segunda-feira, 29 de agosto de 2016

You said: don't you know it's the light God has created
Look your right hand takes what the left one leaves for it
Don't fight against what you are and always will be
This is no heresy 
These hands killed without guilt
This heart burns in repentance
These hands killed without guilt
This dream is lost in repentance



Estagnado

Meus pensamentos me machucam como caminhar através de um labirinto de espinhos.

O meu desconforto é tal que, para me resguardar de uma vida sem significado, precisei criar uma ontologia espiritual-religiosa que me atribuísse sentido à existência, mas com isso me envolvi num casulo que, não sei se, orgânico, vai me nutrir e dar vida a uma borboleta, ou se, mineral sólido, me engessa e sufoca.

Se a faculdade da reencarnação me entedia da vida, o karma, onisciente e inquisidor, me impede a ação, e, nesse meio, o satanismo,  terrestre e carnal, ilude como a última dose para um alcoólatra sem vontade.

Porque talvez o mistério não exista senão na mente humana, e nós, que pensamos, o fazemos pela insalubridade herdada do instinto.

Mas se penso que a evolução das espécies coloca em evidência um plano de aperfeiçoamento da matéria e da consciência, e que não foi à toa que o pensamento ritual manifestou-se primeiro nos hominídeos, então aceito que há um propósito, com antes e depois, e assim posso me convencer de que o Acaso só acontece para aquele que está desatento.

Mas se me pego querendo visualizar auras humanas, pensando em espíritos Elementais (...) penso também que estou me induzindo à loucura - querendo ver coisas onde não as há.

A estrada posta à frente segue longa ao horizonte desconhecido.  Voltar atrás já não me satisfaz, e ficar parado aqui neste intermédio de deserto não tem valia alguma.

Mas como é difícil acreditar sozinho...!

quinta-feira, 25 de agosto de 2016

O Cavaleiro da Triste Figura

-Estais roubando ao mundo um de seus melhores loucos - disse o vice-rei. -  Sua loucura inofensiva tem dado muitas alegrias para toda a Espanha. Em todo caso, é melhor que se cure...

quinta-feira, 18 de agosto de 2016

Direção

Neste mundo, as possibilidades para ti são mais de mil. Infinidades muitas.
Mas o que tu queres é recorte, e depende da tua alma. Para saber o que queres, ouve a voz do silêncio e deixa tua alma responder.
Disto, o que consegues realizar é subtraído, já que não és onipotente. Aceita.
Daquilo que realmente estás habilitado a conseguir, há o pouco que tu, acordado, de fato conclui. Isto é só teu.

Acostuma a concentrar tua vontade (...). E quando há dias em que não respiras senão como veículo para aquilo manifestar.

E não assustes se não quiseres mais voltar.


Este artigo trata dos modos não-corpóreos de sensorialidade e conhecimento dos Yanesha

Yanesha - Peru

Os yanesha são um grupo étnico e cultural de língua Arawak habitantes das florestas úmidas do Peru. A sociedade deles é organizada de maneira a propiciar o desenvolvimento de capacidades humanas que são escassamente exploradas pela sociedade Ocidental moderna. O xamanismo por exemplo é estudado por homens jovens que desejam aprofundar-se nas conexões com espíritos de outros seres humanos, sombras de pessoas mortas, almas primordiais de animais e espírito das plantas. Os resguardos observados pela moça depois da primeira menstruação também são momento de aprendizado, quando são transmitidos os cantos que a mulher canta ao espírito das plantas. O xamã pode se especializar em xamanismo de tabaco ou de ayahuasca.

É nesta relação com os espíritos que o xamã consegue negociar a caça com o dono da espécie. Quanto a isso, das duas, uma: ou existe um animus primordial com consciência e capacidade de arbítrio, e o xamã relaciona-se com Isto, ou na verdade Este princípio trata-se de um Elemental atávico da consciência humana que representa este espírito da natureza. Como o que define o xamã é a capacidade de comunicação entre diferentes níveis cósmicos, então a primeira opção, que supõe uma tradução de perspectivas, deve ser a correta.

Cada indivíduo compõe-se de um corpo e de duas entidades incorpóreas: yecamquëñ ("nossa alma/vitalidade") e yechoyeshem ("nossa sombra").

Os sentidos corpóreos (audição, visão, olfato, tato, e paladar nesta ordem de importância social aos Yanesha) não são suficientes para perceber a dimensão espiritual que subjaz, normalmente eme estado culto, a grande parte do mundo tangível. Se há dimensões físicas e espirituais, é óbvio que estas não podem ser percebidas por meio de sentidos físicos.

A alma yecamquën é a substância anímica que manifesta especificamente a energia vital humana criada pelas divindades.  Se os corpos fossem destituídos de yecamquën então seriam inanimados,  mera matéria bruta. Como têm esta energia vital, estão habilitados a pensamentos e sensações. Em veradade, é a alma e não o corpo físico que é dotada das faculdades sensoriais que se manifestam em cada indivíduo. A alma percebe as coisas como elas "realmente são", isto é, a dimensão espiritual das coisas. Essa qualidade acontece (1) durante o sono; (2) em vigílias rituais e (3) após a ingestão de narcóticos ou alucinógenos. O comum a esses momentos é que acontecem num momento em que os sentidos corpóreos estão enfraquecidos ou sobre-excitados, permitindo a utilização da energia vital para ativar sensualidades desencorporadas.

Para os Yanesha o conhecimento espiritual é adquirido quando a pessoa concentra a vontade própria naquilo que quer conseguir, memorizando pensamentos e cantos.

A percepção em Aristóteles e Platão

Para Aristóteles os indivíduos coletam informação do mundo através dos sentidos. A informação é avaliada pelo intelecto e interpretada. O paradigma de Aristóteles é semelhante ao racionalismo ocidental que a ciência moderna usa para produzir suas verdades asfixiantes.

Para Platão, há o mundo sensível que é inteligível pelos sentidos. Este mundo entretanto é marcado por mutabilidade contínua - um mundo de aparências que é contraposto pela essência da Forma Abstrata, a qual é compreendida apenas pela alma.

Por exemplo: "caneta": existem vários exemplares físicos desta ideia, embora a ideia da caneta seja única. Qual delas vale mais a pena de ser conhecida?

Adaptado de: Santos-Granero, Fernando. (2006). Vitalidades sensuais: modos não corpóreos de sentir e conhecer na Amazônia indígena. Revista de Antropologia, 49(1), 93-131. https://dx.doi.org/10.1590/S0034-77012006000100004

quarta-feira, 17 de agosto de 2016

Síntese e comentários sobre "O Duplo Etérico", de Major Arthur E. Powell

Capítulo I - Descrição geral

Todo estudante de Ocultismo sabe que o homem possui diversos corpos ou veículos, que lhe possibilitam manifestar-se nos diferentes planos da natureza: plano físico, astral, mental e outros.  

Os fenômenos etéricos correspondem à matéria com baixo grau de densidade, isto é, se há o corpo denso composto pela matéria em estado sólido, líquido e gasoso, há também o corpo etérico, que congrega as partículas atômicas, subatômicas, super-etéricas e etéricas.

O duplo etérico ultrapassa a epiderme em mais ou menos 1/4 polegada (0,635 cm). Dito isto, fica claro que o duplo etérico é uma camada de matéria fina ou rala que envolve o corpo físico, conservando o seu aspecto. Por isso "depois da morte, separado do corpo físico denso, é a 'alma do outro mundo', o 'fantasma', a 'aparição' ou o 'espectro dos cemitérios'". Sua cor é roxa acinzentada ou azul acinzentada pálida.

"Toda parcela sólida, líquida ou gasosa do corpo físico está cercada por um invólucro etérico; o duplo etérico, como indica o seu nome, é, pois, a reprodução exata da forma densa. [...] o corpo denso e o duplo etérico variam concomitantemente em qualidade; por conseguinte, quem se aplique a purificar o corpo denso, aperfeiçoará, ao mesmo tempo e automaticamente, a sua contraparte etérica.

O duplo etérico todavia não apresenta consciência nem inteligência. Na verdade, o duplo etérico é uma ferramenta de distribuição do Prana (vitalidade/força vital) através dos chakras. Além de absorver a vitalidade, o duplo etérico serve de "intermediário ou ponte entre o corpo físico e o corpo astral, transmitindo a este a consciências dos contatos sensoriais físicos e, outrossim, permitindo a descida ao cérebro físico e ao sistema nervoso da consciência dos níveis astrais e dos superiores ao astral." Com isto, Arthur Powell quer dizer que a sensibilidade não é dada apenas pelo contato sensorial experimentado por órgãos e tecidos sensíveis, mas sim que a sensibilidade emana do ambiente astral. O Ego encarnado existe para sentir, e conta com o veículo astral de onde baixa a sensação.

Uma pessoa saudável tem seu duplo etérico estável e preso ao corpo denso. Os fenômenos de mediunidades são justamente aqueles em que a matéria etérica é manipulada mas facilmente, o corpo físico perdendo a vitalidade que passa a se concentrar no duplo etérico. O transe é por excelência um momento de retirada de vitalidade do corpo físico e aproveitamento desta pelo corpo denso ou astral.

Por fim, vale dizer que há técnicas terapêuticas de manipulação do duplo etérico, a saber, vitalismo, magnetismo (mesmerismo/xamanismo).


Capítulo II - Prâna ou vitalidade



Há 3 forças emanadas do Sol que chegam à Terra.

1. - Fohat; - todas as energias físicas, isto é, magnetismo, eletricidade, luz, calor, som, movimento...
2. - Prâna ou vitalidade; - parcialmente ignorada pela ciência Ocidental.
3. - Kundaliní ou fogo serpentino; - completamente ignorada pela ciência Ocidental.

"Prâna é palavra sânscrita, derivada de pra (para fora) e de an (respirar, mover-se, viver). Assim, pra-an, Prâna, significa soprar. 'Sopro de vida' ou 'energia vital' são os equivalentes portugueses mais aproximados do termo sânscrito. Como para os pensadores hindus não há senão uma única Vida, uma só Consciência, designou-se por Prâna o Eu Supremo, a energia do único, a Vida do Logos. [...] é a vitalidade, a energia integrante que coordena as moléculas e células físicas e as reúne num organismo definido[...] sem Prâna, o corpo seria, quando muito, um agregado de células independentes [...] Prâna as reúne e as associa num todo único e complexo, percorrendo as ramificações e malhas da tela vital. Os animais vivos, plantas e minerais são produto do Prâna

A formação da matéria a partir do Prana acontece na seguinte ordem:  Prana físico, prana do duplo etérico, prana astral e por fim prana do pensamento. Balizando o pensamento por esta sequência, compreende-se por que os minerais têm prana, isto é, porque vibram, e como o progressivo aperfeiçoamento das capacidades sensitivas está relacionado à incrementação do Prana. Toda a vitalidade construtora do Universo é Prana; acontece que tal construção pode ser meramente física (mineral), com algum conteúdo nervoso (vegetal), com conteúdo sensiente elevado (animais), e auto-consciência elevada (símios e humanos). Assim o Prana equivale tanto ao mecanismo de organização estrutural da matéria, por um lado, e vitalidade derivada do glóbulo de saúde solar. A própria substância dos pensamentos é derivada do Prana, e uma vez que não se pode destacar o conteúdo do pensamento da qualidade do Prana, bons pensamentos contém prana saudável que ativa o corpo. A sensibilidade e saúde física é derivada do Prana solar.

"É por intermédio do Prâna que a energia kâmica, ou energia dos desejos, pode afetar o corpo físico, e que o prâna kâmico pode circular e colocar assim o corpo físico em comunicação direta com o astral. [...] O prana que dá aos órgãos físicos a atividade sensorial, e que transmite as vibrações externas aos centros sensórios situados no kâma, na bainha, imediatamente vizinha à do prana, o Manomayakosha. É graça ao duplo etérico que o prana segue os nervos do corpo e permite-lhes, assim, agir como transmissores, não somente dos impactos exteriores, como da energia proveniente do interior. [...]"

É importante notar que, apesar da presença dos nervos no corpo físico, não é este que possui a faculdade de sentir. Como veículo, o corpo físico não sente, é simples receptor de impressões. [...] Em primeiro lugar, aparece no corpo astral um centro que tem por função receber e responder às vibrações que passam ao duplo etérico, onde dão nascimento a turbilhões etéricos, que atraem parcelas de matéria física mais densa e acabam por formar uma célula nervosa, e enfim, grupos de células.

Prâna atua na sensibilidade entre o astral e físico, sendo a experiência sensorial uma vibração etérica de Prana que estimula o ponto receptor no veículo astral. Arthur Powell insiste numa abordagem sensorial que não elege o impulso nervoso sentido pela célula como o fator determinante da sensibilidade. Não é o cérebro que sente. O autor mostra, com efeito, como a substância vital, Prana, responsável por animar a matéria - presente nos minerais, vegetais e animais - transmite o impulso nervoso sentido por células e órgãos (nervos dos olhos, ouvidos, língua, nariz e pele) ao centro astral do Ego, este que sim sente.

Assim como o sangue conduz oxigênio, o fluido nervoso transporta o prâna para todo o corpo. O azoto, cuja função está relacionada à viabilização do metabolismo do oxigênio, está para o oxigênio assim como o Prana está para o Duplo Etérico (= "veículos inértes da vida").

Capítulo III - Os centros de Força

Os chakras estão localizados na superfície do duplo etérico, a cerca de 6 mm do corpo físico. Os chakras tem aspecto de roda ou disco giratória. O clarividente os vê como depressões em forma de pires, constituindo vórtices.

A função dos chakras etérico consiste em absorver e distribuir o prana pelo duplo etérico e  repassar para o corpo. Cada chakra manifesta a consciência física de um centro corporal, bem como a expressão de uma qualidade ou poder.

A ponte entre o veículo astral e o estado de vigília é realizada pelo chakras, isto é, quando os centros etéricos estão completamente desenvolvidos, o cérebro conserva a recordação integral das experiências astrais. Mas e quanto ao sonho lúcido? 

Cada centro do corpo astral corresponde a um centro etérico. Arthur Powell portanto relaciona claramente os chakras etéricos presentes na superfície do duplo etérico com centros ou vórtices de quatro dimensões no veículo astral. Enquanto o centro etérico é situado na superfície do duplo etérico, o centro astral está no interior do corpo astral. Assim, há estreita correlação entre aperfeiçoamento dos centros etéricos - ativados e recebendo o prana que jorra perpendicularmente no centro do chakra- à viagem astral.


A estrutura de um centro etérico (chakra) lembra um nácar (madrepérola). A energia vital prana que emana do astral jorra perpendicularmente no centro de força do chakra e produz uma energia secundária em movimento circular, que é distribuída em raios como os de uma roda, o que também confere ao chakra a aparência de pétalas de flor. Cada chakra tem uma quantidade específica de raios.

Chakras não são órgãos físicos, mas sim vórtices presentes no duplo etérico, que funcionam irradiando o prana astral através de raios, referindo-se ou não a órgãos físicos individualizados. Com isso Arthur Powell deixa claro que não se deve buscar anatomicamente os chakras.


Sobre os chakras 8, 9 e 10 Arthur Powell diz que "referem-se aos órgãos inferiores, que não são empregados pelos estudantes da magia 'branca' [...] Os perigos atinentes a estes chakras são tão graves, que consideramos o seu despertar o maior dos infortúnios".

Capítulo IV - O Centro Esplênico

Aspecto brilhante e fulguroso. Ele tem função única, pois absorve os glóbulos de vitalidade da atmosfera - o  Prana físico em suas 7 variedades - e o desintegra em seus átomos componentes, posteriormente distribuindo cada variedade do Prana aos outros chakras. As sete diferentes espécies de Prana têm cores violeta, azul, verde, amarela, alaranjada, vermelha carregada e rósea.

A qualidade do centro esplênico está diretamente relacionada à vitalidade do corpo astral. Permite viajar conscientemente em corpo astral e recordar as viagens astrais. Neste sentido o argumento de Arthur Powell é convincente, uma vez que no capítulo III sobre os centros de força o autor afirma tranquilamente que cada ponto do corpo astral corresponde a um centro etérico. Ademais, se todo o Prana emana do veículo astral, então é apenas natural que o centro esplênico, responsável pela recepção e  fracionamento do Prana, esteja mais ligado às faculdades astrais.

Ao afirmar que os glóbulos carregados de Prana são redistribuídos aos pontos necessários do duplo etérico e do corpo, descarregando-se do prana semelhantemente à descarga de eletricidade - liberando ao final do processo uma emanação branca-azulada (aura de saúde) - o autor enfatiza que as subpartículas em questão são matéria.


Os átomos róseos são átomos originais, que atraíram ao seu redor os seis outros para forma o glóbulo de vitalidade. O Prana róseo é a vida do sistema nervoso, e pode ser inclusive lançado de um homem ao outro ( Cap. XII).

Powell considera que pessoas vivendo vizinhas a pinheiros ou eucaliptos são beneficiadas com vitalidade nervosa. A planta, que absorve o prana mas obviamente não se utiliza das frações energéticas para o sistema nervoso, fraciona e disponibiliza o prana róseo. Mas qual é a cor do prana utilizado pela planta para ativar seu sistema? Provavelmente uma espécie de Prana necessário tão somente à constituição física, porque Matéria, mas também referente a uma regulagem vital primitiva.

A transmissão do Prana de uma pessoa para outra pode acontecer em processos de cura ou vampirismo. O último é quando a pessoa não consegue adquirir por meios próprios o seu prana e acaba apresentando influência perniciosa diante de outras pessoas, sugando-as como esponjas. Já o processo de cura relaciona-se ao reparo de prejuízos físicos, como as sucções xamânicas.

O halo da saúde, de onde emana o Prana no veículo astral, está distante variadamente da superfície do corpo. Distância de 10 dedos durante a inspiração, de 12 durante a expiração, 18 ao andar, 24 ao correr e 100 ao dormir. Isto atesta o argumento de Powell segundo o qual durante o sono o Prana não é utilizado para animar o corpo físico, e sim outros elementos astrais. "Diz-se que a distância diminui quando o homem domina o desejo, obtém os oito Siddhis, etc." Isto significa que kama (=desejo) controlado libera mais energia vital para o etérico ou astral.

Como foi estudado, o chakra esplênico vitaliza o corpo astral e permite os sonhos lúcidos. Já que também ficou claro que o veículo astral é de natureza material, é possível que o sonho seja uma viagem de fato e não apenas um delírio?

Capítulo V - O Centro Base da Espinha Dorsal

Possui quatro raios. Recebe a cor vermelha-alaranjada enviada pelo centro esplênico. Deste centro, o raio vermelho-alaranjado vai aos órgãos genitais e proporciona energia à natureza sexual; parece também penetrar no sangue e manter o calor corporal.


Capítulo VI - O Centro Umbilical

Situado no umbigo, ou plexo solar, recebe prana vermelho e verde, e irradia em dez raios ou pétalas. Manifesta um raio verde no abdômen, vivificando fígado, rins, intestino e aparelho digestivo em geral. 

O chakra do plexo solar também está relacionado às emoções e sentimentos, e seu desenvolvimento, assim como o do centro esplênico, aguça as percepções astrais. Além disso, o centro umbilical confere intuição, possibilitando aferir benevolência ou hostilidade em pessoas e lugares.


Capítulo VII - O Centro Cardíaco

Possui 12 raios e apresenta cor amarela dourada, brilhante. Se recebe adequadamente o fluxo redistribuído pelo centro esplênico, confere energia e regularidade.  Transmite prana a todas as regiões do corpo e também ao cérebro, onde possibilita a concepção de pensamentos filosóficos e metafísicos.

O correspondente astral do chakra cardíaco possibilita a compreensão instintiva dos sentimentos manifestados por outras entidades astrais.

Assim, o chakra cardíaco favorece a empatia física ou sentimental.


Capítulo VIII - O Centro Laríngeo

Chakra de 16 raios, recebe cor azul ou prateada brilhante (claridade lunar). Recebe do centro esplênico o prana violeta-azul. Afeta a garganta com a cor azul clara, e o cérebro com azul carregado e violeta, que produz emoção de tipo espiritual.

O despertar do centro astral correspondente ao centro etérico laríngeo garante acuidade de audição no plano astral. Audição de vozes astrais.


Capítulo IX - O Centro situado entre os Supercílios.

Tem 96 raios, mas apenas duas pétalas, pois se encontra repartido em duas partes. Um tem coloração predominante rosa, mas também amarelada; e na outra predomina azul violáceo. Acredita-se que o prana que irradia este centro etérico seja de cor azul-carregada e violeta, recebido pelo Centro Laríngeo e emanado pela garganta até o cérebro.

No campo astral, o terceiro olho confere a faculdade de perceber nitidamente a natureza e a forma dos objetos astrais, em vez de apenas senti-los vagamente. No campo físico etérico, o terceiro olho permite ao homem começar a ver objetos e experimentar, acordado, visões de lugares e pessoas. Relacionado à visão etérica.


segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Com pena

Dos estados de espírito que mais me assaltam o bem-estar da alma e roubam toda a desenvoltura das minhas ações está aquela incômoda sensação de que perdeu-se a minha voz.
Não a voz vibratória produzida pelas cordas vocais e expelida garganta afora através da boca, mas a voz íntima que utilizo como farol e porto-seguro para explorar o desconhecido oceano do meu inner space. Nestes momentos de inquietude eu fico às cegas, sendo só capaz de estranhar a mim mesmo, como um homem que passa aos anos envelhecendo e apenas em final de vida encara perplexo seu reflexo irreconhecível no espelho.

Não sou capaz de antecipar por intuição a chegada destes dias que sem presságio nem explicação despem-me de mim mesmo e abandonam-me, criança, a sensações e dúvidas, destituído da capacidade de lançar-lhes as fagulhas do entendimento. 



A derradeira característica desta atmosfera espectral que recai sobre mim trazendo silêncio e perturbação é sua natividade em estados íntimos (...). O que difere esta inquietude minha do malogro experimentado pela donzela que vê sua maquiagem borrada devido à chuva repentina, ou do boi desidratado que arreia as patas estrebuchado no solo seco é que todos estes - a muita chuva ou falta dela - são fatores cambiantes externos.

No meu caso, aquilo que vem vem-me de dentro - como um passo em falso num degrau de escadaria que não está mais lá. E eu afundo sem corda de resgate nem voz à qual ouvir.
Sinto-me absente, como a nostalgia de esgotar a leitura de um livro e imediatamente perder melhores amigos e uma vida para sonho; ou o desiludir-se de um grande amor. Efeitos colaterais do despertar de um sonho...
Não tenho escolha a não ser sentir.
Mas se isso acontece no interior do meu quarto escuro, o que farei quando com a aurora se aproximar o momento de colocar os pés para além da soleira da porta?

quinta-feira, 11 de agosto de 2016

My prayer

Now I invoke the Divine Masculine and the Divine Feminine to the ground, and they shall combine in my self. 

Oh! gracious Peter Gabriel, come down and let me feel your presence. Bless me with resourcefulness and corporal expression. So that my very body, my eyebrowns, my smile, my gestures and my words shall be my Art itself. 

Dear mother of all the Introverts, Björk Guðmundsdóttir from the icelands of the North, please come to me in my dreams. Ensure that I shall remain restless and relentlessly active in knowing more and more of God's creation everyday in my life. That my skills be more than enough to suply my needs of communication, and that I can connect to people and show them the true motifs behind what I'm working on. 



I consecrate this wish to the God of my will. I have got no choice than using my powers for good. The Devil himself shall not prevent my will materializing. 

And I shall live in rejoyce.


So be it!

Primeiro emprego (2013). Tão bobinho que chega a ser fofo - só que não!

vou começar a trabalhar
com horário determinado. começo 8 da manhã. mas seria conveniente, disse minha supervisora, que eu chegasse às 7h50 min para que eu compensasse, com esses 10 minutos, os "pontos", ou seja,quando a gente emenda e folga nos feriados. vou bater cartão.  vou começar a ganhar meu próprio dinheiro, isso é bom. ficar fazendo bico não é muito seguro. afinal, segundo minha mãe, " trabaho enobrece a pessoa". certo, eu acho que talvez pode ser assim. vou começar a trabalhar mas não quero virar coxinha. 

Desabafo ingênuo mas sincero - datado de 2013

Esse sentimento é novo. Sim, conquistei bastante,entrei em outro nível,isso é verdade,tinha que ficar feliz - e fiquei -  mas agora estou ansioso demais. Já segui os traços de todas as minhas pegadas e agora estou num momento em que meu próximo passo é novo e o medo me espera lá no horizonte. 
Eu disse a ela o que eu sentia. Avisei que talvez não se enquadrasse no espectro de um macho alfa e que -sinceramente- eu não me importava. O que eu mais quis foi dar vazão aos meus sentimentos. E funcionou. Consegui que ela aceitasse,que ela me desse uma chance, de nos tocarmos, de nos beijarmos, de passar um dia juntos envolvidos mais do que amigos. Ela quer um "relacionamento" aberto, não quer que a "coloquem num pote". E aqui fica complicado pra mim. Eu tenho certeza que estou apaixonado, que o que eu sinto eu jamais senti por ninguém mais. Nem mesmo por ela em outro momento do passado. Não falo com ela há 2 dias e estou com saudades. Anteontem saí, fui me divertir com os amigos, cheguei em casa bêbado e cansado então fui dormir sem falar com ela. Ontem eu saí e não parei de pensar nela por um minuto. Cheguei em casa à noite, mandei uma mensagem, que ela respondeu só mais tarde, quando eu já estava dormindo. 2 dias se foram. E agora, hoje, eu só durmo, tiro cochilos, para fazer o tempo passar e poder falar com ela.
Como vou conseguir ser sincero, dizer que senti saudades, perguntar aonde ela foi nesses dois dias, se eu tenho que evitar colocá-la em um pote? Isso me coloca em muita dúvida,ansiedade e apreensão. Se eu fosse falar tudo o que sinto por ela, com certeza ela acharia que a coloquei nem em um pote, mas sim em um cofre, com senha de 8 dígitos + 2 letras, coloquei a chave numa garrafa e a joguei no mar em dia de ventania. Não é essa minha intenção. Como vou lidar com isso? Preciso saber se o que sinto é recíproco até um nível mínimo em que eu posso agarrar nas mãos da felicidade que me espreita. Eu disse a ela que depois que voltamos a nos falar meus dias eram mais felizes porque eu ficava na expectativa de conversar com ela madrugada adentro. E ela falou que sentia o mesmo. Isso me deixou muito feliz. E quando eu disse que preferia ela de cabelos longos e ela falou que, portanto, os deixaria longos, fui invadido por um êxtase súbito.
Escrevo para fazer o tempo passar mais rápido. Conter minha ansiedade e também entender melhor o que eu sinto. É feriado de carnaval, a cidade festeja. Onde ela está? Talvez aproveitando as vantagens de um relacionamento aberto? Isso me aflige demais.

Lamentos datados de 2013 - primeiro relacionamento amoroso.

tira a foto! tira a foto agora! tira a foto da gente, da nossa relação, da nossa vida juntos! agora,sim! enquanto tá bonito, enquanto dá órgulho, enquanto nos faz feliz! não espera. tira a foto desse momento precioso pra gente se lembrar quando tudo tiver acabado, porque isso é tudo que a vida pode ser de bom e eu não quero perder.
eu queria poder tirar uma foto nossa. mas não uma foto comum, uma foto panorâmica, mas panorâmica da nossa vida. enquanto eu to com você, nos finais de semana. desde o momento em que eu viro a esquina da sua casa, te cumprimento no portão, passando pelo sono no quarto, nossa inutilidade-magnífica durante o dia, sim, as batatas fritas, as tortas, o sorvete, o sexo, ficar deitado no quarto rindo,conversando, "perto, bem perto". queria uma foto disso, uma foto que me fizesse viver todos esses sentimentos como uma pílula mágica pra eu puxar do bolso, olhar, e abrir um sorriso de felicidade quando os momentos de saudade são insuportáveis.

quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Ausência de medo + ausência de dúvida = paz.
Living without getting attached, renouncing without having hungover.
O espaço interior completamente livre de conflitos.

Há dias em que tudo o que me sobra da vida são como incômodos de um clarinete desafinado. Nestes intervalos sinto não ser possível trocar ideia alguma com qualquer ser humano vivo. Quando nenhuma palavra manifestada vai desintegrar o reconhecimento de que estou aqui no mundo sozinho.

Pesa-me a certeza de que não sou o mesmo do que os pensamentos que involuntariamente me ocorrem pela mente. Sei das palavras como lampejos banais de significado que consigo materializar através de esforço cognitivo racional; mas para além disso, o quê?  Já não há mais nada, nada que eu queira manifestar, nada em que eu queira colocar as minhas mãos.

E assim o ato da comunicação dói-me, como a desesperança de uma vida humana destituída da crença em Deus.

terça-feira, 9 de agosto de 2016

O nome dela é Maya


Ontem à noite eu quis te conhecer.
Imaginando-te sensível e amável, eu quis saber de ti. 

Mas em meus sonhos nunca consigo ver teus olhos.

Fui a dormir, e neste mistério encantado acordei sabendo do meu novo amor. Sentimento tenro, pois medito sobre ti e admiro tua figura, imagino tua fragância, mas não penso em te possuir. Penso em ti e agradeço a Deus porque tu existes. 

Mas também não me importa se sabes de mim. Esta carta tu não receberás.

Na longa estrada do desengano, eu dobro a esquina à esquerda e me contento, plácido, com meu sóbrio desalento.

sexta-feira, 5 de agosto de 2016

Rod Modell Hare Krisna

A ideia por trás de um simples gif é que ele seja repetível infinitésimas vezes, e que isso seja suficiente para uma apreciação hipnótica que baste por si só. Para que cada detalhe dos pixels e também da ideia ou conceito possam ser contemplados até à catarse, é necessário atenção.

Este é o fundamento também da música erudita minimal (Erik Satie, Ärvo Part, Steve Reich), da música eletrônica digital que se utiliza de loops para acontecer (techno em sistemas computadorizados de inteligência artificial programada - Juan Atkins em Detroit e Richard D. James na Inglaterra); ou analógica (hip-hop no MPC), mas também dos mantras religiosos que possibilitam a aproximação ao divino através da repetição. Entre estes compositores-produtores, há uma figura excedente.

Rod Modell frequentou anos a fio sessões musicais em que o maha-mantra sagrado é cantado diariamente, e cantado à exaustão, pelos diligentes discípulos do Senhor Krishna. Um profeta sagrado cujo nascimento é datado a 33 séculos a.C. Uma das almas perfeitas que assim como Jesus de Nazaré passou pelo plano tridimensional da matéria para nos deixar recados. Entre estes, Bhagavad Gita e a Bíblia.

Entre brasileiros, o índio que cotidianamente traz Deus ao chão da aldeia através do canto do pajé. Invasão de terras demarcadas e massacre.  No mundo, intolerância religiosa e falta de fé; espiritualidade: igual a nada vezes nada, isto é, 0 à esquerda. 

Mas para o discípulo religioso não é necessário nenhum loop já não-contido no Livro ancestral dos cantos, e no inalterável ritmo das contas do rosário a voz humana combina Tua consciência com a de Deus. Vá e veja. 

Mas e quem não foi lá, ou já foi mas não pode lá viver por mais que alguns anos? A vida profana se impõe, e é capital se'nvolver na Grande Sociedade. Muitos prazeres, que eu gosto. Quem não pode se sacode. Aí de mim! Para nós buscadores, mas também apreciadores do som profundo, Rod Modell fornece o mais sofisticado design sonoro que há.  Techno silente, frutífero do luxo meditativo, estabelecido na tradição do dub para as massas.

Aleluia!

segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Conto: "Um mundo invisível revelado"

Esta noite após todas as luzes haverem sido apagadas, deitei na cama e percebi o vulto se formando a partir das sombras que se acumulavam na mobília. Um espectral de cor negra, forma humana espessa, densa e muito alta que se expandia magramente do chão até o teto.

Eu, que tenho por costume projetar minha mente para fora do corpo físico durante o sono, e me observar o corpo lá embaixo no leito repousando, vi esta sombra aproximar-se de mim a passos largos e, num golpe, fazer-se penetrar pelas minhas narinas. Meu corpo físico sofreu um solavanco mórbido, engasgando-se enquanto sugava garganta adentro o longo espectral como fumaça tóxica.

Mas que era aquele ente sombrio dotado de movimento e aparente vontade própria? Alguma espécie de demônio devasso desejoso de comer minha mente e nela introduzir desvirtudes como a vadiagem e mesquinharia, ou um serviçal das trevas que, vendo meu potencial para as boas ações, estava na missão de me sonambulizar e se utilizar do meu corpo para atrocidades indizíveis?

Elevado e superpotente acima da casa que aparecia a mim com teto e paredes transparentes, eu via minha irmã caçula ainda acordada no quarto ao lado, indefesa, e minha mãe já dormindo profundamente, afastada de nós, lá embaixo. 

A substância azul translúcida que fluia gravitacionalmente do meu corpo astral até o corpo físico, alimentando a mente e o sonho, de súbito se escasseou, e passei a ver borrões muito distantes e incertos. Apaguei como espírito e acordei dentro de mim mesmo, como uma personagem no sonho arquitetado por aquela criatura perversa.

A imagem pisca e oscila, como interferências de um filme antigo. Chuva negra caindo por cima de um labirinto com colunas de espinhos, onde a treva é absoluta. Uma passagem larga, abrindo caminho por entre paredes de roseiras petrificadas até uma catacumba branca de porcelana, iluminada pela última luz que sobrevive pálida e oscilante no poste. Chão enlameado repleto de vermes malditos, e sobre a lápide um lírio fechado, ninho para duas lagartixas acinzentadas que se entrelaçam e mastigam vagarosamente a cauda uma da outra. 

Garota lésbica com problema psicológico abre o túmulo, e dele emerge um punhado de moscas caçadoras graúdas e verdes, a zunir e se debater contra minha testa úmida. Quem apodrece ali é a minha mãe, com o mesmo rosto e mesma expressão que tem hoje quando dorme.

O farfalhar de dois corvos vindos da árvore. Pousam no parapeito do sarcófago atrás da cabeça da mulher. Silêncio dramático - as aves entreolham-se. O primeiro, de um pequeno salto, pula na testa do cadáver e experimenta a textura dos olhos com a garra enquanto chuva escorre pelas rugas carrancudas. O segundo corvo voa até o pescoço, cutuca por dentro do nariz e retira um verme marrom, longo mas fino, que se retorce no bico. Debulham o rosto da pessoa até não existir mais nada que se assemelhasse ao corpo que um dia foi animado por uma alma, mas que agora não é mais que substrato orgânico, adubo para a vida. 

Toda a paisagem some, e me vejo suspenso num grande vácuo sem nada à minha volta. O maravilhoso Satã aparece sobre duas pernas a mim. Seus chifres lustrosos e grossos são consolo a uma colônia de súcubos, nuas em pelo - corpos femininos de toda variedade que cirandeiam e se insinuam com volúpia no olhar. O pênis pende flácido até a altura do joelho, voltado com a cabeça vermelha e pulsante para fora. Os colhões são quase que ocultados completamente por uma bolsa de pelos escuros. Seus seios são tenros e rosados, onde mamam lascivamente e se esfregam os incontáveis e pequenos íncubos. Todo o corpo de Satã exala luxúria, lubrificado em fluidos luxuriantes de seu fértil exército. 

-"O que mais queres tu para além disso, soldado? Não caias em delírio. Apenas aceita, garoto, e vai tu para casa, e transa tuas mulheres, bebe teu licor e goza a tua vida sórdida de animal humano.  Não te preocupes: transa, bebe, goza a vida! Sejais o autor da tua própria Lei, e na hora de morrer, morre dignamente como aquele que sabe não haver nada para além da carne - nem abaixo nem acima! Querer mais é pedir o impossível. Ou pensas tu que o espírito sobrevive à matéria? Gostas de te iludir? Desprezível humano cujas verdades que acata não são mais do que mentiras que conta a ti mesmo a fim de conseguir conforto à hora de dormir, e motivação para acordar."

Solapado pela dúvida, eu não pude pensar. Não conseguia entender que o que se passava ali eram cenas oníricas de um sonho mau. Portanto fiquei perplexo quando uma luz irradiou aquela escuridão como gládios de claridade. Levei as mãos aos olhos por instantes até que a intensidade da luz diminuísse, e na fonte de onde irradiava a iluminação eu A vi. Como posso defini-lá? Não uma pessoa, mas sim uma sensação, que por vezes já havia deleitado a mim noutros sonhos, mas nunca assim tão radiantemente. Algum elo entre o plano do sonho e uma realidade transcendental para além do próprio sonho, da qual após o despertar restava apenas uma leve sensação de amor tão profundo e incomensurável. Sim, Ela. Traduzo-a como a Fé. Eu A senti, no sonho mesmo, e Ela me disse:

-"O teu sofrimento será o maior de todos, garoto. Tu sofrerás na carne e no espírito, portanto acostuma-te a sofrer. Em todos os teus dias a matéria há de te castigar, a necessidade de movimento cairá sempre sobre teus braços e tuas pernas, tu terás sempre de ir em busca de algo em algum lugar.  O peso de existires e saberes que tu existes nunca te abandonará. Tu sempre estará consciente e pensando. E quando deitares no colchão, a insônia perseguir-te-á, tua respiração não aquietará e tu não terás descanso. E quando a luz da manhã finalmente começar a raiar, conseguirás teu sono, mas mesmo em sonho tu ainda vais estar consciente de que existe e teu sono será apenas um estado de vigília noutra dimensão. Aceita isso! Mas eu digo o que tu és: tu és um perceptor. É pelos olhos teus que Deus pode tão nitidamente Se ver. Esta é a chave que te dou: tu fica sabendo agora que todo pensamento passa, e que tu não és os pensamentos que acontecem pela tua cabeça. Como perceptor, tua única obrigação é a de te colocares e te impor da maneira mais justa possível diante das situações em que te encontrares. Este teu corpo é como uma folha de papel em branco, os pensamentos que ocorrem a ti são as palavras escritas mas que logo se apagam, e a soma das tuas páginas é o caderno guardado na infinita biblioteca divina. Agora, acorda!"

E foi assim que eu fui libertado daquela estranha aparição de trevas. No dia seguinte fiquei sabendo que o vizinho havia se enforcado naquela mesma noite; sua personalidade imaterial atormentada e recém-departida do corpo físico provavelmente atraiu para cá aquele Elemental corrupto.

E foi assim também que recebi meu primeiro chamado místico, isto é, um contato íntimo com as maravilhosas emanações de pureza que existem nativamente dentro de mim mesmo.

Idiossincráticas fotografias de um garoto que agora é apaixonado por si mesmo :3





















Pagando de gatinho



O que será que ele está pensando?


Hmm...corpinho :3


Resenha do livro "Skagboys" de Irvine Welsh

Este livro do Irvine Welsh é muito divertido, um entretenimento de primeira categoria, para o qual vale a pena se debruçar várias horas de uma leitura casual. Narra a história pregressa de Spud, Mark Renton, Begbie e Sick Boy, antes do que já conhecemos através do primeiro livro da série Trainspotting. 

Quando na década de 80 numa Escócia filha do tatcherismo e terreno de greves operárias, adolescentes nascidos nos blocos habitacionais, sem emprego nem nada que se preze para fazer, adotavam excessivamente o estilo de vida de "que se foda" do rock'n'roll e assumem uma postura de auto-destruição, como maneira egotística de protesto e fórmula escapista para uma falta de ambição.

Irvine Welsh, junkie como foi, e habilidoso romancista versado na cultura pop, expõe com humor, sem tabu e nem moralismo, os extremos de toda uma geração, através das vozes em primeira pessoa de suas irresistíveis personagens. 

De uma preliminar contextualização sócio-política verossímil e fiável, o autor vai trabalhando cada aspecto da vida das personagens, para mostrar como o caminho da dependência na heroína, e drogas pesadas em geral, é trilhado em linhas individuais que refletem a personalidade do usuário, seus dramas existenciais, o contexto familiar e político que o rodeia e, principalmente, uma tendência ao vício que é proporcional ao niilismo e falta de vontade da pessoa. 

Como deve ser, o assunto da heroína é tratado primeiro como problema de saúde pública, depois como um estilo de vida glamouroso porque decadente - já que "todo junkie é como um poente"- divulgado por ídolos da cultura pop num repertório infindável de álbuns e filmes de cultura pop.

A droga não aparece daquela maneira maniqueísta e moralista tão comum aos noticiários e ao senso comum, como se a substância fosse capaz de ter vontade própria e deliberadamente atrair  a vítima através de suposto magnetismo químico pelo caminho da perdição.

Mas também não é só isso, já que a heroína é uma curtição danada, ou seja, se não fosse um barato tão bom e indescritível, não teria tanta gente usando e tanto filme e tantos álbuns de música sobre a rainha das drogas. É essa atmosfera que Irvine Welsh consegue criar de forma tão autêntica: realmente se consegue sentir como deve ser andar pelas ruas chuvosas dos bairros antigos da Escócia, na fissura, atrás de um punhado da marronzinha. O primeiro contato com a heroína em cachimbo num baile northern soul. As falcatruas, invasão de propriedade só pela adrenalina, as sangrentas brigas de gangue com pano de fundo nos clubes locais de futebol. As luzes de Londres, a legalidade de Amsterdã. Ouvir uns LPs debatendo música com os parceiros e as gatinhas num mocó. Ou mesmo os efeitos nocivos da droga, a abstinência que esmigalha os ossos, o estômago enrijecido e a falta de apetite, a perda de peso, o rosto que fica chupado e seco, o dentes que apodrecem. Tudo isso Irvine Welsh tem.

Um livro com o qual certamente podem se identificar o junkie e sua família, bem como o próprio traficante, o artista oportunista mas também o psicólogo ou assistente social da clínica de reabilitação.

Meu amor

Hoje, pensando Nela,  realizei que, embora minha única experiência de relação amorosa com pessoa humana real tenha sido fracassada, isto é, que tenha estado aquém das expectativas idealizadas e impossíveis que eu nutria (o que é justo e consiste no preço a ser pago pela ingenuidade de minha jovem idade), meu amor, o mesmo mas aperfeiçoado - amplo e distribuível, intenso mas controlável, continua a existir ainda no meu peito pulsando vermelhantemente como nunca. O fato é que estou cheio dele, e enquanto meu amor me transborda eu contemplo outréns com minhas simpatias.

Assim seja.

Fragmento meditativo e político

As atividades não precisam ser realizadas com truculência, na chamada correria, ou com a agitação de mãos afobadas e mente confusa. Certos indivíduos assim o fazem para atribuir maisvalor às suas ações, como se um corrupto ideal de produtividade lhes estrangulasse as intenções - a fundação de uma personalidade bitolada.
Que não se enganem os neófitos, pois todo o trabalho deve ser feito fácil, com o desfrute relaxado de regozijo em competência e bem-estar, como um Deus que dança e festeja e bebe todo o leite coletado por devotos que trabalham e separam do trabalho o tempo da diversão. Assim já partilhou o jovem Tommy Bolin quando disse que "Se você não estiver se divertindo ao fazer, não vale a pena fazê-lo."
Esta consideração desmascara uma malfadada Teoria Crítica da Sociedade, cujo comodismo de intelectuais no centro do mundo constrange e tenciona o infeliz estudante a veredas incertas e áridas, de uma suposta lógica do esclarecimento que, em verdade, é tentativa de imposição elitista da visão de mundo inflexivelmente tendenciosa desses intelectuais que travestem de objetividade científica sua própria amargura e aflição. 

A imagem do desafortunado militante que almeja uma sociedade mais justa, embora não consiga obter sequer a própria paz em seu espaço interior, e perambule acompanhado por uma nuvenzinha negra a chover e trovejar sobre sua cabeça somente.

Nos jardins regulares dos cemitérios também nascem flores, mas elas são malditas e exalam o perfume mórbido da morte.

A questão que ocorre a toda a teoria revolucionária quando vista de fora é: seria possível oferecer a outrem mais do que aquilo que se possui para si mesmo?

Que me importa?
Como girassol que cabisbaixa quando o sol se põe ao Ocidente, eu murcho também quando me percebo palavrando assim, como estudante de Ciências Sociais.