quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Ontologia do (meu) sofrimento

O preço pago por existir

O verdadeiro significado do "pecado original" cometido pelo ser-humano, a causa de sua expulsão do Jardim do éden - este paraíso simbólico de virtude situado na 4ª dimensão, o verdadeiro significado desta alegoria é que o ser-humano, por nascer, deve sofrer. Evidentemente, a existência da alma em substrato corporal orgânico não deve acontecer sem prejuízos. Qual o preço a ser pago pelo gasto de Matéria, Energia e Espírito; pela possibilidade de ser este milagroso organismo que reúne porções sólidas de carne envolvendo ossos rígidos cujos movimentos obedecem ao discernimento do Eu? 

Observo minha pele e vejo matéria que poderia simplesmente existir numa casca de árvore, sinto meus passos como energia de movimento que poderia fazer correr um rio; meu espírito como manifestação de qualquer outro ser cósmico. Mas não. Tudo isso está aqui comigo, e em mim. E esta é a raiz fisiológico-material do sofrimento. Em suma, o próprio dispêndio de Matéria, Energia e Espírito produz o sofrimento, assim como a chama que aquece a água para passar o café também aquece demais a água que se dissipa em vapor. O sofrimento é condição da existência.

O problema do desejo

Fumando um no Vale do Anhangabaú
A primeira modalidade de sofrimento é também conhecida como o insaciável prazer do deleite. É natural que sintamos desejo sexual, pois a Natureza buscando reproduzir-se fundou o Masculino/Feminino, e no âmago deste composto implantou a Atração pela forma. Mas o corpo existe mais para suas faculdades cotidianas (ir ao mercado, à aula...) que para suas funções sexuais. O tolo desconhece esta distinção , e no decorrer das atividades mais a-sexuais que se desenrolam em seu dia a dia o tolo privilegia a forma, dando fluidez ao seu desejo descabido.

Pode-se dizer que todo desejo sexual tem como princípio uma agonia, uma infinita e cumulativa necessidade do corpo unir-se a outro. De fato, a questão da performance fere sobremaneira o ser-humano, que em desejo nutre em memória as mais variadas expectativas à sua próxima relação sexual. O tolo que olha pela janela do ônibus se encanta e se perde na beleza que habita a cidade, pois deseja tê-la para si, e a cada ponto de ônibus deixa com a beleza de outrem uma porção de sua alma.

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