sábado, 25 de junho de 2016

Constatação apocalíptica

O Brasil está tomado por dispositivos inteligentes conectados através de telefonia móvel de mensagens e imagens instantâneas. Destacadas daquilo que é concreto as pessoas têm como mais novo órgão do corpo orgânico os gadgets que as afastam de si mesmas apenas para as aproximarem virtualmente de seus semelhantes.

Embora as críticas a esse sistema existam, ninguém passa incólume a esta inversão da realidade, em que a velocidade da troca de informações é nauseantemente tão absurda que numa vã aspiração à onipresença os indivíduos expõem-se e se projetam à visualização. 

"Sentindo-se o pica das galáxias e achando que tudo que faz é muita onda". 

Tenho em mim este desconforto visceral que me faz cuspir no chão. Proclamar-me contra esse sistema que cresce como um Leviatã-de-zeros-e-uns é ser taxado de antiquado. Diante da efemeridade de tudo o que há, o mais novo fenômeno de exortação tecnológica é o sórdido hábito de registrar em fotografias das mais banais todo e qualquer acontecimento ignóbil, e dispô-las em "redes sociais" como a dizer "não obstante a avalanche de tudo o que acontece, cá também estou eu!".

E estes parvos seres humanos ainda se engrandecem de contentamento quando, no interior de tais programas, recebem "likes" e outros indicativos de aprovação virtual. Amigos virtuais, perfis virtuais, personalidades virtuais. Sim, coitados de todos nós! Quão insólito é viver nestes dias! 

Sou apurado eu meu diagnóstico?, cotidianamente abatido ao ponto de supor que se tão intensa inocuidade do indivíduo a que somos submetidos pelos softwares e apps não responde a premeditados interesses malignos, então a própria ideia de progresso é ela mesma apenas um grande labirinto no interior do qual andamos como baratas tontas, chocando a testa na parede, sem saber se galgamos um futuro melhor ou apenas nos imiscuímos desorientados à espera da hora da morte.

Multidões no metro hipnotizadas por brilhantes telas celulares, apenas para desbloquear o smartphone, abrir um app qualquer e descer a tela à espera de alguma novidade que ele sabe que não virá. Bloquear a tela de novo e repetir tudo dali a 2 minutos. 

Sim, aguardo com fervor distópico o dia em que tais plataformas virtuais sejam dissolvidas. Enquanto isso fico com vossos likes.

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