sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Sinfonia do Desalento

É este o momento da noite em que eu declaro a neutralidade de todas as sensações: a depressão me satisfaz tanto quanto a realidade mais sublime.

Não há nada a ser buscado lá fora.
... pulsantes, queimam as palavras não ditas de todas as paixões,
e eu não seria ninguém sem minhas amizades.

Vendi meu amor para comprar uma rocha negra mais um punhado de carvão.

Por qualquer lugar que eu ande, ainda não encontrei nenhum inimigo tão elevado quanto o próprio medo; mas como um homem eu prefiro admitir o susto e sofrer o baque com lucidez, a enganar a mim próprio sem reconhecer (...).

O ritmo da respiração confere sabor autêntico a qualquer situação, embora a esperança esteja sempre arqueada sobre as asas de um desejo...

Quem passa a madrugada em claro, escrevendo, abdica da vida pelo sonho - mas nunca dormirá. Escrever é fixar sensações num papel, e se os pensamentos fluem pelo leito da mente desimpedidos, um arco-íris forma-se na queda d'água.

Pobres diabos de caráter rasteiro!, reféns das energias as mais primitivas, elevam o olhar franzido para o céu e se entregam aos hábitos mais básicos, presos por ondas de libido a corpos feitos para as sensações.

Aperte o botão - receba um orgasmo.
O pavor reclama,
vazios de propriedade, corpos entrelaçados transpiram as últimas mágoas da ilusão.
Quem sou eu, que nunca sei? O que sei eu, que nunca sou...?

Há uma distinção entre estimar e pagar pau, mas este talento que tem o poeta para transpor em palavras o âmago do seu íntimo não serve senão às estrelas...
A jóia muito brilhante ofuscou os olhos do próprio ourives.

Lá fora, o latido dos cachorros; e chega do céu um ruído onipresente. O vulto negro encobre a Lua.

Não há mais cavalos brancos para você montar, e toda a mentira anda de mãos dadas com justiça.

... na chaga da imperfeição o pus fermenta, fétido.

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