quarta-feira, 13 de abril de 2016

Quem sente com os olhos enxerga o perpétuo movimento do mundo exterior sem que se precise preocupar-se com pensamentos.

A moça velha respira e fala, enquanto espanta com um safanão, que levanta poeira do chão, o cachorro saltando assustado a olhar por sobre o flanco ao chinelo vermelho pálido e descascado.

O papagaio anda de costas papagueando palavras moídas enquanto seu globo ocular dilata-se a sondar abaixo e acima o espectro profundo do espaço. O cachorro vem a cheirá-lo, os dois estranham-se e quando o papagaio alça as garras contra seu focinho, o cachorro flexiona as pernas traseiras e abre sua boquinha de mamífero pronto para dar o bote.

Num momento o tempo fica como suspenso por apreensão.

A moça velha, que encarna neste quintal a vontade de seguir em frente, harmoniza suavemente o Universo como a diplomata da causa da vida, e o tempo se destrava quando o cachorro sai à caça da mosca flutuante no ar cálido da tarde esparsa.

O lençol tão rosa e nítido desperta volúpia chacoalhando contra o azul plácido do céu no varal de todos os dias.

Acima, só as nuvens cinzas e brancas deslizam.

Os movimentos acontecem, eu não quero pensar, mas só ver.

Pensar é estar triste.

Nenhum comentário:

Postar um comentário