quarta-feira, 16 de março de 2016

Diário de leitura: "O Livro do Desassossego"

Ele ( O Livro do Desassossego ) não traz a solução tranquilizadora que muitos desejariam, a saber: a heteronímia teria sido uma farsa voluntariamente montada e em seguida controlada por Fernando Pessoa, como o animador soberano e calmo de um conjunto de marionetes. O que o Livro confirma, com uma aterradora nitidez, é a ausência de centro nessa multidão, a inexistência de limites nítidos entre seus componentes, a falta de qualquer precedência psicológica ou cronológica entre eles. O que ele expõe é realmente um drama, nos dois sentidos da palavra: teatro, sim, mas também tragédia existencial vivida na mais funda dor. p. 27

O horror ao Outro, que se exprime em vários fragmentos, aqui atinge seu grau máximo, na medida em que a mulher é a diferença radical. Destruidor de si mesmo por uma auto-análise obsessiva, Pessoa/Soares destrói também o Outro. Em suas considerações, a mulher se torna uma imagem, uma ficção. Através de raciocínios inexoráveis, ele vai demonstrando que o amor é uma ilusão e uma impossibilidade, já que o real jamais corresponderá ao sonho e a comunicação será sempre malograda. A proposta decorrente é lógica: "O amor maior é por isso a morte, ou o esquecimento, ou a renúncia. p. 22

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