Yanesha - Peru |
Os yanesha são um grupo étnico e cultural de língua Arawak habitantes das florestas úmidas do Peru. A sociedade deles é organizada de maneira a propiciar o desenvolvimento de capacidades humanas que são escassamente exploradas pela sociedade Ocidental moderna. O xamanismo por exemplo é estudado por homens jovens que desejam aprofundar-se nas conexões com espíritos de outros seres humanos, sombras de pessoas mortas, almas primordiais de animais e espírito das plantas. Os resguardos observados pela moça depois da primeira menstruação também são momento de aprendizado, quando são transmitidos os cantos que a mulher canta ao espírito das plantas. O xamã pode se especializar em xamanismo de tabaco ou de ayahuasca.
É nesta relação com os espíritos que o xamã consegue negociar a caça com o dono da espécie. Quanto a isso, das duas, uma: ou existe um animus primordial com consciência e capacidade de arbítrio, e o xamã relaciona-se com Isto, ou na verdade Este princípio trata-se de um Elemental atávico da consciência humana que representa este espírito da natureza. Como o que define o xamã é a capacidade de comunicação entre diferentes níveis cósmicos, então a primeira opção, que supõe uma tradução de perspectivas, deve ser a correta.
Cada indivíduo compõe-se de um corpo e de duas entidades incorpóreas: yecamquëñ ("nossa alma/vitalidade") e yechoyeshem ("nossa sombra").
Os sentidos corpóreos (audição, visão, olfato, tato, e paladar nesta ordem de importância social aos Yanesha) não são suficientes para perceber a dimensão espiritual que subjaz, normalmente eme estado culto, a grande parte do mundo tangível. Se há dimensões físicas e espirituais, é óbvio que estas não podem ser percebidas por meio de sentidos físicos.
A alma yecamquën é a substância anímica que manifesta especificamente a energia vital humana criada pelas divindades. Se os corpos fossem destituídos de yecamquën então seriam inanimados, mera matéria bruta. Como têm esta energia vital, estão habilitados a pensamentos e sensações. Em veradade, é a alma e não o corpo físico que é dotada das faculdades sensoriais que se manifestam em cada indivíduo. A alma percebe as coisas como elas "realmente são", isto é, a dimensão espiritual das coisas. Essa qualidade acontece (1) durante o sono; (2) em vigílias rituais e (3) após a ingestão de narcóticos ou alucinógenos. O comum a esses momentos é que acontecem num momento em que os sentidos corpóreos estão enfraquecidos ou sobre-excitados, permitindo a utilização da energia vital para ativar sensualidades desencorporadas.
Para os Yanesha o conhecimento espiritual é adquirido quando a pessoa concentra a vontade própria naquilo que quer conseguir, memorizando pensamentos e cantos.
A percepção em Aristóteles e Platão
Para Aristóteles os indivíduos coletam informação do mundo através dos sentidos. A informação é avaliada pelo intelecto e interpretada. O paradigma de Aristóteles é semelhante ao racionalismo ocidental que a ciência moderna usa para produzir suas verdades asfixiantes.
Para Platão, há o mundo sensível que é inteligível pelos sentidos. Este mundo entretanto é marcado por mutabilidade contínua - um mundo de aparências que é contraposto pela essência da Forma Abstrata, a qual é compreendida apenas pela alma.
Por exemplo: "caneta": existem vários exemplares físicos desta ideia, embora a ideia da caneta seja única. Qual delas vale mais a pena de ser conhecida?
Adaptado de: Santos-Granero, Fernando. (2006). Vitalidades sensuais: modos não corpóreos de sentir e conhecer na Amazônia indígena. Revista de Antropologia, 49(1), 93-131. https://dx.doi.org/10.1590/S0034-77012006000100004
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