estar longe mas também ser próximo;
desenvolver velocidade sem acelerar;
pular alto e me manter suspenso no céu;
saltar em nuvens e não estar em sonho.
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Caudalosas nuvens pairam estáticas e douradas sobre nossas cabeças.
O entardecer lança fachos de sombra fosca sobre o cruzamento.
Vejo seres humanos como quem vê espíritos encarnados, com membros e órgãos, polegares opositores e potencialidades infinitas.
Acorrentados em torres de silêncio por leis de mercado que não podem controlar.
Vítreos globos oculares espreitam confusos. A lotação vem lotada de trabalhadores.
Trabalham por quê?; para quem e para quê?
Que querem eles?
Que hei eu de querer?
A geometria e a Física, a arquitetura das cidades, a mecânica e, depois, os navios não foram idealizadas por quem estava entabulando conversa, e sim por aqueles que passavam o tempo, absortos, cultivando pensamentos em seus universos íntimos e solitários.
Diante desta constatação fica destruído o constrangimento de se precisar bater papo. Tão natural como a rosa escarlate que apresenta cor, ignóbil como a pegada no pó da estrada, e sórdido como o abanar de rabo do vira-lata encardido, é o ser humano falar palavras.
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É para o teu bem, querida
Que dedos meus sejam para acariciar
Tuas intumescidas pétalas de carne
e não para dedilhar as cordas da guitarra elétrica.
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Ontem,
de tão entusiasmado,
explodi em felicidade e de súbito fiquei triste.
Hoje,
de tão desencantado,
enchi-me de vazio e num lampejo fiquei feliz.
Quê são as sensações?
Estou cansado de as sentir...
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As pessoas existem como rochas.
Esculpidas na carne pelo Acaso,
compostas de massa de matéria
com fisionomia natural
e alguma personalidade.
Nascem assim, são assim.
E eu as vejo como quem observa paisagens
ou Universos particulares.
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O sorriso que há em tua face não é teu
pois tu não és de ti própria
mas sim de Deus.
Diante de teus olhos eu amo não a ti
mas à Natureza, que é bela.
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Um instrumental gajo de minha idade
ontem veio a mim e me disse
"eu quando criança enforcava gansos,
era cruel mas me arrependo"
lembrei-me com memória desbotada
de tardes evanescidas
em que meu pai e minha mãe olhavam de longe
correndo apavorada a criança deles
no campo largo dos parques infantis
com mãos ao alto fugindo de gansos hostis
que grasnavam e intimidavam e mordiam no saco.
não posso m'arrepender, pois continuo assim: covarde e com medo.
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