sexta-feira, 16 de setembro de 2016

madrugada 16/09/16 - just for fun

Uma garota interessante. Garota não, mulher. sim, mesmo sendo ela da mesma idade que a maioria daqueles rapazes desmotivados que eventualmente ocupam seus mesmos corredores, bibliotecas ou salas de aula - esta laia de marmanjo preguiçoso que passa seu tempo coçando o queixo a esperar a barba crescer, ou, como é mais recorrente, aqueles, os infames chamados existencialistas, que perdem seu tempo e muito fumo pensando no "sentido das coisas", ela, diferente deles, não é juvenil. A mulher amadurece mais cedo que o homem? Ou na verdade isso é argumento para a precoce atribuição de tarefas domésticas, e também justificativa da pedofilia que tira a infância da garota? O que você vai arriscar? De minha parte, considero que os espíritos encarnados em corpo feminino são aqueles que cresceram acostumados a sangrar. Elas...

Embora sua família não seja podre de rica, o trato benfazejo da herança dos pais, que são nada mais do que bem-sucedidos trabalhadores imigrantes ibéricos brancos, lha garantiu não só uma educação comparável aos padrões da nata da classe média paulistana mas também uma tradição burguesa de viagens internacionais que são um barato, e cujos registros a família expõe com júbilo através de cabos HDMI aos convidados após a sesta do almoço dominical. Ah! a família: o pai, misógino, um parvo de cabelos grisalhos que certa noite na cama antes de dormir perguntou perplexo para a mulher quais os motivos de a filha tê-lo xingado de "homem" e batido forte a porta do quarto, e que ficou sem entender menos ainda quando a filha deixou de ser a princesinha da família, passou a raspar o cabelo dos lados e nunca mais deu um sorriso no interior daquela casa. A mãe, embora cúmplice, não consegue aceitar as escolhas que a menina faz quanto ax parceirx sexual e encontra sérias barreiras de tolerância para continuar acompanhando aquela criatura rebelde que além do mais traz para casa uns tipos andróginos...

Da casa à faculdade, ela é fora de série. nas assembleias se destaca e não tem medo de expôr uma opinião, lendo textos bem fundamentados mas também controversos, escritos por ela mesma ou por parceirxs do coletivo que não a deixam desamparada: nunca está sozinha, embora sua graça não seja para qualquer um. Se há uma coisa que aprendeu nos palcos da vida nos anos de dança e atividades lúdicas que a família bancou desde sua infância é que a simpatia de um sorriso, assim como a energia vivificante de uma boa performance, têm seu valor e seus elementos de exclusividade. Por isso, sem que perceba, demonstra postura altiva que, para quem nunca teve a oportunidade de fumar um cigarro sozinho ao seu lado pode ser interpretada como ar de gente esnobe. 

A diferença é que ela é um ser humano que se valoriza. Porque sabe olhar, seu olhar por trás da armação grossa dos óculos intimidadores cai como um elogio. Mas sua visão concentra atenção não em pessoas mas sim nas teias invisíveis da sociedade capitalista, que em sua masmorra enseja diariamente um teatro de submissão a começar no seio do núcleo familiar e se espraiando através de papéis de gênero socializados pelos homens. que controlam hegemonicamente a transmissão dos recursos materiais e culturais. 


E toda a energia vital desta graciosidade feminina é colocada em ação para fortalecer a luta de suas irmãs mulheres, e por isso me é toda inspiradora. Fuço o perfil dela no facebook e me delicio em reparar como a volúpia desta pessoa canaliza-se também para se auto-reinventar em performance e estilo: a disciplina é o esmero com que purifica a única obra de arte possível - sua própria vida no lampejo de cada momento presente. A maquiagem... a maneira como ela se diverte nas noites de festa! Sim, ela é demais. Stalkeio de novo o perfil e vejo que a exclui, embora a estime tanto?

Por quê?

Ah sim! Ela é feminista radical...

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