Fotografia cósmica
Céu da tarde sobre a periferia paulistana.
Em algum bairro longínquo, para além da última estação do metro de certa comarca desconhecida, e lotação adentro por vias impossíveis, reproduz-se exatamente a vida certa aqui.
No ritmar de passos naturais pela calçada do sempre seguir em frente, corpos eretos sobre o solo vão às compras, e acima brilha majestosamente o Sol a fulgurar estes desassistidos casebres caramelo de tijolo baiano.
Daqui de cima, tudo é laje e roupas ao varal. Sinto alegria quando ouço o vizinho urrar em êxtase ufano, alto sobre a laje do casebre todo seu, onde habitam mulher e filho repousados.
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estes fragmento tem um super potencial.
Agora eu não estou aqui.
Fecho os olhos e abraço o planeta Terra.
Sou o puro espaço.
Sou o Sol,
a vasta terra a nutrir imensos e úmidos campos verdes,
a água que corre cristalina como espelho translúcido,
sou o calor de todos os corações pulsando ao mesmo tempo.
Sou o vapor sutil que se levanta e conduz o perfume das flores.
Não sou eu. Apenas sou.
Sou você.
O ar infinitamente em movimento a transmitir os sons das buzinas e o ronco dos motores na cidade que funciona como máquina. Sou todos os corpos eretos sobre o solo.
Sou a célula de uma bactéria no estômago de toda a população mundial. Sou um bilhão de ecossistemas microscópicos.
Sou todos os fenômenos biológicos.
Sou uma fotografia cósmica, e o tempo para mim não existe.
Eu sou, mas sou sozinho, no meu quarto numa madrugada intelectual. Sou agora.
Dormir seria perder tudo isto, e amanhã quando tu me vires no teatro de caras e bocas e palavras, pergunta-me o que tomei de café da manhã.
Eu te amo.
Sou a febre.
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