Há dias em que tudo o que me sobra da vida são como incômodos de um clarinete desafinado. Nestes intervalos sinto não ser possível trocar ideia alguma com qualquer ser humano vivo. Quando nenhuma palavra manifestada vai desintegrar o reconhecimento de que estou aqui no mundo sozinho.
Pesa-me a certeza de que não sou o mesmo do que os pensamentos que involuntariamente me ocorrem pela mente. Sei das palavras como lampejos banais de significado que consigo materializar através de esforço cognitivo racional; mas para além disso, o quê? Já não há mais nada, nada que eu queira manifestar, nada em que eu queira colocar as minhas mãos.
E assim o ato da comunicação dói-me, como a desesperança de uma vida humana destituída da crença em Deus.
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