A mulher, portanto, que nascesse com a veia poética no século XVI seria uma mulher infeliz, uma mulher em conflito consigo mesma. Todas as condições de sua vida e todos os seus próprios instintos conflitavam com a disposição de ânimo necessária para libertar tudo o que há no cérebro. Mas qual o estado de espírito mais propício para o ato de criação?, perguntei. [...] Sabemos apenas de passagem e por acaso que ele (Shakespeare) 'nunca apagou uma linha'. [...] escrever uma obra de gênio é quase sempre um feito de prodigiosa dificuldade. Tudo se opõe à probabilidade de que ela se aflore íntegra e completa à mente do escritor. Em geral, as circunstâncias materiais opõem-se a isso. Os cachorros latem; as pessoas interrompes; o dinheiro tem de ser ganho; a saúde entra em colapso. Além disso [...] ele (o mundo) não pede que as pessoas escrevam poemas e romances e contos; não precisa deles. [...] mesmo no século XIX, a mulher não era incentivada a ser artista. Pelo contrário, era tratada com arrogância, esbofetada. Sua mente deve ter sofrido tensões, e sua vitalidade foi reduzida pela necessidade de opôr-se a isso, de desmentir aquilo. [...] a mente do artista, a fim de alcançar o prodigioso esforço de libertar, íntegro e completo, o trabalho que está nela, precisa ser incandescente, tal como a mente de Shakespeare. [...] seus sentimentos e rancores e antipatias nos são ocultados. Não somos interrompidos por alguma "revelação" que nos faça lembrar do escritor. Todo o desejo de protestar, de pregar, de proclamar alguma injúria, de desforrar-se de algo, de fazer o mundo testemunhar algum revés ou injustiça foi descarregado dele e eliminado. Assim, a poesia flui dele livre e desimpedida.
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