sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Para que se goze, é imprescindível a movimentação do dinheiro, esta ferramenta reconhecida por impôr a vontade de um homem no mundo exterior, capaz de mudar o arranjo de pessoas ou objetos e por isso considerada por respeitáveis pensadores como instrumento conciliador da liberdade individual.
Mas quando se vive constrangido pelas estruturas de uma sociedade capitalista terceiro-mundista, o pior não é ter de converter as horas do meu próprio dia em um ordenado que baste para realização dos meus desejos, mas sim querer trabalhar e não encontrar patrão disposto a me submeter.

Sentindo-me seco, desorientado e humilhado eu escrevo sem amparo estas considerações ao entardecer, porque já não posso dormir mais. Diminuído, porque a expressão dos meus sentimentos é cotidianamente constrangida; e resignado, porque sinto ser esta a sina da minha alma sentimental. 

Sim, é assim. Já que minha timidez para a vida sempre me impediu de expressar no mundo a vontade do meu ego reprimido, eu assumi como única alternativa a nutrição da ficção e do sentimento. Ficção para histórias de amor, e sentimento como alternativa para conseguir, sem luxúria, o que a minha volúpia rala falhou em me conceder. (Não repugno a luxúria por fator moral, e sim porque não sei cumprir com seus desígnios). Mas o próprio sentimento me trai, pois a cada dia fica mais claro que a afecção, quando é muita, sobra.

Estas mãos que agora digitam são movimentadas por um espírito de tipo raro que nunca foi capaz de tocar a realidade nem sequer com a ponta dos dedos. Solícito e complacente, porque impotente e passivo. Nunca teve os culhões para tomar para si uma mulher, e se gozou, foi menos para se satisfazer a si próprio que para ser caridoso e realizar sua necessidade servil de agradar. 

Aqui jaz uma pessoa que participou da vida somente como intermédio, nunca como fim.

Não tenho tempo para escrever ficção, e se me absorvo perscrutando em palavras as chagas da minha maledicência é porque este é meu dever como ego. Se entretanto eu fosse mesmo guiado por forças da luz, e não por demônios corruptores, eu estaria escrevendo bens-dizeres sobre minha personalidade - atividade para a qual me falta o ímpeto ou amor próprio. Se eu fosse coerente com tudo o que aprendo de mais digno nas casas de espiritualidade, não me qualificaria pela negativa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário