segunda-feira, 11 de julho de 2016

Descompressão.

Momentos antes de dormir, deitado em leito doméstico, observo, com pensamento calmo, as formas sem cor da mobília no quarto escuro.

Em meu lugar de animal humano, sinto como uma boa tristeza a resignação de que, no mundo, nada foi criado só para mim, e que, dos sonhos impossíveis cuja substância ocupa parte considerável do meu existir, nada, ou muito pouco, se concretizará.

Bebendo goles largos da amarga poção da lucidez, descarto os meus dias como figurinha repetida e inútil na Insondável coleção de eventos do Universo. Da memória evanescente destes dias que hoje gozo com implacável falta de cansaço, ao lado de família e camaradas, o que não há de ser decomposto e esquecido? 

Assisto a mim, passivo, assistindo à vida passar.

Mas toda objeção é vã, e o presente é sempre o único momento que há. Oxalá minha vida seja sempre assim - limitada porque real, medíocre mas desperta.

Na sombra do querer, alcanço meu contentamento através das lágrimas desalento. 

Querer mais é trair-me: não consigo ser além do que já posso ser-me.

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