domingo, 14 de fevereiro de 2016

Resenha Dr. Núbor Orlando Facure - O cérebro e a mente. Uma conexão espiritual.

Nubor Orlando Facure. O Cérebro e a Mente. Uma conexão espiritual. São Paulo, Editora Fé, 2003.

Núbor Orlando Facure é médico com especialização em Neurologia, sendo o diretor do Instituto do Cérebro e Mente em Campinas. Pesquisador e expositor espírita, Dr. Nubor Facure desenvolveu pesquisas aliando Medicina ao conhecimento espírita. Em 1990 institucionalizou o primeiro curso de pós-graduação com enfoque espírita no Departamento de Neurologia da Unicamp. Dentre suas publicações estão títulos tais como Muito Além dos Neurônios, A Ciência da Alma – de Mesmer a Kardec  e Mediunidade, um ensaio clínico.

Sumário
A evolução do Cérebro, p. 17.
O Mapa do Desenvolvimento. Os Sistemas, p. 46.
O mapa do Desenvolvimento. As Funções, p. 49.
Reconhecendo a Mente, p. 67.
O Inconsciente Neurológico, p. 74.
O Cérebro e a Mediunidade, p. 82.
A Neurologia do Bem-Estar, p. 89.
Revelações da Alma, p. 98.
Psicognosia. O Reconhecimento da Alma, p. 107.
O Homem Mediúnico. Uma perspectiva para o Ser Humano no Futuro, p. 113.
Ciência e Espiritualidade, p. 135.
Doença Espiritual, p. 139.
Eventos Históricos na Pesquisa do Cérebro e da Mente, p. 153.

O objetivo do doutor Nubor neste livro é argumentar como a fenomenologia mediúnica que a doutrina espírita tem o privilégio de conseguir esclarecer em seus pormenores revela caminhos da espiritualidade que quais enriqueceriam a Medicina se esta tentasse compreender melhor a natureza de tais fenômenos. Para tanto questiona uma certa ciência materialista excessivamente positivista que resume a explicação do Corpo à fisiologia dos fenômenos orgânicos. Assim, por exemplo: a respiração equivale à troca de gases, a digestão à fermentação de substâncias, a vida ao metabolismo das células, o movimento à contração de músculos e as sensações aos impulsos nervosos que atingem o cérebro. Para tal vertente remanescente da Ciência Moderna do século XVII "Os neurônios com seu intrincado arranjo em redes neurais seriam argumentos suficientes para justificar todas as nossas aptidões que, em conjunto, constituiriam nossa mente." p. 66. Os conceitos agenciados para explicar a atividade dos neurônios neste paradigma seriam os da termodinâmica: a energia é trazida por substâncias que chegam até o cérebro pela circulação sanguínea: sangue - energia - neurônios - impulsos elétricos - trabalho mecânico de contração. Entretanto, se pensamos com mais ou menos vigor em vitórias ou conquistas o gasto de energia não é alterado. 

Nubor começa a desconstruir tal paradigma a partir das reviravoltas epistemológicas protagonizadas pela Física no século XX. Se o que se sabe sobre os átomos é o que se consegue registrar como ondas ou pacotes de energia utilizando-se de instrumentos que necessariamente distorcem o fenômeno a ser mensurado (princípio da incerteza de Heisenberg: se focamos em medir a posição do elétron necessariamente a precisão da medida da velocidade será afetada) então o paradigma de Galileu que postula para a ciência o estudo só daquilo que se possa ver, verbalizar, calcular, experimentar e prever mostra-se superado pelas inovações ontológicas da Filosofia e da Física Quântica. Segundo Nubor a consequência racional destas considerações é que "deve haver no Universo uma outra ordem de manifestações que nossos sentidos não conseguem registrar [...] pois a extensão dos fenômenos é limitada pela nossa capacidade mental de registrá-los. A limitação é nossa, não dos fenômenos." p. 68.

Percebam como no decorrer de todo o livro o cirurgião Dr. Nubor Orlando Facure demonstra conhecimento profundo da anatomia e fisiologia do cérebro bem como da dimensão espiritual, citando autores como Allan Kardec e Xico Xavier. Por motivos de texto muito extenso tive que me remeter a exemplos anatômicos e fisiológicos com economia, buscando no entanto deixar claro aos leitores vindos da Medicina como é bem fundamentado o ecletismo intelectual do autor.

O autor diferencia Religião de Espiritualidade. As religiões prescrevem crenças, dogmas, rituais, práticas litúrgicas e compromissos sociais com a instituição, onde geralmente é estabelecido um sistema hierárquico que distribui poderes em nome de Deus. Neste sentido a religião explora a espiritualidade que é intrínseca ao ser-humano. Jesus dizia "sois deuses".  O que há de comum entre Espiritualidade e Religião é que esta compartilha a relação transcendente do homem com Deus (uma forma suprema ou energia universal). A Religião entretanto pratica a veneração por aquilo que é tido como sagrado e geralmente nomeia falsos profetas que encabeçam guerras enquanto as manifestações fundamentalistas prosperam e a iluminação espiritual do homem mantém-se ainda distante no horizonte.

A vivência espiritual, por outro lado, é individual, subjetiva, particular e nem sempre pode ser verbalizada as outras pessoas. Ela deve ser vista como um atributo do indivíduo dentro de um conceito complexo e multidimensional. Para uns a espiritualidade manifesta-se ou é vivenciada em um momento de ganhos materiais prazerosos e tão simples como pisar na relva descalço ou no caminhar solitário pela noite. Para outros, será um momento de contemplação, de meditação, uma reflexão profunda sobre o sentido da vida, uma sensação de íntima conexão com o que pensa amar ou um contato psíquico com seres espirituais.

Os elementos de espiritualidade correspondem à prática, crença  e experiência espiritual. Prática consiste na meditação, contemplação ou culto religioso, e pode ser informal ou institucional. A crença consiste nas opiniões do indivíduo sobre a existência de Deus, na imortalidade da Alma, na possibilidade de vida após a morte e na existência de mundos espirituais para além do nosso conhecimento sensorial e intelectual. Experiência consiste no diálogo interior com Deus, o contato pessoal com o transcendente e sagrado, que pode acontecer durante experiências de quase morte, quando ocorre projeção da consciência para fora do corpo físico por outras dimensões.

Na intimidade das regiões mais basais do cérebro humano existe o Hipotálamo, que centraliza o comando das reações nervosas dos sistemas Simpático e Parassimpático. As reações de alarme correspondem à liberação generalizada de adrenalina, oferecendo ao organismo força e eficiência. São mediadas pelo sistema Simpático quando o indivíduo em situação de perigo precisa garantir força aos músculos, mais intenso fluxo de circulação de sangue, mais absorção de oxigênio, dilatação da pupila para ampliar a visão,etc. As reações de bem-estar têm atuação dos nervos Parassimpáticos e utilizam a acetilcolina como neurotransmissor de suas reações químicas para fazer o coração bater mais tranquilamente, reduzir a abertura das pupilas, causar o relaxamento dos músculos esmaecimento da atenção e da consciência. Nestas reações de bem-estar estão o tálamo e a glândula pineal como repertório anatômico das reações. O tálamo centraliza nossas percepções sensitivas. A meditação, portanto, deve atuar através do tálamo para nos desligar de todas as sensações hostis que nos provoca o ambiente exterior. A pineal,por sua vez, libera melatonina, que tem efeito relaxante sobre os músculos e tranquilizante sobre o sistema nervoso, produzindo sensação de êxtase. O grande desgaste experimentado pelo homem moderno ao invés de ser mascarado com medicamentos tranquilizantes do sistema nervoso "deverá ser corrigido com uma mudança radical no comportamento humano. As vias de acesso ao bem-estar estão claramente disponíveis em nosso cérebro." p. 94

Foi a partir de 1869 que o antropólogo e cirurgião francês Paul Brocá confirmou a especialização das áreas cerebrais no desempenho de cada uma de suas funções. Criou-se, assim, um novo campo de estudo, no qual se via, no cérebro, a justificativa de todos nossos movimentos, percepções, desempenhos, reações reflexas e até mesmo as aptidões psicológicas e as emoções. Firmou-se o conceito de que a mente seria mero produto imanente da complexa atividade cerebral. O dualismo Corpo-Alma deveria subjugar-se ao conceito moderno de interação cérebro-mente, no qual ambos seriam indissociáveis.

A Neurologia tradicional, segundo Nubor, é especializada em captar a expressão dos efeitos psíquicos, ou seja, identificar as distintas áreas do cérebro ativadas para dar conta dos diferentes estímulos.  Assim, o lobo frontal concentra as funções motoras e os movimentos voluntários; o lobo parietal é responsável pelo reconhecimento visual e tátil bem como pela integração dos diferentes sentidos. Tal reconhecimento processado no lobo parietal se fundamenta em conceitos de identificação que reúnem uma série de propriedades de um objeto e não apenas uma propriedade física em particular que nos estimulou por determinada e única via sensitiva; o lobo temporal está relacionado com a capacidade auditiva, com a aquisição de memórias, com certas percepções visuais, com a categorização de objetos, com a afetividade e com o comportamento sexual; o lobo occipital corresponde à visão e capacidade de enxergar no ambiente as cores, objetos, desenhos e palavras. 

É sabido que lesões ou malformações nestas áreas tendem a desencadear deficiências facilmente associáveis às áreas cerebrais. Assim, a lesão no lobo frontal é caracterizada por produzir dificuldade de sequenciamento nas ações e incapacidade de a pessoa perceber que errou no desempenho de tarefas.  Lesões no lobo parietal causam agnosia, quando o cérebro é incapaz de identificar o objeto visto ou tocado, bem como a apraxia causada por lesões que impedem o indivíduo de manipular objetos (por exemplo, fazer dobraduras de papel). Danos no lobo temporal provocam aumento ou decréscimo no desempenho sexual, incapacidade seletiva para certas coisas que se vê ou escuta, e comprometimento da memória de curto prazo bem como interferência na memória de longa duração. Já as lesões no lobo occipital causam perda da visão em uma área do campo visual, passando o indivíduo a enxergar apenas em um dos seus lados, além de estar sujeito a alucinações ou ilusões visuais.

Entretanto, para o neurologista Nubor Orlando Facure o conhecimento da fisiologia e das áreas do cérebro envolvidas nas aptidões não esgota o que há para saber sobre a mente. Esta visão localizacionista do cérebro acredita nos neurônios como elemento-chave explicativo da capacidade do homem de pensar. Este paradigma de estudo é suficiente para captar a expressão dos efeitos (áreas cerebrais ativadas) mas não as causas fundamentais dos fenômenos. O objetivo desta argumentação é afastar o entendimento do corpo de paradigmas mecanizados, ou seja, que se abandone a metáfora do corpo como relógio cujo mecanismo de engrenagens deve ser avaliado pela balança, pelo microscópio e pelo termômetro.

A Inteligência Artificial é um fato histórico que favorece o argumento de Nubor. Se os softwares são programas complexos elaborados a partir de uma linguagem limitada a 0 e 1, então necessariamente a rés cogitans de Descartes excede as limitações do rés extensa. O pensamento é livre e sua existência não pode ser questionada. Ao afirmar "penso, logo existo" então estabelece um princípio dualista, ao consolidar-se um mundo espiritual, independente do mundo físico que o materializa. Se por um lado o localizacionismo desde 1869 favoreceu o estudo físico, a  Doutrina Espírita de Allan Kardec iluminou a dimensão espiritual do ser-humano.

O estudo do cérebro e mente não pode se comprometer por omissão deixando de acrescentar um certo grupo de atividades que consiste em fenômenos mentais, comprovados experimentalmente, mas que ainda permanecem à margem dos estudos clássicos da neurologia. Entre eles estão a visão e audição a distância, a premonição (antecipação de acontecimentos futuros); a xenoglossia (capacidade de falar em uma língua desconhecida pela pessoa); a psicometria (leitura mediúna, com as mãos, de qualquer objeto, revelando seus antigos proprietários); e o desdobramento do corpo espiritual. Para Nubor, estamos presos à realidade física que nos limita e portanto "não poderemos jamais explicar a fisiologia dessas aptidões. Todas elas estão ligadas a uma capacidade da Alma que utiliza também o cérebro, mas transcende sua fisiologia." p. 97

A chave para estes fenômenos reside no Espírito e na consideração da mente como Alma, ou seja, elemento que sobrevive independentemente do corpo como individualidade personificada. Nesta perspectiva a mente é princípio gerador e impulsionador das faculdades, atuando como causa das funções do cérebro e não como efeito do seu funcionamento coordenado e orgânico. Nubor conceitua a mente como energia primitiva fragmentária do pensamento de Deus e provedora da Força Espiritual da Alma como alimento do pensamento, uma espécie de Energia psíquica impossível ser contabilizada em termos termodinâmicos.

No século XVIII o famoso magnetizador Frans Anton Mesmer deixa de lado a anatomia e fisiologia para experimentar o elemento imaterial do magnetismo e da sugestão como produtores de transe hipnótico e estado de sonambulismo. Mesmer defendeu em sua tese de doutorado a existência de um elemento imaterial de fluido magnético possível de ser transferido de uma pessoa para outra através da sugestão.  É sabido que no estado hipnótico as faculdades psíquicas do paciente podem ser exaltadas e o indivíduo demonstra aptidões que não tem quando desperto.  Além disso, suas funções fisiológicas são modificadas a tal ponto que se tem a impressão de se tratar de um corpo anatomicamente diferente de seu corpo físico. A hipnose como técnica terapêutica voltada para a mente imaterial revelou-se útil no tratamento de pacientes portadores de histeria. Nestas práticas o postulado fundamental é a atuação (não domínio) de um indivíduo sobre o outro através da mente. Durante o desprendimento sonambúlico produz-se modificações caprichosas na fisiologia do sistema nervoso. O paciente pode confirmar que está vendo letras escritas num papel atrás de suas costas. Esse quadro atípico de comprometimento sensitivo não ocorre nas patologias clássicas do cérebro físico. É o corpo mental que nos revela assim sua fisiologia e seus transtornos.

A partir de Mesmer e seus seguidores estava fortalecida a possibilidade de estudar as manifestações da alma do ser humano. O nome de Sigmund Freud ganhou notoriedade ao considerar uma estrutura para a mente psíquica independente da mente fisiológica: o Id, o Ego e Superego constroem nosso aparelho psíquico. Segundo Nubor a inovação de Freud consiste em  "Seu diálogo terapêutico baseado na livre associação, na análise dos sonhos, no significado dos atos falhos e na regressão aos fatos e conflitos da infância. Freud põe a descoberto a grande realidade do inconsciente, no qual cada um de nós faz submergir os desejos não manifestos, reprimidos pela censura do consciente." p. 124

Alguns seres humanos são capazes de entrar em sintonia com os espíritos desencarnados que têm intencionalidade e vontade. Através do transe sonambúlico da hipnosemeditação auto-induzida ou em sonho, estados alterados de consciência em que a pessoa funciona em diferente frequência mental (como um botão que sintoniza a frequência do rádio) o perispírito (energia de criação divina)  desprende-se do corpo, permanecendo ligado a ele por um cordão fluídico,  e paira no mundo espiritual onde passa a se relacionar com os espíritos.´



No que se refere ao trânsito em domínios espirituais, cada um de nós só pode circular na faixa vibratória que lhe é própria, não tendo acesso aos níveis superiores, onde habitam espíritos em grau de evolução superior ao nosso. Ensinam os espíritos que para eles o tempo é apenas o presente. Aqueles que desfrutam de condições que sua evolução espiritual permite podem circular pelo nosso passado ou futuro sem dificuldade. Os Espíritos superiores são como a pessoa que se situa no topo de um prédio e vê com amplitude as pessoas nas ruas. O mundo espiritual deve ser considerado em diversos planos de realidade. Para Nubor essa imagem "pode ter alguma coisa a ver com os Universos paralelos que a Física começa a descortinar." p. 104

No momento do sono, a Alma se afasta do corpo e, cada um de nós, passa a vivenciar o mundo espiritual com mais liberdade. Estaremos sempre presos aos níveis vibratórios que nossa evolução espiritual nos permite circular. Sendo o mundo espiritual habitado pelos Espíritos desencarnados, não é de se estranhar que eles possam, de alguma forma, participar conosco da experiência vivida durante o sono. Podemos receber sugestões com boas ou más influências.

De natureza semimaterial o perispírito acompanha as aparências do corpo físico e é extremamente sensível às modificações que a mente pode lhe impor. O perispírito assume a forma que o Pensamento lhe impuser, isto é, as imagens mentais e ideogramas de bem e mal fixam-se na mente. Segundo Nubor os fluidos espirituais em nossa volta "imprimem as formas que nossos pensamentos constroem por força dos desejos que cultivamos com intensidade." p. 131

Num questionário dirigido aos Espíritos, Allan Kardec recebeu as revelações de uma doutrina que posicionava definitivamente a origem da vida, a natureza do ser humano, o significado do seu sofrimento e o destino que o futuro lhes reserva. Do ponto de vista Espiritual, somos Espíritos Imortais que ocupam corpo físico para progresso e desenvolvimento espiritual. A codificação do Espiritismo ensina  viver significa estar sujeito à evolução,ou seja, neste e noutros mundos o Princípio espiritual estagia no mineral, na planta e nos animais. Enquanto Darwin demonstra a evolução biológica a partir de uma origem comum e seleção das características positivas pelo meio ambiente, Kardec demonstra o caminho do Espírito através da intercomunicação entre os diferentes planos do Universo.

A constatação do fenômeno espiritual pelos paradigmas do Kardecismo como uma nova ciência identifica o Homem mediúnico como aquele capaz de dar-se conta de que sua experiência psíquica ultrapassa a realidade limitada pela experiência que os sentidos o permitem perceber. O homem mediúnico difere do homem comum pois este tem sentidos grosseiros que não o permitem perceber o mundo espiritual em sua plenitude. Tornar-se um médium inclui a orquestração de uma parceria entre pessoa e espírito cujo resultado é a transmissão dos pensamentos e ideias do espírito através do médium, que deve afastar  parcialmente seu perispírito do seu corpo para permitir maior aproximação do espírito. Nesse processo a comunicação é sempre poluída por ruído decorrente do próprio cérebro do médium,  o que causa interferência na tradução da mensagem original. Tal interferência deve ser vencida pelo treinamento e capacitação mediúnico. A mediunidade acontece quando as portas da morte não isolam mais os mundos e há comunicação corriqueira entre nós e o outro lado da vida.

A Doutrina Espírita explica que os Espíritos participam de nossos mais íntimos pensamentos e, com frequência, envolvem-se em nossos acertos e erros durante toda nossa vida. Através da aptidão da mediunidade determinadas pessoas têm a capacidade de entrar em sintonia com os espíritos desencarnados e receber ostensivamente sua comunicação,  Nubor afirma que com a sensibilidade do Homem mediúnico "poderemos ampliar os horizontes da humanidade, com maior participação no desenvolvimento da vida neste Planeta."

Com as inovações da Doutrina Espírita Nubor afirma que "A Anatomia tem que acrescentar agora o corpo espiritual e suas relações com o mundo espiritual. A fisiologia é forçada a entender o Espírito como agente direto dos fenômenos vitais e a patologia tem que considerar as construções que o pensamento materializa no campo de ação do corpo espiritual e seus desdobramentos na auto-obsessão."  p. 131

Freud, ao desbravar o inconsciente independente de bases anatômicas expôs o universo interior da nossa mente.Parece até um contra-senso imaginar que a psicanálise tenha estudado tão profundamente as estruturas da mente humana, sem se aperceber de que esse conjunto de elementos pudesse compor uma individualidade personificada, que sobrevive independentemente do corpo físico. O reconhecimento de que a Alma é imortal possibilita a realização da psicognosia, isto é, um reconhecimento da nossa alma em que se evidencia em nossa memória espiritual habilidades, tendências, virtudes e aptidões não aprendidos na vida atual. Nossa mente é expressão de nossa Alma imortal cujo espírito corporifica-se embora não se mostre por inteiro. Por ser imortal a Alma completa em cada vida atual um mosaico das múltiplas personalidades que representou nos palcos da vida através das reencarnações. 

Nubor adiciona ao final desta convincente argumentação o papel do espiritismo, que é o de ampliar diagnósticos. Busca-se a cura pelo espiritismo através da reeducação espiritual que estabelece a renovação e crescimento pessoal a partir das doenças. O fator espiritual aparece como causa da doença ou como fator benéfico para a cura.

Com uma erudição despretensiosa e fácil de ser compreendida por leigos Núbor nota que uma neuropsicologia sem alma está fadada a incorrer em anacronismos paradigmáticos. Se na Física, o átomo, em termos materiais, está cedendo lugar aos pacotes de energias ondulatórias, então o limite entre o físico e o imaterial perdeu-se, diante da impossibilidade de fixar-se uma realidade estável. Segundo Núbor as ciências da psiquê  "devem admitir uma energia controladora de nossos impulsos mentais" p. 109 para que se evidencie a origem espiritual do homem.

Para além da Filosofia, é fato que os pacientes geralmente tendem a aceitar o diálogo entre espiritualidade e a Ciência Positivista. O paciente corre em busca de tratamento médico-hospitalar mas também frequenta centros espirituais. Todo paciente guarda sua crença individual e intransferível em Deus, na Alma imortal,etc; realiza também sua prática religiosa, com assiduidade maior ou menor na execução prática das lições espirituais que aprende; tem também suas próprias experiências transcendentais episódicas e frequentemente traumáticas: visões ardentes e experiências de projeção astral que traduzem desdobramento do corpo espiritual.

Por fim Nubor apresenta o princípio da doença espiritual capazes de serem alvo do diagnóstico espírita. O pensamento é força criadora proveniente do Espírito que o impulsiona. A energia mental que o pensamento exterioriza exerce total influência no corpo espiritual, modificando sua forma, aparência e consistente. Por isso, afirma o autor, é que Allan Kardec "afirmou que se situa no perispírito a verdadeira causa de muitas doenças e a Medicina teria muito a ganhar quando compreendesse melhor sua natureza."(grifos meus) p. 143 Do ponto de vista espiritual "só tem saúde aquele que ainda não foi examinado", ou seja, se estamos no Planeta é porque somos endividados e comprometidos com os resgates e reencarnações que nos impedem de dizer que não temos doenças espirituais.

O tratamento de doenças espirituais consiste na reeducação do espírito através da reforma interior demandante de esforço, disciplina e dedicação. O médico não está ali para controlar a doença de quem o procura, mas sim para desempenhar o papel de orientador seguro. No processo de tratamento acontece a leitura do evangelho destituída de misticismo vulgar ou crenças superficiais. A fisiopatologia das doenças espirituais proposta pelo Dr. Núbor é a seguinte:


  • Desequilíbrio vibratório: desajuste na conexão e comunicação entre perispírito e corpo físico causada por pensamentos humanos imersos em mesquinharia e maldizer, blasfemas que impedem a sintonia vibratório propícia às manifestações dos fluidos espirituais pelo ser humano.
  • Doenças de auto-obsessão: o Pensamento adquire energia pois utiliza fluido cósmico Universal para criar em torno de nós  uma psicosfera (atmosfera psíquica) que representa nossos desejos. A auto-obsessão acontece quando somos escravizados por caprichos, falta de confiança em nós mesmos e reprodução de padrões de pensamento nocivos ao nosso bem-estar.
  • Vampirismo: segundo Allan Kardec o número de espíritos que habita nas proximidades dos ambientes terrestres é de 4 ou 5x a população atual de 6 bilhões de pessoas. Se podemos contar com sua guia e proteção, também estamos vulneráveis às intencionalidades espirituais que nós atraímos pelos vícios e que nos aprisionam pelo prazer. As entidades espirituais viciadas compartilham os prazeres do vício que o encarnado lhes favorece. A mente do responsável agrega em torno de si elementos fluídicos que aos poucos vão construindo miasmas psíquicos com capacidade corrosiva. O viciado, dependente químico, abusador sexual é estimulado pelos espíritos a permanecer no vício e perde muita energia.
  • Obsessão: na vida se operam encontros e desencontros com parceiros, sócios, cônjuges, pais e mãe, ettc para que resgatemos os compromissos que deixamos para trás. Criaturas humanas exigentes exercem domínio sobre nossas dívidas dificultando nossa ascensão a estágios espirituais elevados. Núbor menciona a obsessão simples, a fascinação e a possessão. Não devemos entender tais obsessões como um castigo ou punição da vida, mas sim como a possibilidade de recuperação de danos físicos e morais ocorridos nos passado.
  • Mediunidade: familiaridade na comunicação espiritual. Às vezes se passa sem que o médium se dê conte de que aquilo que percebe e escuta são comunicações espirituais raras não compartilhadas por todos. Há ainda o médium atordoado pela insegurança de se perceber diferente daqueles com quem convive; ou ainda o médium atormentado e vulnerável à ação de espíritos maliciosos.
  • Doenças cármicas: quando descuidamos de nosso corpo ou desequilibramos o próximo física ou espiritualmente imprimimos estes mesmos desajustes nas células do corpo espiritual que nos serve. As manifestações de doença que se seguem deve, ser vistas como oportunidades de resgate para que nos dediquemos a esclarecer a doença de forma ativa e não-resignada através da descoberta interior.



Nenhum comentário:

Postar um comentário