segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Já não aguento mais

Com duas bonecas de pano na mão, um vestido branco de rendas e a eternidade no pátio de um asilo eu seria mais.
Até porque nunca se sabe o que ocorre no mecanismo da psique de uma criatura, e enquanto existir peneira para peneirar haverá torrão que fica sobrando.

A confirmação da loucura de Syd Barret veio pela demonstração de sua cabeça que encarecou, o olhar que perdeu o brilho habitual e barriga que avolumou. Mas e a loucura do infeliz que se supõe de antemão ser rejeitado ou incompreendido e assim involuntariamente e sem controle incorpora o fardo em sua máscara? (O fisiculturista tem regozijo no vislumbre do espelho, o yogue, na consciência em harmonia com a realidade, o burguês (...) - mas e o louco?).

Ou a historia do homem que, submisso ao patrão, desconta e transmite o mal à esposa, nua em um círculo de fetiches .

Assim me ocorreu essa consideração, e como eu gosto de palavrar, pus no papel desta forma que calhou. Se não gostasse, teria dormido e amanhã acordaria mesmo assim para amar sorrisos.

Se considerassem que ao escrever tais linhas eu poderia estar tomando um sorvete e pensando num affair, ou então babando, sem dormir, enquanto a febre não passa, teriam dimensão da "literatura que cria a realidade", principalmente quando utilizada por um geminiano nervoso. O peso de ter de sentir e o prazer de poder registrar.

Apenas quero ser lembrado como alguém que suportou com honra e austeridade o seu peso existencial.

Enfim, se na madrugada as palavras têm mais peso é porque na escuridão solitária da noite somente elas existem. Me aventuro na fossa e trago de lá o que vi porque minha âncora - para bem ou mal - prende-me firmemente aqui.

Um comentário: