domingo, 26 de março de 2017

Uma brisinha esse texto - revolução ontológica.

Tendo recentemente submetido o meu trabalho um sem-número de publicações que me oferecem o mérito de ver-me publicado, pergunto a mim próprio, cinicamente
"por que sequer quero eu ser publicado?"
Acaso alguém apreciar o texto que escrevi engrandece a obra?
Acaso alguém admirar a minha fotografia faz dela mais significativa?
Não, há ego e vaidade apenas.
Uma publicação é senão um grupamento de pessoas que se consideram sabidas o suficiente para selecionar aquilo que 
irão imprimir em folha de papel  e colocar em circulação o texto que ninguém vai ler, para prestigiar ao autor, que irá então celebrar tomando sua champanha à mesa de jantar com suas pessoas. É gente tentando atribuir sentido à vida, e roubar do contentamento a parte que lhe cabe.
A minha vida não é para ter sentido, e a minha champanha que eu não bebo eu bebo sozinho.
Então por que quero eu ser publicado?

Sim, mesmo para mim que escrevo só por escrever, sorrateiras vêm ter comigo a notoriedade e  a reputação.

Que seja eu publicado, mas não em meus textos bons, e sim nos ruins, como este.

quinta-feira, 9 de março de 2017

Por entre os vitrais da casa do Senhor
a auréola loura é roubada astralmente
se levanta a humana súplica da dor
na mente frágil de fio evanescente.

Logo, o pálido desmaio vem sem sabor
-enferma vertigem, baloiço delirante-
Não posso mais contra este horror,
Aos pés de Deus eu caio, clamante.

Se não posso viver com entusiasmo
É quando o sono não chega até mim
Que não suporto mais viver assim

Desejo do fundo do meu coração
Desaparecer, absorvido no abismo
Mas meu canto é a fé, dizendo-me que "não".
... e o "professor", ontem, na Faculdade de Economia e Administração: sujeito super nervoso, que cospe as palavras enquanto apresenta o diagnóstico social dele e dos homens dele, utilizando conceitos quais "coisificação", "fetichismo" e "alienação", para tentar nos convencer - com discurso de ódio tão insuportável quanto sexista (que faz da sala de aula um ambiente hostil e sem diálogo) - de que atualmente é simplesmente impossível algum de nós ser feliz!

Gente, cê acha?! 

Saí da aula me perguntando: se for para se tornar uma pessoa amargurada, é preciso tanto estudo assim? Ou, melhor dizendo, qual o valor de um conhecimento científico que professa senão a impiedade e desesperança?

#indignado

terça-feira, 7 de março de 2017

Carta de motivação à SP Escola de Teatro

Como antropólogo apaixonado pela literatura e com vocação para a poética, participar de um curso de extensão na SP Escola de Teatro sobre Samuel Beckett é interessante à minha formação devido não somente à potência da performance como artifício de complicação cultural, mas também para explorar a potência do teatro como meio de transformação social.

São célebres os pensadores que ousaram problematizar a irrealidade da realidade da vida, e considerar os campos, as cidades e as ideias como coisas fictícias, preservando no ambiente dos sonhos a verdadeira realidade: como toda a literatura consiste num esforço para tornar a vida real, o eterno aforisma de Hipócrates agora confirma a si mesmo, e o dramaturgo aparece como um criador de realidades potenciais. Antes, o romancista, atualmente, o dramaturgo no palco, ou o diretor servido por uma equipe audiovisual, às vezes os políticos também, estes, os legítimos sonhadores dos sonhos sonhados pela humanidade.

Mas tendo nascido sob constrangimentos sociais que acarretam na classificação da minha pessoa como de "baixa renda" - partilhando da mesma seara econômica dos filhos de caboclos que perderam sua cultura própria ao serem engolidos pela cidade, o que eu, como dramaturgo talhado à imagem da retidão e da ética, devo escrever? Com certeza, a história de nossa gente: dos trabalhadores, dos índios...

Inspira-me a ironia dos diálogos de Tchékov, que produziu durante a crise do drama; as técnicas de purgação da ilusão burguesa operadas por Brecht ao estabelecer o afastamento entre espectadores e atores no palco; mas sobretudo as experiências de Eleonora Fabião, que num misto de improvisação e perigo busca produzir com seu corpo dissonâncias na mesmice da pólis - verdadeiros ritos de passagem. 

sábado, 4 de março de 2017

quarta-feira, 1 de março de 2017

Eu preciso de férias das minhas férias: um período em que eu não volte para a "programação normal", mas que também não tenha de ficar aqui, em casa.

Eu quero, de uma vez por todas, me tornar outra pessoa: mudar definitivamente meus hábitos e minha personalidade - dar reset e recomeçar do princípio, enquanto ainda há tempo.

Eu quero voltar para o Vipassana, eu quero estar num mosteiro - um retiro espiritual que seja permanente, eu quero tornar-me um monge.

Não preciso de viajar, pois minha sede de wanderlust e de contemplação de paisagens já foi saciada, uma vez que eu realizei que tudo o que há é só a minha mesma consciência de observador projetando-se sobre a topografia natural, pessoas ou situações. No pouco que vi, eu já vi tudo, e se  eu continuasse, só tornaria a ver de novo a mim mesmo. E ademais, quem viaja apaixona-se pelas formas da natureza da mesma maneira que quem deseja apaixona-se pelas formas corporais: a curva do corpo de uma mulher ou o contorno de uma montanha, ambos são belos mas efêmeros - a carne apodrece e a rocha sofre erosão.

Eu quero o que é espiritual e eterno - quero tudo disso, e vou consegui-lo pela contemplação divina - da mesma maneira que quem rega uma raiz está regando a planta toda, quem se entrega a Deus entrega-se à unidade.

E a unidade, sim, a unidade é o objetivo maior de toda a vida humana, seja a do casal conjugal que partilha uma mesma alma, seja a do devoto que, vivendo sob regime ecumênico, tem na sua vida e no seu corpo nada mais que apenas uma engrenagem para o funcionamento do templo.

Consideração suicida

Ouvindo a última peça musical do compositor erudito cuja morte prematura o impediu de apreciar sua própria obra, eu escrevo agora com um demônio tocando violino ao pé da minha cama, e racionalizo o seguinte:

Se eu viesse a por um fim à minha própria vida - sendo minha existência humana tão pequena, quem ou o que seria alterado pela tragédia? Sim, o desaparecimento da minha pessoa nada afetaria a organização da política mundial, nem a composição do solo que faz as sementes germinarem,  nem os habitats e ecossistemas naturais que sustentam a vida selvagem, muito menos a distribuição de renda na sociedade econômica, e nem tampouco as instituições de caridade que buscam fazer deste solo terráqueo um mundo melhor para aqueles que têm gosto de viver.
Vivam e gozem aqueles que assim o querem, mas por que, Deus, nós, os malditos, devemos ser obrigados a viver a vida não como desafio, mas como fardo?
Mas há a família, que seria alterada. Minha avó, coitada, que tanto luta contra dores e todos os dias se mostra firme para a vida, ela perderia uma das suas razões de continuar; minha mãe, também, acordaria com um motivo a menos para se levantar da cama, e com um fardo moral gigantesco sobre as costas; minha jovem irmã perderia um exemplo, e minha tia perderia um amigo. Todas elas se perguntariam "onde foi que eu errei?".
Que não me julguem, vocês, pois o alcoolismo, tabagismo e psicodelismo desenfreados  que praticam consistem em suicídio crônico!
Mas considerando agora que os estágios do luto são passageiros, e que o pesar psicológico das dores morais perdurariam por, no máximo, o tempo de vida de cada uma das pessoas desta pequena família, que enfim também voltará ao pó, o meu suicídio teria implicações apenas sentimentais e seria eventualmente esquecido.

Mas agora também penso que, talvez, a existência minha, neste Universo, cá no planeta Terra, nutrido por este solo de meu Deus, tenha, enfim, um sentido. E este é que a tragédia da minha vida seja observável àqueles que choram de barriga cheia, e constitua, naqueles cujas situações objetivas de vida sejam superiores às minhas, um espelho reflexivo de auto-consolo. Para quem naturalmente sofre com o tédio, a necessidade de ostentação de suas posses, a excessiva cobrança em relacionamentos, a falta de liberdade dentro da família, pense em alguém órfão, de frágil saúde psíquica, sem herança nem carreira profissional que seja frutífera, vítima diária da solidão, que traz consigo sua parceira inseparável, a melancolia, a qual, imbatível por dias a fio, e somada à revolta complacente da auto-piedade, engrossa e se turva em morbidez. Assim estou eu.

Todas estas racionalizações respondem aos aspectos materiais da consideração suicida, mas e quanto aos aspectos do Oculto? O demônio ao pé da cama diz que o inferno é cá na Terra mesmo, e que, tanto antes quanto depois da vida, nada, apenas a escuridão, existe; mas ele não poderia estar mais enganado: vive iludido pela manifestação maiávica do mundo material, cuja compreensão humana necessariamente precisa diferir, dualmente, entre antes versus depois, ou vida versus morte, quando, na realidade transcendental, está claro para os sábios, santos e meditadores de todo os tempos que o mundo material, assim como nosso corpo, não são tão sólidos quanto parecem ser, e de que existe um contínuo de densificação - em nível cósmico mas também individual - do espírito, que é eterno, em matéria, que é transitória e constitui, na verdade, a manifestação ilusória da Realidade Suprema mais sutil, de maneira que meu suicídio seria altamente nocivo para o próprio espírito que expressa nesta carne do meu corpo certas qualidades imemoriais adquiridas através de nascimentos sucessivos, pela regulação universal da lei do Karma, para constante aperfeiçoamento da alma caída, em rumo de volta ao Supremo.

Mas isto não me consola, apenas estabelece um peso, um fardo metafísico que, longe de me libertar, me amedronta e me prende aqui, asfixiado, nesta vida ingrata e decadente, de falta de apetite e desmaios, de insônia e masturbação com pornografia à hora morta da madrugada.

Apenas eu tivesse mais coragem para enfrentar a vida, ao invés de passar o tempo me dignificando a uma rotina de auto-policiamento e isolamento, que acaba por me atrofiar...

Apenas eu fosse ignorante ou preguiçoso e corajoso o suficiente para abraçar o demônio e apontar a pistola...

Apenas eu tivesse um serviço para empregar meu tempo e me matar de trabalhar, de uma maneira que não me sobrasse tempo para uma consideração suicida, mas sim tempo cronometrado para tirar a bota apertada, sentar com minhas pessoas na sala de jantar e dizer "querida, aqui temos a fartura", com ar de quem sabe que é digno e não precisa de esforço discursivo para que os outros reconheçam nele o próprio valor. É pedir demais?

Apenas eu soubesse como nutrir uma esperança...



(Este texto suave, que ninguém lerá, foi escrito para que o lessem e, sensibilizados pelo meu lamento sincero, me oferecessem consolo: um carinho, cafuné, um beijo; mas ninguém me acariciará, me consolará, me beijará.)

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

Interessada por uma prosa mística (de bom porte)?

Após doze horas de sono contínuo, desperto sentindo o peso letárgico de dez mil anos de isolamento. Qual caixeiro-viajante cuja bagagem e intenção de comércio são apenas pretexto para a jornada, e que portanto não anota no recibo o saldo de superávit, empreendi longa viagem aos recantos mais sutis da existência, ao final da qual já não sei o que me foi acrescentado ou perdido, mas volto com a certeza de que não sou mais o mesmo.

Aonde fui, que não estive? Quem fui, que não existi? Como dizer que a realidade visível experimentada em vigília é a única que há se, lúcido, eu mesmo explorei paisagens imateriais repletas de significado? Todo um mundo para sonho... a questão é apenas uma de prioridade: o que dizer do mendigo que, deitado sobre a calçada dura, sozinho sonha sonhos imperiais?

Como um meteorito que por acaso se esquiva ao choque com outro maior, e por atração se aglomera com outros de seu tamanho, dando forma a um algo maior que a soma dos pedaços, minha consciência vagou, foi sugada por não sei qual entidade maior, mas também recebeu, da fonte pura de toda a energia, vitalidade e inspiração.

Já é alta manhã, e o calor da luz que penetra pela janela traz a sensação do suor ao corpo.
     Pois é, agora há este corpo, aqui.
É como se uma espessa camada de poeira jurássica houvesse lentamente se depositado durante a noite, amortecendo cada nervo, a fazer obscuro o reconhecimento de músculos e membros.

A súbita consciência do corpo abate-me, como a lembrança de uma escolha da qual já me arrependi; como, no filho, a tentativa egoística de diferenciação que, à revelia da vontade paterna, diz "Eu quero", e abandona a própria casa, somente para mais tarde retornar e comentar "Eu vi, eu senti, eu fui, e agora eu sei".

Mas quero o quê? Agora, levantar-me daqui, e, apenas à antecipação das "ações factuais" agendadas para este dia, o coração pulsa acelerado.
     
Um calafrio imobilizante gela-me até aos ossos.
Com qual expressão vou colocar-me frente a frente com outra pessoa, ela que também dormiu, sonhou, e me espera adiante para falar, muito realmente, numa mesa ao café ou numa saleta sobre o fumo?

Pessoa que me espera como se verdadeiramente houvesse algo de concreto na formalidade das situações, na substância efêmera das associações, sim, como se aqui fora, no mundo material, houvesse uma maneira certa, e outra errada, de me comportar, a que eu, por me levantar e abandonar o quarto de dormir, por ter desejado sair da casa do Pai, houvesse explicitamente me submetido.

E se alguma coisa das pessoas foi também extraviada na imensidão profunda da noite, e nossas peças não se encaixarem mais?

Inspiro e, conscientemente, expiro pela boca.

... Ao me deslizar da cama para o mapa yoguin preparado sobre o chão com determinação desde a noite anterior, sinto minha coluna vertebral suportada pelo solo, abandono os pensamentos, e sou feliz.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

Sentir somente é também uma habilidade.
     Quando prestigio a gente fazendo o que gosta posso, fazendo uso da minha capacidade de sentir - e sem deixar de ser eu mesmo -  tomar ao outro a parte que me pertence naquela sensação.

Escrevo isto assistindo ao Canal Off e penso, sem um pingo de auto-piedade, ter sido esta, junto da empatia sem limites e do gosto pelas palavras, a compensação de Deus por ter me nascido financialmente pobre.

Sinto, e assim posso explorar a imensidão do oceano na Califórnia, contar as barbatanas dos tubarões no Caribe, pousar sobre os Ombros do Guardião...

terça-feira, 24 de janeiro de 2017

Sonho 24/01/2017

Pois então eu tive o sonho mais precioso.

Mariana Osés e eu na mesma lotação, naquele período em que a criançada volta da escola para seus lares. Éramos crianças também, e ríamos, ríamos gargalhadas sonoras e alegres, de tirar o fôlego e doer as costelas! Ela brincava comigo ao estender por sobre a catraca da lotação sua perna direita para que eu a pudesse beijar, de seus dedos até toda a extensão de sua canela, e então revolvia languidamente seu membro feminino e sensual.

Os raios de sol penetravam o vidro da janela e iluminavam com feixes de luz o rosto dela, a minha musa onírica mais imaculada, com quem eu nunca troquei uma palavra sequer, mas cuja existência reconheci nas saudosas aulas de História.

A atmosfera tinha sabor de tutti frutti, e a cor do sonho era de tom pastel puxado para o bege claro, com a substância de uma leve amizade ingênua e pueril.

Quando desceu da lotação, pela porta da frente, na calçada o olhar de Mariana Osés fixou-se, através do vidro dianteiro, no meu próprio olhar, e eu pisquei meu olho direito enquanto distribuí um riso plácido, e vi seu corpo virar-se para frente sem não antes sorrir também, contente e satisfeita.

Oh! Mariana Osés, quando de novo tu virás até mim?

quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

vejam só, minha gente, este texto do companheiro @Juca Pirama tem vida própria!!

quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

Alguns trechos do livro "Yoga para Nervosos" do Hermógenes

Sobre a metafísica da Yoga (além da matéria):

Desde os primórdios da humanidade, a ciência de curar era psicossomática, isto é, não se cingia apenas a tratar do corpo. Os pajés, os feiticeiros, os medicine man, os chamemos de todas as tribos foram precursores da moderna medicina psicossomática. Seus cerimoniais, amuletos, trabalhos de magia, tinham poder curador porque atuavam a partir do plano mais sutil, e por isto mesmo, mais poderoso: o psiquismo.

Enquanto a moderna medicina psicossomática vir o homem apenas em seus níveis mais densos - o físico e o psíquico - ainda estará tratando de um homem incompleto.

O homem integral é visto pelas escolas hinduístas como formado por cinco koshas ou revestimentos, que vão se quintessenciando a partir do corpo físico até atingir o mais sutil, onde não há nada de material e concreto, formal e pessoal, que é o plano da mais pura bem-aventurança. Entre o físico e o mental, como intermediário há o organismo energético, formado de prâna ou bioenergia, que dá vitalidade ao todo orgânico, sendo o élan dinamizante de cada função orgânica. Acima do plano propriamente mental, há um plano metafísico, que é o da intuição filosófica.

Nosso corpo mais denso, isto é, o organismo físico, não passa de um agregado de matéria, formado exatamente pelos alimentos que consumimos. Um cadáver é este agregado de material tirado dos alimentos, no qual os órgãos não trabalham, por falta do élan dinamizante, isto é, do prâna. Por isso mesmo o prâna é a própria vida. "Do pó da terra formou Deus Jehovah ao homem, e soprou-lhe nas narinas o fôlego da vida; e o homem e tornou um ser vivente" (Gen. 2-7). É assim que a Bíblia descreve a gênese do homem em seus planos mais densos.

Os planos mais sutis, mais abstratos, menos materiais, menos pessoais, menos limitados pela forma, por isso mesmo mais próximos do Infinito e da Eternidade, são mais poderosos do que os que estão presos no tempo e nas formas. Do mesmo jeito que a fissão desprende energia incomparavelmente superior à liberada pelos fenômenos eletrônicos e estes, por sua vez, maior do que os motores a vapor, as energias espirituais são incomparavelmente superiores às mentais; e estas, por sua vez, às físicas. Dito isto, pode-se compreender por que uma mudança fundamental de orientação espiritual ou filosófica da nossa vida tem o fantástico poder de harmonizar e limpar a mente, bem como restaurar a normalidade orgânica, com a conquista de uma saúde melhor.

O gozo material e vulgar não pode ser antídoto para a dor existencial. Esta só pode ser vencida com a realização do que é essencial, isto é, do Espírito. 

Dualidade

A filosofia yogui poderá até ser chamada de pessimista, quando mostra ser este mundo maiávico (ilusório) feito de experiência dolorosa, concluindo que viver é conviver com a dor. 
O Yoga é portanto uma filosofia da Realidade: nem pessimista nem otimista. Afirma ser a Realidade, em sua manifestação ilusória, feita de opostos: luz e sombra; alegria e tristeza; riqueza e pobreza [...].
O yoguin é permanentemente sereno e equânime, isolado da dualidade, longe do alcance das fugazes manifestações do Real.

Viveka (discriminação):

O mundo não é ilusório inteiramente. Não é somente maya (ilusão). A cobra não é de mentira. É real. O mundo o é na medida e extensão em que consegue gerar medo ou apego. As reações somáticas do amedrontado emprestam realidade àquilo que lhe dá causa. E, enquanto a cobra for uma apavorante realidade, a corda não é vista e, portanto, não tem realidade embora seja Real. Dessa maneira o mundo fenomênico, isto é, o que vemos e sentimos é uma realidade, na medida e extensão dos efeitos que em nós provocam as suas delícias ou suas misérias. E, enquanto tiver o poder de nos fazer sofrer ou gozar, a Realidade Divina, é apenas como devaneio de místico. Somente viveka nos desipnotiza a mente para a contemplação do Transcendente, que se esconde atrás do imanente visível. É viveka que nos pode alcançar à visão do Uno, que a multiplicidade esconde, e conduzir-nos à vivência de Deus, que o processo mundanal impede.

Vichara (auto-pesquisa):

Ninguém é tão bom como orgulhosamente se acredita, nem tão inferior quanto pessimistamente pensa ser.
Cada um de nós é - quando livre da ilusão - a própria Realidade. O homem foi feito à imagem e semelhança de Deus. Não é o que se sabe?! - Pois bem, vamos procurar Deus através de conhecer aquilo que somos, descartando-nos, para isto, dos falsos juízos que de nós fazemos.

Tanto o sentimento de inferioridade como seu oposto são produto do egoísmo.

Sakshi (testemunha silente):

O homem vulgar é comumente diluído dentro do ambiente em que se encontra. O mundano o contamina, fascina, absorve e consome. Dele pouco sobra verídico e imune. É visando a evitar o contato, e defender a sua mente, eu caráter, suas virtudes, que alguns místicos se fazem eremitas e fogem para o ermo. Quem desenvolve esta sadia atitude espiritual e psicológica chamada sakshi realizando a isenção, não obstante vivendo em contiguidade física com o mundano, fica espiritualmente, à parte. Não se perde. Não se confunde. Não se identifica. Não se corrompe.

A humanidade "stressada" está precisando da ajuda dos poucos isentos homens sadios e sábios, que ainda conservam lucidez e coerência e que, portanto, podem fazer algo por ela.

Identificação:

Aquilo que quando nos falta nos dá infelicidade é objeto de nossa identificação. Somos identificados ao que ansiosa e desastrosamente queremos conservar, melhorar, desenvolver...

Enquanto o pobre homem identificado é joguete ao sabor das circunstâncias incontroláveis na tempestuosa atmosfera da matéria, o yoguim vivendo no Espírito, não se deixa apanhar nas malhas da ansiedade e não cai presa da "coisa".

Desidentificar-se com o mundo de Deus, e identificar-se com o Deus do mundo.

Um imaturo vai ao cinema e goza e sofre respectivamente com as vitórias e derrotas do herói ao qual se identifica. Seus nervos, glândulas e vísceras são fundamentalmente sacudidos pelos acontecimentos do mundo mítico criado pela fita. Uma pessoa de espírito crítico e amadurecido, conhecedora da técnica e arte cinematográficas, sabe "dar o desconto", e assiste ao filme, dizendo para si mesmo: "não é comigo"; "eu não sou aquele personagem"; "tudo é uma ilusão".

Ideia: criar um texto no qual eu me fundo diluo no protagonista.

Somos deuses:

Para tais pessoas que confundem humildade com humilhação autodestrutiva, um dia escrevi: "Quando eu disse ao caroço de laranja que dentro dele dormia um laranjal inteirinho, ele sorriu e zombou de mim e se mostrou estupidamente incrédulo.
Tu és semente da Eternidade, do Infinito..."

Ateus e materialistas:

Primeiro de tudo: Deus é alcançado através do caminho da ciência, filosofia e meditação.
Ateu: quem afastou Deus da sua vida, mas ateu quanto a qual Deus?
Tipos de ateu:
ateu semi-cientista, com vaidade intelectual;
ateu zangado pois pediu e não recebeu, egoísta;

Sankalpayama (controle sobre a imaginação):

Não é o fato de ficarmos a imaginar que vai acontecer algo de mal que nos tira a calma?
Os preocupados geralmente são homens de imaginação fecunda. Os gênios, também o são.
Aprenda a perceber os momentos em que sua imaginação é quem está dirigindo você e não você a ela.
Use o ilimitado poder da imaginação para fazer de si mesmo um retrato mental positivo. Imagine-se cada dia mais vitorioso, sereno, iluminado, forte, equânime, senhor de sua mente, cheio de saúde, de alegria, de amor universal, um homem redimido.

Seva (agir no mundo visando à felicidade dos outros):

Quem ajuda é o mesmo que recebe ajuda, em termos do Absoluto Uno. Quem ajuda aos outros o faz por ter certeza de que o outro não existe fora de si mesmo, e que a separação é maya; o que faz é na convicção de que Deus Uno é quem dá e é quem recebe. Quem assim age está livre de aspirar reconhecimento, retribuição ou recompensa. Não visa nem mesmo a conquistar um lugarzinho no céu. Não se utiliza dos necessitados como instrumento de egoísticos planos de "salvação" ou "indulgências".
Esta é a ação reta de que fala o Budismo.

Karma yoga:

Prestar serviços a Deus na pessoa do próximo.

O karma yogui não se julga o autor das obras. Vive como instrumento nas mãos do verdadeiro obreiro: Deus.

De hoje em diante não creditarei a mim mesmo a autoria das boas obras. 

Saiba ocupar-se:

Yoga corresponde à filosofia da ação, o que é diferente de inação. Em verdade, Yoga representa terapêutica contra a agitação. Não importa a aparente humildade da obra, com a Yoga cada ação é banhada em devoção e integração.

O sábio, somente se ocupa. Não se preocupa. Não se pós-ocupa. Não se consome no que está por vir. Não se empenha no que passou. Não sofre na espera. Não se martiriza rememorando. Ele segue o ensino bíblico, vivendo seu dia e deixando que o ontem ou amanhã cuidem de si mesmos.
Não quer dizer que seja imprudente e irresponsável, mas acha que não é inteligente começar a dançar antes que a música toque nem continuam dançando depois que ela finda.

Asanga:

O yoguin aplaca a sede dos sentidos (indriyas). Sanga significa viver para gratificar os sentidos, e representa a servidão, pois os sentidos são indiscutivelmente insaciáveis. Asanga significa a negação dos prazeres sensuais, e leva à liberdade.
O erotismo está expulsando do mundo a poesia. A sensualidade grossa está vencendo a capacidade de gozar o sutil.
Sou uma pessoa de sensibilidade refinada.

O mendigo e o abastado:

Ninguém é mendigo pelo que não possui, e sim pelo que anda mendigando. Ninguém é rico pelo que tem, mas pela espontânea prodigalidade com que distribui.

Se você tem cometido o erro de se reconhecer vazio de muitas coisas e, no sentido de preenchê-las, vive a solicitar do mundo e dos outro que lhe concedam favores, que lhe atendam os rogos, você dificilmente será feliz. Primeiro, porque o mundo e as pessoas não gostam de atender aos vazios, aos indigentes, aos dependentes, aos que se reconhecem fracos, incompletos, carentes de respeito, desamados, incompreendidos, necessitados, deserdados... Em segundo lugar, porque você se está enterrando na infelicidade ainda mais, pelo fato de reconhecer-se carente, decaído, necessitado, fraco, incapaz, miserável;  por estar criando um auto-retrato negativo e mórbido.

Os bens materiais podem, materialmente, diminuir, na medida em que os esbanjamos. Os bens espirituais, ao contrário, crescem na proporção que com eles beneficiamos os outros.

Contentamento (santosha):

Se, para vencer uma carência, o contentamento é valioso, para a manutenção de um estado de razoável tranquilidade o é ainda mais. Aliás, não haverá paz enquanto cobiçarmos algo, mesmo que seja a própria a paz. Não alcança o céu quem por ele e consome de ansiedade. Uma forma de cair no inferno é tornar-se ansioso por ganhar o céu. Há um querer sereno, sem luta, sem tensões que abre a porta da vitória. Aprenda isso.

Contentar-se com o simples contentamento, e isto inclui contentar-se com o que ainda não sou, ou ainda não consegui ser.

Não é satisfazer a insatisfação que nos faz felizes. O não ter insatisfação, sim.

Sama bhava:

Até ontem eu dividia as coisas e as situações sob critério estreito do meu egoísmo.
Sem qualquer serenidade, era atirado de um lado para outro, totalmente manobrado por acontecimentos externos a mim. Do extremo da alegria sem sobriedade era quase sempre lançado no vale do amargor sem esperança, em função do julgamento que fazia dos fatos, no ritmo e na alternância dos opostos da existência.

Hoje, menos egoísta, nada que ocorra pode desequilibrar-me. Hoje, com sama bhava, infenso à dança dos opostos, nada me leva a exageros de alegria, nada me pode deprimir e aborrecer.

Não capitule:

Valorizo meu equilíbrio, sobriedade, tempo e saúde.

É provável que a vulgaridade não entenda nem perdoe alguém que se nega a vulgarizar-se, e agrida você. Mas você deve lembrar-se, de que os raros autênticos, são indispensáveis para servirem de esteio, de pontos de apoio, de orientação ao homem comum, escorregadio e amorfo.

Bhakti:

Ame a Onipresença Manifesta em tudo e não somente vença a dor, mas seja um comensal da Suprema Beatitude.

"Extremamente queridos, por mim, são aqueles que me consideram o Fim Supremo, e, dotados de fé e devoção, seguem esta religião-néctar" (Gita)

Satsanga:

É para fazer satsanga, que você deveria comparecer aos cultos públicos de sua igreja, aos concertos, aos centros de estudos, onde se cultiva a vida espiritual.

terça-feira, 10 de janeiro de 2017

Fichamento do livro "A Doutrina de Buda"

O Demônio das paixões mundanas está sempre procurando ludibriar vossas mentes.Se uma víbora morar no vosso quarto, não podereis ter um sono tranquilo se não a expulsardes.

Atentai a este fato: Buda não é um corpo físico, é a Iluminação. O corpo físico perece, mas a Iluminação subsistirá para sempre na verdade do Dharma e na prática deste. Aquele que apenas vê o meu corpo não me vê realmente. Somente aquele que aceita meu ensinamento consegue me ver.

Comentário: quando se desprendeu do corpo, a consciência do Buda, iluminada nos caminhos do pós-morte, aliviou-se para além do espaço-tempo.

A obra de Buda é tão perene quanto é infindável o erro dos homens. Assim como a profundidade do erro é insondável, a compaixão de Buda não tem limites.

O Buda Eterno

Homens creem que Buda nasceu como Príncipe e que, como monge mendicante, trilhou o árduo caminho da Iluminação. Não obstante esta longa preparação, Buda sempre existiu neste mundo, que não tem nem princípio nem fim.

É difícil conhecer o mundo como ele verdadeiramente é, pois embora pareça real, ele não o é, e embora pareça falso, ele também não o é. Os tolos não podem conhecer a verdade a respeito do mundo.

Somente Buda conhece, verdadeira e completamente, o mundo como ele é. Ele o mostra, nunca dizendo que ele é real ou falso, que é bom ou mal.

Parábola do pai que mente sua morte para os filhos para que eles tomem o remédio e se curem.

Não se deve condenar a mentira deste pai médico pois Buda é como este pai: Ele também usa a alegoria da vida e da morte para salvar os homens que se vêem escravizados pelo desejo.

Comentário: este mundo não tem princípio nem fim.

O corpo de Buda é a própria Iluminação! Sendo amorfo e sem substância, ele sempre existiu e para sempre existirá. Não é um corpo físico nem deve ser nutrido. É um corpo eterno cuja substância é a sabedoria. Buda, portanto, é sem medo, sem doenças, eterno e imutável.

Comentário: sabedoria = luz, ignorância = trevas. Morte (desaparecimento do corpo) = renovação da vida, renascimento em condição de Buda.

Dharmakaya é a substância do Dharma, ou seja, a substância da própria verdade. Enquanto Essência, Buda não tem forma ou cor, Ele não vem e nem vai para lugar algum. Como o céu azul, Ele abarca todas as coisas e desde que tudo tem, de nada necessita. Em sua essência, Buda abrange todo o universo, atingindo todos os lugares, e existe eternamente, quer os homens nele acreditem ou duvidem de sua existência.

Sambhogakay significa que a natureza de Buda, o todo amorfo constituído pela Compaixão e Sabedoria, manifesta-se através dos símbolos do nascimento e da morte, através dos símbolos dos votos, da prática ascética e da sua revelação a fim de salvar todos os seres.

Nirmanakaya, que neste aspecto completa o alívio oferecido pelo Buda da Recompensa, significa que Buda se manifestou no mundo com um corpo físico e mostrou aos homens, segundo as suas faculdades, os aspectos do nascimento, da renúncia a este mundo e da aquisição da Iluminação. Neste corpo, Buda usa de todos os meios, tais quais a doença e a morte, para guiar os homens.

Sobre limitação da consciência humana à dualidade vida-morte:

Quando a lua se põe ao olhar dos homens, costuma-se dizer que ela desaparece e desponta, aparece. Mas na realidade a lua não aparece nem desaparece, brilha imutavelmente no firmamento. Buda é exatamente como a lua: não aparece nem desaparece, apenas parece fazê-lo assim para que possa guiar os homens.

Na realidade, a verdadeira natureza de todas as coisas transcende as distinções entre nascimento e morte, entre início e fim, entre bem e o mal. Todas as coisas são sunyata e homogêneas.

Discriminações ignorantes:

Por causa da ignorância e das falsas interpretações, os homens criam discriminações, que na realidade não existem. Inerentemente, não existe discriminação entre o certo e o errado no comportamento humano, mas os homens, por causa de sua ignorância, imaginam tais distinções, julgando-as como certas ou erradas.

Fazendo de seus atos o campo de satisfação do ego, nutrindo a mente de discriminações, anuviando-a com a tolice, fertilizando-a com a chuva dos desejos ardentes, irrigando-a com a obstinação do ego, os homens lhe acrescentam o conceito do mal e com isso carregam consigo mais este fardo de ilusão.

Na realidade, este corpo de desilusão nada mais é do que o produto da própria mente, assim como o são as ilusões da tristeza, a lamentação, o sofrimento e a agonia.

Comentário: tristeza, lamentação, sofrimento e agonia: produto mental.

Este mundo de erro não é senão a sombra causada pela mente. É de se notar, contudo, que é desta mesma mente que emerge o mundo da Iluminação.

Sobre Destino, Deus ou Acaso: a verdade da Lei da Causalidade.

Neste mundo há três errôneos pontos de vista. Primeiro, diz-se que toda experiência humana baseia-se no Destino; segundo, afirma-se que tudo é criado por Deus e controlado por sua vontade; terceiro, diz-se que tudo acontece ao acaso, sem ter uma causa ou condição.

Se tudo tem sido decidido pelo destino, tanto as boas como as más ações são predestinadas, a felicidade e a desdita também o são, nada existe sem que tenha sido predestinado. Se assim fosse, todo os planos e esforços para melhora ou progresso seriam em vão e à humanidade não restariam esperanças.

O mesmo se diga quanto aos outros pontos de vista, pois se tudo em última instância está nas mãos de Deus ou depende da cega eventualidade, que esperança poderá ter a humanidade nesta cega submissão? Não é de se admirar que os homens, crendo nestes conceitos, percam a esperança e não se esforcem para agir corretamente e evitem o mal. 

Sobre a estrutura da mente.

As atividades da mente não têm limite, elas criam as circunstâncias da vida. Uma mente corrompida cerca-se de pensamentos impuros, e uma mente pura, pelo contrário, cerca-se de cosas puras; disto se conclui que o ambiente ou as circunstâncias são tão ilimitáveis quanto o são as atividades mentais.
Nada exista no mundo que não seja criado pela mente.

Mas a mente que abriga a necessidade e a cobiça, que cria seus ambientes, nunca está livre de lembranças, temores e lamentações, não só do passado, como também do presente e do futuro.

A vida e a morte nascem da mente e nela existem. Daí, uma vez desaparecida esta mente, o mundo da vida e da morte também se extingue.

Um obscuro e desnorteado viver surge de uma mente confusa com seu mundo de ilusão. Quando aprendermos que fora da mente não existe nenhum mundo ilusório, a mente anuviada tornar-se-á clara, e se não mais nos cercarmos de ambientes impuros, estaremos prontos para alcançar a Iluminação.

Comentário: fora da mente ignorante, tudo é Luz e Verdade.

Deste modo, o mundo da vida e da morte é criado pela mente, a ela se sujeita e por ela é regido, a mente é o senhor de toda situação. O mundo do sofrimento é assim causado por uma mente mal orientada.

A forma real das coisas.

Desde que tudo no mundo é causado pelo concurso das causas e condições, não poderá haver nenhuma distinção básica entre as coisas. As aparentes distinções são criadas pelos absurdos e discriminadores pensamentos dos homens.

No universal processo da criação não há, inerentemente, distinções entre o processo da vida e da extinção, mas os homens fazem distinção chamando a um de nascimento e a outro de morte.

Buda se afasta destas discriminações e considera o mundo comum uma nuvem passageira. Para Buda, toda coisa definitiva é mera ilusão porque Ele sabe que tudo aquilo ao qual a mente se apega e despreza é sem substância, assim ele evita as ciladas das aparências e os pensamentos discriminadores.

Comentário: se a mente apega ou despreza é porque é ilusão.

Devido a esta constante mudança nas aparências é que comparamos as coisas a uma miragem ou um sonho. Da mesma maneira, pode-se dizer que as coisas são como ilusões, não podendo ser consideradas como existentes, nem como não-existentes.

Comentário: sim, porque na verdade o que importa é a mente!

Transcender a dualidade sujeito x objeto.

Além disso, é um erro identificar esta vida efêmera com a imutável vida da verdade. Também não se pode dizer que, ao lado deste mundo de mudanças e aparências, exista outro mundo de constância e verdade. Será erro também considerar este mundo como ilusório ou real.

Os tolos consideram a vida como existência ou não-existência, mas os sábios a consideram como lago que transcende a existência e a não-existência, mas os sábios a consideram como lago que transcende a existência e a não-existência; este é o procedimento do Caminho do Meio.

Os homens, habitualmente, relacionam-se a si mesmos e a tudo com o nascimento e a morte, mas, na realidade, não há tais concepções. 

Quando os homens compreenderem esta verdade, aperceber-se-ão da verdade da não-dualidade: do nascimento e da morte.

Os homens, porque nutrem a ideia de um ego, apegam-se à ideia de posse; mas, como não há um "eu", não pode haver um "meu". Se puderem compreender esta verdade, poderão, então, compreender a verdade da não dualidade.

O sábio aprende a encarar as cambiantes circunstâncias da vida, com uma mente imparcial, não se exaltando com o sucesso nem se deprimindo com o fracasso. Assim se compreende o princípio da não-dualidade.

Desde o mais remoto passado, sendo condicionados, homens ignorantes acreditavam que a mente discriminadora, que fica à base desta vida de nascimento e morte, fosse a sua verdadeira natureza; e não sabiam que, oculta pela mente discriminadora, eles possuíam a mente pura da Iluminação, que é sua verdadeira natureza.

A mente discriminadora está vazia de toda substância e está em constante mudança. Mas desde que os homens acreditam que esta é a sua verdadeira mente, as ilusões passam a ser parte integrante das causas e condições que produzem o sofrimento. 

Comentário: sim, a mente vulgar é discriminadora e está sujeita a causas e condições de ignorância. 
Neste sentido, Buda e Cristo foram ambos revelações divinas muito auspiciosas. O primeiro, mostrou o caminho puro para mente Iluminada, e o segundo mostrou aos homens que o espírito sobrevive ao corpo. Graças a Deus!

As confusões e o aviltamento da mente são criados pela cobiça, bem como pelas reações às suas mutáveis circunstâncias. Não se pode dizer que uma hospedaria desaparece, apenas porque o hóspede aí não é visto.

Comentário: Desejar coisas no futuro x cumprir o dever no presente: a mente é instável em seus desejos e humores, e o que é instável não pode ser real 

Somente a mente "temporária" tem diferentes sentimentos, de momento a momento, com as imutáveis circunstâncias da vida.

Comentário: homens (e mulheres rsrs) apegam-se a discriminações falsas (bem x mal, vida x morte,etc), e sofrem.

O corpo e a mente poderão desaparecer, mas a natureza de Buda não pode ser destruída.

Comentário: Corpo-mente:psicossomático - Espírito: Buda

Sobre a luxúria:

A luxúria fertiliza o solo em que outras paixões florescem. É como um demônio que devora todos os bons atos do mundo. A luxúria é a víbora oculta na flor do jardim e envenena aqueles que vêm à procura da beleza. É a trepadeira que se enreda na árvore, sufocando-a. A luxúria insinua seus tentáculos nas emoções humanas, e suga o bom senso da mente. A luxúria é como a isca atirada por um demônio: o tolo se deixa por ela fisgar e é arrastado para as profundezas do mundo do mal. 

Se um osso coberto de sangue for dado a um cão, ele o roerá até ficar cansado e frustrado. A luxúria é para o homem exatamente como o osso é para o cão; ela apenas o cansará e não o satisfará.

Do desejo nasce a ação, da ação surge o sofrimento, destarte, o desejo, a ação e o sofrimento são como uma roda que gira interminavelmente, condicionando o karma.

Sobre a vida humana:

Não importando se são ricos ou pobres, os homens se preocupam com o dinheiro; sofrem com a pobreza e sofrem com a riqueza. Nunca estão contentes ou satisfeitos, porque suas vidas são controladas pela cobiça.

Comentário: questão: morador de rua renuncia ao conforto e à riqueza, mas se pode dizer que estão afastados da cobiça?

O pobre sempre sofre com a insuficiência, e isto serve para despertar-lhe intermináveis desejos por um terreno, por uma casa. Inflamado pela cobiça, ele destrói o corpo e a mente e acaba morrendo na metade de sua vida.

Comentário: ignorância_discernimento_carência_insatisfação_cobiça. 

Bodhisattva: Com o surgimento do budismo mahayana, este termo foi utilizado para designar todos aqueles que se esforçavam para atingir o estado de um Buda (a perfeita sabedoria). Aqueles que tentavam conduzir os outros ao reino de Buda por meio de sua grande compaixão, enquanto eles próprios buscavam este objetivo.

Bodhisattva

Bodhisattva

A terra de pureza do Buda Amida brilha com a beleza e o ar vibra com as celestiais harmonias. Seis vezes ao dia e à noite, do céu caem pétalas de flores delicadamente coloridas, e os homens as recolhem e as levam a todas as outras terras de Buda, ofertando-as aos inumeráveis Budas.

O número daqueles que nascem em Sua Terra Pura, são perfeitamente iluminados e  jamais retornarão ao mundo de delusões e morte é incalculável.

Homens que com fé sincera e confiança poderão renascer na Terra da Pureza de Buda, sendo conduzidos por Buda Amida e muitas outras deidades que aparecem em seu derradeiro momento.

Purificação da Mente: cautela e tolerância para extinguir o fogo das paixões mundanas.

Ideias corretas baseadas em cuidadosa observação;
paciente controle do corpo e da mente;
respeito ao adequado uso das coisas;
tolerar desconfortos do calor e do frio, da fome e da sede;
aprender a ser tolerante;

Não há nenhum meio pelo qual se possa escapar da cilada das paixões mundanas. Suponhamos que você tenha apanhado uma cobra, um crocodilo, um pássaro, um cão, uma raposa e um macaco, seis criaturas de naturezas muito diversas, e que as tenha amarrado junto com uma corda e as tenha deixado ir. Cada uma delas tentará voltar às próprias tocas. Na tentativa de cada um buscar o caminho da fuga, haverá luta, mas, estando atados uns aos outros pela corda, o mais forte deles arrastará todo o resto.

Como as criaturas nesta parábola, o homem é tentado de diversas maneiras pelos desejos dos seus seis sentidos - olhos, ouvidos, nariz, língua, tato e mente - e é controlado pelo desejo predominante.

Se as seis criaturas forem atadas a um poste, elas tentarão fugir até se extenuarem. Assim, os homens deverão treinar e controlar a mente, para que não tenham preocupações com os outros cinco sentidos. Se a mente estiver sob controle, eles poderão ter felicidade não só agora, como também no futuro.

O homem que busca a fama, a riqueza e casos amorosos é como uma criança que lambe mel na lâmina de uma faca. Ao lamber a doçura do mel, a criança corre o risco de ter a língua ferida. É como o tolo que carrega uma tocha contra um vento forte; correndo o risco de ter o rosto e as mãos queimadas.

Estavam espalhando má fama sobre Buda e seus discípulos, o que dificultava que mendigassem alimento naquela cidade. Um discípulo queria alcançar outra cidade, mas Buda permaneceu na primeira, porque não sabiam se na outra a mesma calúnia poderia estar ocorrendo. Moral da história: não ser controlado pelo ambiente externo.

Viúva que tratava bem a criada, mas quando a criada propositalmente abdicou de acordar cedo, a mulher a torturou. Moral da história: Muitos homens são como esta mulher. Enquanto seus ambientes são satisfatórios, eles são bondosos, modestos e tranquilos, mas é duvidoso se continuarão a se comportar da mesma maneira, quando as condições mudarem e se tornarem insatisfatórias.

Somente podemos considerar boa uma pessoa se ela mantiver a mente pura, serena e continuar a agir com bondade, mesmo quando ouvir palavras desagradáveis, quando os outros lhe mostrarem má vontade ou quando estiver privada de suficiente alimento, roupas e abrigo.

Comentário: raiz do descontrole, seja quando se exalta e fica nervoso, ou quando se deprime e fica triste, ambos por influência de fatores externos agindo sobre uma mente desestabilizada.

"Nobre senhor" - respondeu Píndola - "o Bem-Aventurado nos ensinou a guardar as portas dos cinco sentidos. Quando vemos belas figuras e cores com nossos olhos, quando ouvimos sons agradáveis com nossos ouvidos, quando sentimos a fragrância com nosso nariz, quando degustamos a doçura das coisas com nossa língua, ou quando tocamos as coisas macias com nossas mãos, nós não nos apegamos às coisas atraentes nem alimentamos repulsa pelas coisas desagradáveis. Aprendemos a guardar cuidadosamente destes cinco sentidos. É por este ensinamento do Abençoado que os jovens discípulos podem manter puros suas mentes e corpos.

Milhares de velas podem ser acesas com uma única vela, a qual não terá sua vida diminuída por causa disso. A felicidade nunca decresce por ser compartilhada.

É difícil atender o ensinamento de Buda;
É difícil não desejar as coisas que são belas e atraentes;
É difícil permanecer inocente quando se é tentado pelas coisas repentinas;
É difícil manter-se humilde;
É difícil suportar a disciplina que leva à Iluminação;
É difícil encontrar e aprender um bom método.

Os bons e os maus homens diferem-se uns dos outros por sua natureza. Os maus não reconhecem nas ações erradas um erro e se este erro for trazido à sua atenção, eles continuarão a praticá-lo e desprezarão todo aquele que se advertir sobre seus maus atos. Os bons e sábios homens são sensíveis ao que é certo e errado, param de fazer algo tão logo percebem que está errado e são gratos a todo aquele que lhes chama atenção sobre coisas erradas.

Suponhamos um homem trespassado por uma flecha envenenada e que seus parentes e amigos tenham resolvido chamar um cirurgião para retirar a seta e pensar sobre a ferida.

Mas o ferido objetou, dizendo: "Esperem um pouco. Antes que retirem a flecha, quero saber quem a tirou. Foi homem ou mulher? Foi algum nobre ou camponês? De que era feito o arco? O arco que atirou a flecha era grande ou pequeno? Era ele feito de madeira ou bambu? De que era feita a corda do arco? Era ela feita de fibra ou tripa? A seta era de rota ou junco? Que penas eram usadas? Antes que extraiam a seta, quero saber tudo a respeito dessas cosia."

A resposta à indagação se o universo tem limite ou se é eterno pode ser relegada, até que um meio de extinguir os fogos do nascimento, velhice, doença e morte seja encontrado. Diante da lamentação, tristeza, sofrimento e da dor, deve-se primeiro procurar um meio para solucionar estes problemas e dedicar-se à prática deste meio.

No capítulo "O caminho da realização prática", uma série de parábolas sobre pessoas que tiveram muita fé e confiança, e se esforçaram muito, abandonando a comodidade para manter firmeza na compaixão e boa vontade. Pessoas que uniram a paciência com a determinação para não aceitar o sofrimento. Parábolas sobre pessoas que se sacrificaram pela verdade, enfrentaram não só a carência material e rigor mental da ascese, mas também passaram por mortificações físicas.

Aqueles que buscam a Iluminação devem fazer de suas mentes um castelo e decorá-lo. Devem abrir de par a par os portões do castelo de suas mentes para, respeitosa e humildemente, convidar Buda a entrar em sua recôndita fortaleza, aí lhe oferecendo o fragrante incenso da fé, e as flores da gratidão e alegria.

Comentário: fé e segurança são as melhores companheiras, mas também se deve manifestar regozijo por receber o ensinamento de Buda, e gratidão através da caridade e compaixão.

Considerar os sentidos como fonte de sofrimento, quaisquer que possam ser seus sentimentos de dor ou prazer. 

A prática da Tolerância ajuda-nos a controlar a mente temerosa e irada; a prática do Esforço ajuda-nos a ser diligentes e fidedignos; a prática da Concentração ajuda-nos a controlar a mente dispersiva e fútil; e a prática da Sabedoria transforma a mente entrevada e confusa em uma mente clara e de penetrante introspecção.

Um rio começa como um pequeno riacho e fica cada vez mais largo, até desembocar no vasto oceano. Como estes exemplos, se um homem treinar com paciência e perseverança, seguramente, obterá a Iluminação.

Auto-depreciação: queimar o ego;
respeito pela virtude do outro: espelhamento.

Sobre a fraternidade dos irmãos sem lar:

Deve-se usar velhas e surradas roupas; mendigar o próprio alimento; ter como lar o local onde a noite os encontra, sob uma árvore ou sobre uma rocha; usar somente um especial remédio legado pela Fraternidade.

Carregar uma tigela na mão e ir de casa em casa é a vida de um mendigo, mas um irmão não é induzido por outros a assim fazer, ele não é forçado a isso pelas circunstâncias ou pela tentação. Ele o faz de livre e espontânea vontade, porque sabe que uma vida de fé o afastará das delusões, ajudá-lo-á a evitar o sofrimento, e o conduzirá rumo à Iluminação.

Comentário: quero usar a ascese do irmãos sem lar como parâmetro positivo para estudar os moradores de rua, isto é, estou nivelando por cima. Assim poderei ressaltar seus pedaços de sabedoria, bem como a degradação que surge daquele meio de vida. Ainda assim, vou queimar uma pedra de crack e escrever um relato sobre os delírios dos moradores de rua. Preciso voltar na maloca...

À noite deve reservar um tempo para uma tranquila meditação e para uma pequena caminhada antes de se recolher. Para um sono reparador, deve repousar sobre o lado direito, com os pés juntos, e ter como último pensamento a hora em que desejar levantar-se de madrugada. Deve reservar uns minutos, logo de manhã, para a meditação e para um pequeno passeio.

Eles não temem a morte futura, já que acreditam no renascimento na Terra de Buda. Desde que têm fé na verdade e santidade dos ensinamentos, eles podem expressar seus pensamentos livres de temor.

Comentário: se eu acredito, não tenho medo de expressar.

Aqueles que não acreditam nos ensinamentos de Buda têm uma visão estreita e, consequentemente, uma mente perturbada. Mas, se aqueles que acreditam no ensinamento de Buda, acreditando que há uma grande sabedoria e uma grande compaixão envolvendo todas as coisas, não se perturbarão com ninharias.

Aqueles que seguem o ensinamento de Buda, porque entendem que tudo é caracterizado pela "não-substancialidade", não tratam levianamente as coisas que entram na vida de um homem, mas as aceitam como e para o que elas são, e tentam fazê-las dignas de Esclarecimentos.

Não devem pensar que este mundo não tem significado e que está cheio de confusão, já que o mundo da Iluminação é cheio de significado e de paz. Devem, antes, experimentar o caminho da Iluminação em todas as coisas deste mundo.

Comentário: sunyata (vacuidade = ausência de dualidade, transcendência) é diferente de niilismo, uma vez que compaixão, bondade e sabedoria são virtudes da mente que busca a Iluminação.

Se um homem olhar o mundo com os olhos corrompidos e ofuscados pela ignorância, ele o verá cheio de erros, mas se olhar com a clara sabedoria, o verá como o próprio mundo da Iluminação.

O fato é que há apenas um mundo, não dois, um sem significado e o outro cheio de significado, ou um bom e o outro mau. Os homens levados por sua faculdade discriminadora, insistem em pensar que há dois mundos.

Se eles pudessem se livrar destas discriminações e conservar suas mentes puras, com a luz da sabedoria, então, poderiam ver apenas um único mundo, no qual tudo tem o seu significado.

Comentário: niilistas não passarão.

Os leigos devem purificar suas mentes de todo o orgulho e alimentar a humildade, a cortesia e a serventia. Suas mentes devem ser como a dadivosa terra que nutre tudo imparcialmente, que serve sem se queixar, que sofre pacientemente, que está sempre zelosa, que encontra a maior alegria em servir aos pobres, plantando em suas mentes as sementes do ensinamento de Buda.

Comentário: a terra nutre!

É errado pensar que os infortúnios vêm do leste ou do oeste, porque eles se originam na própria mente. Portanto, é tolice proteger-se contra os infortúnios vindos de fora e deixar descontrolada a mente.

Os "seis orifícios" que causam a perda da riqueza são os desejos pelas bebidas intoxicantes e tolo comportamento; estar acordado até altas horas da noite, desperdiçando a mente em frivolidade; viciar-se em espetáculos musicais e teatrais; jogar; associar-se às más companhias; negligenciar seus deveres.

Por outro lado, o homem não deve considerar o dinheiro que ganhou como totalmente seu. Parte deve ser compartilhada com os outros, outra parte deve ser economizada para qualquer emergência, outra parte deve ser separada para as necessidades da comunidade, sendo que algum dele deve ser dedicado às necessidades religiosas.

Sempre se deve lembrar que nada no mundo pode ser estritamente considerado como "meu". Tudo o que chega a uma pessoa vem movida pela combinação das causas e condições, ela pode conservá-lo apenas temporariamente e, portanto, não deve usá-lo de forma egóica ou para indignos propósitos.

Receberei cortesmente a todos, dar-lhes-ei o que precisarem, falarei afetuosamente com eles; considerarei as suas circunstâncias e não a minha conivência; tentarei beneficiá-los sem parcialidade.

Comentário: a pessoa é praticamente um fractal.

O ressentimento não pode ser satisfeito com ressentimento; somente pelo esquecimento se pode removê-lo.

Conclusão: se descemos à matéria como alma condicionada, ou foi para realizar uma missão, ou por ignorância mesmo dos caminhos do pós-morte. De qualquer maneira, aqui é onde as coisas se realizam, e o ensinamento do Buda é o mínimo que eu devo buscar para evitar o sofrimento da vida material, seja para me unir ao Buda no futuro, ou para concretizar realizações aqui mesmo.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

Para não se identificar aos pensamentos, e deixar a mente fluir: conselhos do Buda todo compaixão e bondade

Na cadeia de originação do sofrimento estudada no Budismo, upadana vem depois da ignorância e do desejo, e é o precursor deste ser (o ser condicionado na existência cíclica do samsara). A ignorância acerca da condição original da mente - que é luminosa e não-dual - reifica a percepção e faz com que surja o constructo sujeito-objeto. Isto permite que um sujeito logo deseje objetos. Ao se desejar, surge o apego aos objetos que temos conseguido ou, sobretudo, às sensações que estes objetos produzem, as quais são também pensamentos ou eventos mentais (o principal destes pensamentos é a crença numa identidade sólida à qual se aderem as sensações).


Um homem de mil anos atrás, e até mesmo um homem de 100 anos atrás não teria tantos problemas para manter a mente clara e relaxada, isto é, sem tantos desejos e apegos - já que não eram constantemente bombardeados por estímulos sensoriais que buscam capturar sua atenção. A publicidade, o entretenimento e a tecnologia digital são sempre potencial para encher o tanque de gasolina com mais upadana (=apego).

Ao simplesmente observar sem se distrair nem se apegar - deixando somente que os processos mentais surjam e se dissolvam em seu próprio tempo - com o tempo os pensamentos nebulosos e sutis se desvanecem e se dissipam no espaço da mente, a consciência do substrato. Os pensamentos ficam cada vez mais ligeiros, perdem seu poder sobre ti, e desaparecem. Se não te apegas,a mente por si só se curará e se dissolverá no substrato.

A mente do substrato é alaya vijnana, o terreno neutro do qual surge nossa experiência e nossa própria psique. Não temos na psicologia ocidental um termo equivalente, já que alaya é mais que a mente inconsciente, é também o repositório do karma de todas nossas vidas passadas, ou nossa continuidade mental. É também o espaço base no qual são codificados os outros planos do samsara na cosmologia budista: o mundo da forma (rupadhatu) e o mundo sem forma (arupadhatu), onde habitam os devas (em um estado de paz completa).
Existe um nível mais profundo da mente, ao menos para algumas escolas budistas, que é a consciência primordial, rigpa, inseparável do dharmakaya, a realidade absoluta.

As condições mentais das quais brotam o sofrimento e as enfermidades são acirradas pela reiteração de certa forma de pensar e se identificar com os pensamentos. A maneira pela qual nossa atenção é capturada pelas ideias que temos de nós mesmos é a raiz da maioria das enfermidades mentais. Se não subscrevemos à visão não dualista que separa a mente do corpo, então podemos afirmar que se apegar é o que nos faz doentes, e soltar é o que nos cura. O pensamento pode ser considerado como uma energia psicofísica, um tipo de combustível cujo canal deve se deixar correr sem obstrução. 

Traduzido e adaptado de: http://pijamasurf.com/2017/01/la_ciencia_interna_de_no_aferrarse_a_los_pensamientos_la_clave_de_la_salud_fisica_y_mental/

domingo, 8 de janeiro de 2017

Um trovador me perguntou:
"de onde vem o nosso impulso de sondar o espaço
e de pensar que eram os deuses astronautas?",
e eu respondi: do chakra coronário,
pois, como se sabe, o cérebro humano é composto por 3 níveis:
1. cérebro reptiliano, responsável por necessidades fisiológicas e instintivas;
2. cérebro límbico, presente nos mamíferos e responsável pelas emoções;
        3. néo-córtex, responsável pela cognição e linguagem - o que naturalmente eleva os primatas do estágio senciente para o consciente, inaugurando a busca metafísica pelo Mistério.
Faz-se comprovada, Cientificamente, a palavra do mais perfeito místico do nosso tempo, segundo a qual:
"vós sois deuses".

Características do movimento literário simbolista: ao qual deu contribuição Arthur Rimbaud

Binômino Revolução Industrial::Ciência materialista e racionalista.

Equanto a Revolução Industrial trazia grande contingente de operários às metrópoles,
intensificando o conteúdo de estímulos, a Ciência positivista passou a ser interpretada como mera
representação, isto é, desmitificada do ideal econômico da competição e progresso.

Ao mesmo tempo, o poeta simbolista buscava "transcender" a realidade através da inversão sintática e eliminação do discurso mas também da tradução em palavras dos sentimentos caóticos e inefáveis produzidos pela metrópole. O autor, para fugir do status-quo, intensifica a subjetividade de sua emoção.

E a lição que se conserva para a historiografia é que a literatura não deve ser 
utilizada como fonte historiográfica para um contexto histórico à medida que o poeta simbolista não descrevia o que vivia, mas sim o reconstruía.

Romantismo x Simbolismo

Romantismo: isolamento e repúdio do mundo, poesia como repositório sentimental
das frustrações do eu.

Simbolismo: repúdio intensificado expresso através do objeto ao qual o poeta
se apega para transmutar seus sentimentos inefáveis, ou que se alteram a todo momento na experiência: o intraduzível. 

Apego às paixões mundanas...apego a pensamentos fugazes...intranquilidade mental: loucura!

Minha opinião? Louvável esforço para ver o invisível e ouvir ouvir o inaudível. Embora não conheça a poesia de Rimbaud, me dá dor de cabeça só de pensar no esforço intelectual e sentimental que este infeliz homem galgou para colocar no papel suas inefáveis paixões humanas. Buda, tenha misericórdia!

Adaptado de: http://www.historia.ufpr.br/monografias/2010/1_sem_2010/resumos/luiz_henrique_bozzo_moreira.pdf

sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Sopro mercuriano
Há ciclos em que, sentindo-me abatido, digo
     "estou cansado de ser eu mesmo",
e isto não é por desgosto à vida nem ingratidão pela estabilidade de sólidas associações, mas sim que,
estando diariamente preso a situações e relações dentro de hierarquias, 
não vejo no horizonte cor alguma senão o mesmismo acinzentado de um ego-pessoa cuja máscara monótona se impõe dia após dia sobre mim, 
e me coloca estagnado - como proliferação de dengue na piscina infantil do meu ser.

Oxalá eu pudesse acordar como outro e todo dia me estranhar a mim mesmo no espelho.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

A Yoga nossa de cada dia me dai hoje, perdoai a minha indisciplina...

É incrível!: eu acordo pela manhã, pratico hatha yoga e não sinto nem mais fome, aquela acidez no estômago; e os pensamentos desanuviam: me sinto confiante e potente, contemplando-me no futuro pleno e capaz.

Sim, eu posso também ser feliz, e escrever felicidades, e de fato eu compartilho na presença de outros somente boas energias (quem me viu reclamar no pé do ouvido de alguém que atire a primeira pedra...!), mas a graça de escrever textos derrotistas ou pessimistas é que, se outros não podem saber o tamanho do meu sofrimento, então não tem porquê eu apenas compartilhar a alegria com eles.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

A crueldade como mecanismo orgânico de reprodução da vida é universal

Atualmente só estão contentes com o mundo tal como ele é os insensíveis e egoístas - quem ignora a fome, as guerras e as convulsões que ocorrem nas nações e com indivíduos de todas as posições na vida.

Corporações e banqueiros investidores, buscando riqueza e lucro, agem sem cautela com a saúde, felicidade ou bem-estar daqueles que trabalham para eles ou compram seus produtos.
Consumidores em todos os lugares comprando e jogando fora materiais de uma maneira que nosso planeta é tratado não só como uma festa open-bar mas também como um cesto de lixo.

Olhares fugidios expressam não a benevolência de corações humanos - pureza imaculada que sequer algum dia existiu aqui, mas sim a treva de espíritos perdidos em círculos mundanos de mania.
Procuro e encontro nestes rostos senão a cobiça, a lascívia e o egoísmo acobertados pelo véu nublado da carência, esta companheira íntima mas também tão inexplorada pelas almas caídas, que se estranham como seres sexuais subjugados pelo perpétuo vazio de uma existência sem propósito.

Sobre todas as grelhas de todas as churrasqueiras, em todas as celebrações e aniversários, a morte tem sabor arisco e aroma defumado.
Orifícios de prazer e necessidade são o canal e símbolo para a transubstanciação sodomita daquilo que tolos foram ensinados a chamar de amor.

Olho para cima, levanto minhas mãos aos céus e vejo senão na renúncia o caminho mais nobre para viver neste mundo material.

A alquimia amorosa de Jesus Cristo: espiritualizar a matéria e fazer do corpo luz

Uma doutrina de amor, e um ensinamento de ética e fraternidade

Cristo é uma divindade humana, acessível e inerente a todos. É um estado de consciência divina que transcende a história. O caminho que seguiu pode ser caracterizado como o do "bom pastor": uma doçura que fala aos homens a partir do coração e para a paz. Enquanto que anteriormente na história haviam aparecido mestres sob o arquétipo de rei-guerreiro, o conquistador da divindade toda-poderosa, mas terríveis e cruéis

Diz-se que é um arquétipo de divindade porque a alma coletiva da humanidade atravessa distintas etapas de evolução, e Cristo representa, em um só homem, o mais elevado estágio de desenvolvimento da humanidade como um todo.

O processo de maturação de Jesus, que culminou aos seus 30 anos, quando alcançou o estado de Cristo, é processo pelo qual passam atualmente todos os seres humanos. Esta maturação é o ponto de inflexão em que o homem recebe em sua alma "o espírito do cosmos", que consiste na noção de amar ao próximo, sacrificar-se pelos demais, anular o ego mas também cultivar os próprios talentos pessoais através da iniciação nos mistérios da alma.

A trajetória de Jesus em sua obtenção do estado de Cristo é um caminho intersubjetivo que consiste no processo de evolução espiritual de cada ser humano, em sua jornada desde a ignorância até a verdade, ou da escuridão até a luz. Cada buscador da verdade deve atravessar o mesmo caminho.

É como se nossa humanidade atual fosse um embrião espiritual, e Jesus aquele que exemplifica e propõe um caminho ideal . O Mestre é tanto a pessoa como o coletivo do futuro. Ele é nós depois de nos aperfeiçoarmos em certas limitações, que agora nos parecem difíceis de superar. Jesus é a humanidade, considerada individual ou coletivamente. Cristo é o poder redentor de Deus, é o Ser Supremo manifestando-se através e dentro da criação humana

Cristo é o filho do céu, e Jesus, o filho da Terra. Cristo representa o impulso de evolução espiritual que é designado como o "Messias Solar", isso porque sua essência é como o Sol, que ilumina o mundo e dá vida espiritual à alma humana. Da mesma maneira que a energia solar física nutre os corpos, a energia espiritual do Sol nutre as almas. Não é à toa que o nascimento de Jesus é colocado na mesta data do solstício.

O Evangelho diz que Jesus de Nazaré foi ao rio Jordão para ser batizado por João, e uma pomba desceu do céu sobre ele. Essa pomba é a influência solar, símbolo do espírito santo e do espírito do Sol que entrou em Jesus.

Quanto aos milagres, são fatos narrados que têm uma força simbólica e didática e que nutrem a fé interna do homem para que ele mesmo realize a obra da divindade na terra. Os místicos que têm experimentado seu próprio conceito da vida de Jesus não se perguntaram se Jesus viveu ou não, pois sabiam que Ele exemplificou um caminho de vida que leva à integridade espiritual. Ter fé em Jesus Cristo não se trata de provar sua existência e seus feitos, no sentido de uma investigação histórica que os refutem ou os afirmem; o místico participa do Mistério a partir de uma experiência pessoal.

O místico deve mover-se a partir da escuridão e aceitar sua ignorância se quiser acessar a luz. O entendimento é algo que resulta de um processo de dedicação, pelo qual resulta razoável ter fé e cultivar nossa mesma fé como uma possibilidade de percepção aguda daquilo que atualmente jaz invisível. Fé em que a dimensão moral e espiritual existe também em concordância com uma lei evolutiva de causa e efeito.

Sobre o nascimento imaculado de Jesus, e a sua crucificação

A representação que se faz nas imagens do cristianismo ortodoxo tem Jesus nascendo em uma caverna, e não em um estábulo. A Luz Divina (a semente) penetra o ventre da terra. Esta imagem mostra os elementos habituais dos protótipos bizantinos - Maria inclinando-se, o menino Jesus no centro, a montanha, a caverna dentro da montanha e a escuridão da caverna sendo atravessada pela luz celestial. Assim entendemos que esta ideia de Jesus e de outras divindades (como Osíris ou Quetzalcóatl) são os pontos nodais nos quais se une ou se faz tangível o matrimônio entre o céu e a terra.

Através da crucificação e da ressurreição se exemplifica que o espírito do homem não morre com o corpo, mas que para ser bem-sucedido em alcançar a Deus deve morrer completamente o que ata o homem ao mundo, tudo o que é perecível e corrupto.
Há dois tipos de morte, aqueles que morrem na carne, renascem na carne, porque, apesar de haverem deixado o mundo, o mundano não foi extirpado deles. 
Os poucos que foram a dormir na fé renascem do entre da fé ao ventre da luz. Esta morte que traz consigo o renascimento espiritual e permite ascender ao céu com um novo corpo radiante - a alma revestida das joias da pureza de seus atos.

Este é o ápice espiritual do mundo, que, nos dizem os mísiticos, Cristo faz disponível para nós: o tempo regressa à eternidade, o fragmento é reunido ao todo, a centelha se reintegra com a chama. A ressurreição que se prossegue imediatamente atesta o triunfo da alma humana.

A ideia de que Cristo (como essência ou sujeito universal) possuiu Jesus (o objeto que é preenchido pela divindade) consiste num princípio de transubstanciação que não está restringido a Jesus à medida que Ele o fez acessível a todos.

Deus é o eterno sujeito, e a humanidade é o objeto natural.

Temos então a experiência mística de sentir que uma essência humana superior vive em nós, uma essência que nos envolve no mesmo elemento que leva a alma de vida a vida, de encarnação a encarnação. Esta é a experiência mística de Cristo, que somente podemos ter através de um treinamento no amor, entregando-se à fé e ao amor, para nos deixarmos habitar pela divindade. 
Pode ser entendida como o exemplo perfeito da união entre sujeito e objeto, que é o propósito essencial do misticismo não somente cristão mas também budista, cabalista e de muitas outras tradições, a propósito de que esta união é a anulação da dualidade em sua raiz.

O espírito santo é consumado na alma vitoriosa, já que é na alma perfeita que Deus pronuncia sua palavra.

Creio que o Universo é uma Evolução.
Creio que a Evolução procede até o Espírito.
Creio que o Espírito é realizado na forma de uma personalidade.

Traduzido e adaptado de: http://cadenaaurea.com/2016/12/una-mirada-mistica-a-la-figura-de-jesucristo-o-la-divinidad-arquetipica-al-interior-del-ser-humano/

terça-feira, 3 de janeiro de 2017

Em 2017 serei próspero!

A prosperidade é mais uma das características místicas que dependem do potencial criativo de nossa consciência, em harmonia com a Divina Consciência.

A prosperidade é a verdadeira herança divina, no sentido de que o coitadismo oriundo de uma auto-piedade resignada, e complacente com a penúria não é característica do homem sábio.
A prosperidade é alcançada quando o indivíduo participa no fluxo da energia da prosperidade, recebendo de Deus mas também oferecendo aos outros, que estão todos sob a mesma situação diante do Divino. A gratidão é engrenagem no mecanismo de distribuição de prosperidade desde a Fonte até nossos irmãos humanos. Uma vez que os outros precisam dar, eu também devo ser digno para receber - e assim o fluxo mantém-se ativo.

Prosperidade é sinônimo de sucesso na vida, boa saúde e felicidade. Fartura e superávit são direitos meus, pois no Universo há abundância para todos.

Devo pensar o dinheiro como um meio para suprir temporariamente meu excedente, que eu manifesto em forma de bênçãos: talentos, energia, vigor, ideias criativas, capacidades ou conhecimentos especiais.

Quando eu for capaz de reconhecer o que me é excedente, por enquanto não em forma de dinheiro - mas bem capturado quando no trabalho voluntário doei a energia e felicidade que me eram excedentes aos assistidos nas Casas André Luiz - então poderei destinar a outros fins parte do excedente acumulado.

O que provém do Cósmico é infinito, e o fato de eu receber alguma coisa não significa que alguém sofrerá uma falta desta mesma coisa. Todos recebem de acordo com o que solicitam.

Riqueza não consiste somente em ter dinheiro, mas também em saúde, poder mental, alegria de viver e riqueza provinda de uma vida ajustada e gradativamente melhorada. Novas ideias, melhoria de negócios, emprego superior, melhores condições de moradia, companhia.