domingo, 20 de novembro de 2016

A carta que meu pai nunca me escreveu

Para estar contente, vai à feira aos Domingos. 

Toma cerveja no bar do português e conversa com ele sobre tua mocidade, e teu passado que ele sabe bem.
Enche teu copo para beber com os homens que saíram de seus lares pela manhã, e também bebem e conversam naturalmente - e aprende que voz e palavras com sentido que saem de suas bocas são tão naturais apenas quanto o próprio som que os pássaros piam.  (...) o homem atarracado, de barriga, que come ovo cozido.

Respira e ri com o português seu riso grasnado, mas não se apega à conversa, não leva a sério nem eles nem a Vida, pois assim como a conversa ao balcão, o Domingo também é um passatempo - passatempo dentro da Vida, o próprio passatempo de Deus que, querendo ser e existir, criou-nos com a mesma substância de seu pensamento.

Trabalha e goza, filho. Confia em quem te estende a mão, e fica seguro em ti mesmo. 
Desce à avenida e anda pelo calçadão entremeado de gentes, corpos de pele quente que se remexem e luzem sob o Sol que doura as frutas empilhadas, todas elas em todas as cores e sabores. Come pastel especial, robusto e nutritivo, come da boa comida e faz existir no teu corpo aquela opulência da virilidade que só os homens conhecem, e bota muita, muita pimenta, para te lembrares sempre de que a vida é intensa.

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