural, mas também para explorar a potência do teatro como meio de transformação social.

São célebres os pensadores que ousaram problematizar a irrealidade da realidade da vida, e considerar os campos, as cidades e as ideias como coisas fictícias, preservando no ambiente dos sonhos a verdadeira realidade: como toda a literatura consiste num esforço para tornar a vida real, o eterno aforisma de Hipócrates agora confirma a si mesmo, e o dramaturgo aparece como um criador de realidades potenciais. Antes, o romancista, atualmente, o dramaturgo no palco, ou o diretor servido por uma equipe audiovisual, às vezes os políticos também, estes, os legítimos sonhadores dos sonhos sonhados pela humanidade.

Mas tendo nascido sob constrangimentos sociais que acarretam na classificação da minha pessoa como de "baixa renda" - partilhando da mesma seara econômica dos filhos de caboclos que perderam sua cultura própria ao serem engolidos pela cidade, o que eu, como dramaturgo talhado à imagem da retidão e da ética, devo escrever? Com certeza, a história de nossa gente: dos trabalhadores, dos índios...

Inspira-me a ironia dos diálogos de Tchékov, que produziu durante a crise do drama; as técnicas de purgação da ilusão burguesa operadas por Brecht ao estabelecer o afastamento entre espectadores e atores no palco; mas sobretudo as experiências de Eleonora Fabião, que num misto de improvisação e perigo busca produzir com seu corpo dissonâncias na mesmice da pólis - verdadeiros ritos de passagem. 

sábado, 4 de março de 2017

quarta-feira, 1 de março de 2017

Eu preciso de férias das minhas férias: um período em que eu não volte para a "programação normal", mas que também não tenha de ficar aqui, em casa.

Eu quero, de uma vez por todas, me tornar outra pessoa: mudar definitivamente meus hábitos e minha personalidade - dar reset e recomeçar do princípio, enquanto ainda há tempo.

Eu quero voltar para o Vipassana, eu quero estar num mosteiro - um retiro espiritual que seja permanente, eu quero tornar-me um monge.

Não preciso de viajar, pois minha sede de wanderlust e de contemplação de paisagens já foi saciada, uma vez que eu realizei que tudo o que há é só a minha mesma consciência de observador projetando-se sobre a topografia natural, pessoas ou situações. No pouco que vi, eu já vi tudo, e se  eu continuasse, só tornaria a ver de novo a mim mesmo. E ademais, quem viaja apaixona-se pelas formas da natureza da mesma maneira que quem deseja apaixona-se pelas formas corporais: a curva do corpo de uma mulher ou o contorno de uma montanha, ambos são belos mas efêmeros - a carne apodrece e a rocha sofre erosão.

Eu quero o que é espiritual e eterno - quero tudo disso, e vou consegui-lo pela contemplação divina - da mesma maneira que quem rega uma raiz está regando a planta toda, quem se entrega a Deus entrega-se à unidade.

E a unidade, sim, a unidade é o objetivo maior de toda a vida humana, seja a do casal conjugal que partilha uma mesma alma, seja a do devoto que, vivendo sob regime ecumênico, tem na sua vida e no seu corpo nada mais que apenas uma engrenagem para o funcionamento do templo.

Consideração suicida

Ouvindo a última peça musical do compositor erudito cuja morte prematura o impediu de apreciar sua própria obra, eu escrevo agora com um demônio tocando violino ao pé da minha cama, e racionalizo o seguinte:

Se eu viesse a por um fim à minha própria vida - sendo minha existência humana tão pequena, quem ou o que seria alterado pela tragédia? Sim, o desaparecimento da minha pessoa nada afetaria a organização da política mundial, nem a composição do solo que faz as sementes germinarem,  nem os habitats e ecossistemas naturais que sustentam a vida selvagem, muito menos a distribuição de renda na sociedade econômica, e nem tampouco as instituições de caridade que buscam fazer deste solo terráqueo um mundo melhor para aqueles que têm gosto de viver.
Vivam e gozem aqueles que assim o querem, mas por que, Deus, nós, os malditos, devemos ser obrigados a viver a vida não como desafio, mas como fardo?
Mas há a família, que seria alterada. Minha avó, coitada, que tanto luta contra dores e todos os dias se mostra firme para a vida, ela perderia uma das suas razões de continuar; minha mãe, também, acordaria com um motivo a menos para se levantar da cama, e com um fardo moral gigantesco sobre as costas; minha jovem irmã perderia um exemplo, e minha tia perderia um amigo. Todas elas se perguntariam "onde foi que eu errei?".
Que não me julguem, vocês, pois o alcoolismo, tabagismo e psicodelismo desenfreados  que praticam consistem em suicídio crônico!
Mas considerando agora que os estágios do luto são passageiros, e que o pesar psicológico das dores morais perdurariam por, no máximo, o tempo de vida de cada uma das pessoas desta pequena família, que enfim também voltará ao pó, o meu suicídio teria implicações apenas sentimentais e seria eventualmente esquecido.

Mas agora também penso que, talvez, a existência minha, neste Universo, cá no planeta Terra, nutrido por este solo de meu Deus, tenha, enfim, um sentido. E este é que a tragédia da minha vida seja observável àqueles que choram de barriga cheia, e constitua, naqueles cujas situações objetivas de vida sejam superiores às minhas, um espelho reflexivo de auto-consolo. Para quem naturalmente sofre com o tédio, a necessidade de ostentação de suas posses, a excessiva cobrança em relacionamentos, a falta de liberdade dentro da família, pense em alguém órfão, de frágil saúde psíquica, sem herança nem carreira profissional que seja frutífera, vítima diária da solidão, que traz consigo sua parceira inseparável, a melancolia, a qual, imbatível por dias a fio, e somada à revolta complacente da auto-piedade, engrossa e se turva em morbidez. Assim estou eu.

Todas estas racionalizações respondem aos aspectos materiais da consideração suicida, mas e quanto aos aspectos do Oculto? O demônio ao pé da cama diz que o inferno é cá na Terra mesmo, e que, tanto antes quanto depois da vida, nada, apenas a escuridão, existe; mas ele não poderia estar mais enganado: vive iludido pela manifestação maiávica do mundo material, cuja compreensão humana necessariamente precisa diferir, dualmente, entre antes versus depois, ou vida versus morte, quando, na realidade transcendental, está claro para os sábios, santos e meditadores de todo os tempos que o mundo material, assim como nosso corpo, não são tão sólidos quanto parecem ser, e de que existe um contínuo de densificação - em nível cósmico mas também individual - do espírito, que é eterno, em matéria, que é transitória e constitui, na verdade, a manifestação ilusória da Realidade Suprema mais sutil, de maneira que meu suicídio seria altamente nocivo para o próprio espírito que expressa nesta carne do meu corpo certas qualidades imemoriais adquiridas através de nascimentos sucessivos, pela regulação universal da lei do Karma, para constante aperfeiçoamento da alma caída, em rumo de volta ao Supremo.

Mas isto não me consola, apenas estabelece um peso, um fardo metafísico que, longe de me libertar, me amedronta e me prende aqui, asfixiado, nesta vida ingrata e decadente, de falta de apetite e desmaios, de insônia e masturbação com pornografia à hora morta da madrugada.

Apenas eu tivesse mais coragem para enfrentar a vida, ao invés de passar o tempo me dignificando a uma rotina de auto-policiamento e isolamento, que acaba por me atrofiar...

Apenas eu fosse ignorante ou preguiçoso e corajoso o suficiente para abraçar o demônio e apontar a pistola...

Apenas eu tivesse um serviço para empregar meu tempo e me matar de trabalhar, de uma maneira que não me sobrasse tempo para uma consideração suicida, mas sim tempo cronometrado para tirar a bota apertada, sentar com minhas pessoas na sala de jantar e dizer "querida, aqui temos a fartura", com ar de quem sabe que é digno e não precisa de esforço discursivo para que os outros reconheçam nele o próprio valor. É pedir demais?

Apenas eu soubesse como nutrir uma esperança...



(Este texto suave, que ninguém lerá, foi escrito para que o lessem e, sensibilizados pelo meu lamento sincero, me oferecessem consolo: um carinho, cafuné, um beijo; mas ninguém me acariciará, me consolará, me beijará.)