você no auge da sua paixão era até fofo, cara. uma ingenuidade adolescente deliciosa e que não volta mais.
vocês foram felizes, sim, foram. não poderia ser diferente: ser jovem com ela era o máximo.
descobrindo sua paixão, olhando encantado para ela, e ela também assim, deixando você habitar os cabelos dela. e passavam a tarde a mirar um nos olhos do outro. era único e inédito e o suficiente para toda a vida, mas vocês pensaram que ia durar a vida toda... então o prazo de validade expirou sem vocês saberem nem bem por que nem como. o espelho que refletia dois quebrou e você olhou para frente e se viu sozinho com hematomas no rosto e olhos em lágrima.
eu agora vejo você como uma criança perdida num carrossel nostálgico e depressivo. você é pequeno, usa um bonézinho azul, tem em mãos um pirulito e chora de boca aberta pelo seu pai que te deixou ali sozinho, girando subindo e descendo montado nos cavalinhos. você desce do cavalo mas não ousa andar porque tem medo de enfrentar o escuro para além da grande praça circular do carrossel.
agora eu estou me aproximando, eu venho da luz, você ouve os passos ecoarem na madeira mas não sabe de onde eles vêm. quando chego do seu lado olho você de cima a baixo com desprezo e raiva. você engole o choro e estende os braços para cima para eu te pegar no colo mais uma vez e te tirar daquele lugar sombrio mas eu te desprezo.
agacho à sua altura, coloco as mãos no seu pescoço e te esgano até seu pescoço molezinho fazer pender para a esquerda sua cabeça de faces roxas inchadas.
seu defunto de criança nua eu deixo apodrecer a carne e levo na minha bagagem o seu esqueletinho branco e reluzente.
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