Na cadeia de originação do sofrimento estudada no Budismo, upadana vem depois da ignorância e do desejo, e é o precursor deste ser (o ser condicionado na existência cíclica do samsara). A ignorância acerca da condição original da mente - que é luminosa e não-dual - reifica a percepção e faz com que surja o constructo sujeito-objeto. Isto permite que um sujeito logo deseje objetos. Ao se desejar, surge o apego aos objetos que temos conseguido ou, sobretudo, às sensações que estes objetos produzem, as quais são também pensamentos ou eventos mentais (o principal destes pensamentos é a crença numa identidade sólida à qual se aderem as sensações).
Um homem de mil anos atrás, e até mesmo um homem de 100 anos atrás não teria tantos problemas para manter a mente clara e relaxada, isto é, sem tantos desejos e apegos - já que não eram constantemente bombardeados por estímulos sensoriais que buscam capturar sua atenção. A publicidade, o entretenimento e a tecnologia digital são sempre potencial para encher o tanque de gasolina com mais upadana (=apego).
Ao simplesmente observar sem se distrair nem se apegar - deixando somente que os processos mentais surjam e se dissolvam em seu próprio tempo - com o tempo os pensamentos nebulosos e sutis se desvanecem e se dissipam no espaço da mente, a consciência do substrato. Os pensamentos ficam cada vez mais ligeiros, perdem seu poder sobre ti, e desaparecem. Se não te apegas,a mente por si só se curará e se dissolverá no substrato.
A mente do substrato é alaya vijnana, o terreno neutro do qual surge nossa experiência e nossa própria psique. Não temos na psicologia ocidental um termo equivalente, já que alaya é mais que a mente inconsciente, é também o repositório do karma de todas nossas vidas passadas, ou nossa continuidade mental. É também o espaço base no qual são codificados os outros planos do samsara na cosmologia budista: o mundo da forma (rupadhatu) e o mundo sem forma (arupadhatu), onde habitam os devas (em um estado de paz completa).
Existe um nível mais profundo da mente, ao menos para algumas escolas budistas, que é a consciência primordial, rigpa, inseparável do dharmakaya, a realidade absoluta.
As condições mentais das quais brotam o sofrimento e as enfermidades são acirradas pela reiteração de certa forma de pensar e se identificar com os pensamentos. A maneira pela qual nossa atenção é capturada pelas ideias que temos de nós mesmos é a raiz da maioria das enfermidades mentais. Se não subscrevemos à visão não dualista que separa a mente do corpo, então podemos afirmar que se apegar é o que nos faz doentes, e soltar é o que nos cura. O pensamento pode ser considerado como uma energia psicofísica, um tipo de combustível cujo canal deve se deixar correr sem obstrução.
Traduzido e adaptado de: http://pijamasurf.com/2017/01/la_ciencia_interna_de_no_aferrarse_a_los_pensamientos_la_clave_de_la_salud_fisica_y_mental/
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